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Platão

O que é

A obra de Platão é marcada pela distinção entre o mundo suprassensível, das Ideias essenciais, e o mundo sensível, compreendido pelo mundo dos fenômenos, a experiência ordinária, a aparência das coisas.
A dialética é tida como o movimento através do qual a alma se eleva progressivamente das aparências sensíveis. Do mundo da opinião (doxa) às ideias. Pela formulação das hipóteses, o homem, a partir do particular, alcança a compreensão racional da universalidade das coisas.
A dialética ascendente conduz à contemplação intelectual da ideia de “bem” – que escapa a toda definição. Pode ser tida como o divino, o princípio supremo, superior à existência e à essência.
A noção de virtude, por sua vez, designa essa participação no verdadeiro conhecimento. Para o mundo grego, é um princípio de excelência. Denota prudência, coragem, temperança e justiça.
A justiça introduz a ordem e destina um lugar para as forças interiores de cada um. No Estado, a Justiça designa o fato de que cada classe executa a sua tarefa e a sua função, dando uma ordem entre as diferentes classes e forças presentes no interior do Estado.

Origem do nome

Platão (428/427 a.C.-348/347 a.C.) é um pseudônimo que significa “ombros largos”. Seu real nome próprio na Grécia Antiga era Aristócles Podros.

Criação

O pensamento e a obra de Platão podem ser vistos como um elogio à razão. Em Platão a sistematização filosófica encontra um método, a dialética, capaz de estabelecer a relação na dualidade do mundo, entre o mundo sensível e o mundo suprassensível. 

A dialética se converte na ciência suprema (em oposição à doxa), versando sobre o inteligível, e estabelecendo um vínculo entre os graus do conhecimento e os graus do ser. É pela ideia de episteme que a verdade se torna possível. 

O percurso dialético é o meio que compreende a passagem da sensibilidade para as ideias, em que o conhecimento racional discursivo (dianoia), o conhecimento hipotético, permite alcançar uma intuição intelectual (noiesis).

A hierarquia entre as ideias faz parte dessa ascensão do conhecimento em busca da verdade, em que uma Ideia leva a outra Ideia, até se chegar a uma Ideia em um grau superior. Essa Ideia suprema, a Ideia de Bem, é o princípio que faz verdadeiramente inteligível as demais Ideias. 

Decorrem dessa relação entre as Ideias a própria Ideia de justiça, de bem e de verdade, com consequências para a formulação política de Platão para a pólis grega.

A Ideia de hierarquia entre os homens como hierarquia da sabedoria e do poder se desdobra em uma compreensão de divisão estamental da sociedade e de uma educação adequada a ela.

Histórico

Ambição política

O pensamento de Platão faz parte do contexto dos governantes de Atenas da Grécia Antiga. A ideia de democracia na pólis é uma tentativa de tornar a filosofia íntima aos assuntos práticos dos cidadãos.

Discípulo de Sócrates

Algumas interpretações históricas sugerem que Platão foi testemunha da morte de Sócrates, de quem foi discípulo, durante o regime democrático ateniense, no ano de 399 a.C. Temendo pela própria vida, abandonou Atenas e a Academia, e depois viajou para a Sicília e outras cidades do Mediterrâneo.

A Academia de Platão

Em 387 a.C., Platão fundou em Atenas a Academia, que pode ser considerada a primeira “instituição” e a primeira “universidade” europeia. Lá se oferecia um amplo plano de estudos, incluindo temas de astronomia, biologia, matemáticas, política e filosofia.

Participação na política

Teve a intenção de conjugar a filosofia com as reformas políticas. Três viagens principais à Sicília tornaram-se intentos fracassados: primeiro, no ano de 388 a.C., quando teve discordâncias com Dionísio; depois, em 367 a.C. para converter-se no tutor do novo tirano de Siracusa, sob o mandado de Dionísio II, e posteriormente, no ano de 361 a.C., com dois de seus alunos, Espeusipo e Xenócrates, retornando em 360 a.C., após a Sicília ser conquistada pelos cartagineses.

Herança para toda a história da filosofia

Platão faleceu em Atenas, com cerca de 80 anos, possivelmente no ano de 348 ou 347 a.C. Seu legado é indiscutível e presente na obra de praticamente toda a filosofia que lhe foi posterior. É considerado, ao lado de Aristóteles, as duas grandes chaves de interpretação filosófica da metafísica.

Atualidade

Ciência global

Trata-se de um pensamento que procura ser um sistema de conhecimento global do saber humano. A filosofia de Aristóteles é um prenúncio do saber enciclopédico, formato que está presente até os dias atuais.

Teoria, práxis

A divisão entre ciências teóricas e ciências, além do fato de que elas possuem um tipo de relação, não só influenciou o pensamento filosófico, como em Karl Marx (1818-1873), mas também o cotidiano das pessoas.

Legados para as ciências

É inegável que várias das descobertas aristotélica perduraram. Embora algumas teorias tenham ficado datadas, como a teoria do céu, que durou até a época da Renascença, assim como a sua física elementarista (água, ar, terra e fogo) se estenderam até o século 19, restam ainda vários dos aspectos no campo da psicologia, que ainda não foram contraditos pelas ciências modernas. Por exemplo, a localização precisa da ideia de alma e de intelecto, a distinção entre as faculdades e os órgãos, etc. Além disso, com exceção da física quântica, a ideia da causa motriz ainda é utilizada para explicar muitos dos fenômenos pela observação científica do real, ou ainda as representações empíricas do domínio do vivo.

O específico do homem

O princípio de racionalidade tem um princípio de vitalidade, que modifica nossa postura frente à natureza, como se unisse um sentido elevado e ideal à existência biológica. Uma sociedade dirigida pela parte racional da alma é capaz de construir relações mais duradouras entre os homens do que em uma sociedade em que todos estejam à mercê da parte concupiscente da alma.

Educação para cidadania

Essa compreensão está presente até os dias de hoje, em que a figura do Estado é responsável por dar uma educação universal a todos, a partir de virtudes cívicas para o bom funcionamento da pólis.

Fundamentos

Dualismo metafísico

Há uma dualidade ontológica e gnoseológica fundamental: 1) o mundo inteligível, o mundo do autêntico ser, da unidade, da imutabilidade, das ideias, da essência, da ciência (episteme); 2) o mundo da percepção humana, ou o mundo da aparência; da multiplicidade, da mudança, da imagem, da ilusão, da corrupção, e da opinião (doxa).

Mundo das Ideias

São as essências eidéticas do mundo inteligível. Só o mundo das ideias é real, porque têm uma existência independente. Cada ideia é uma “substância”, uma realidade transcendente, em que a realidade do mundo sensível é apenas uma participação no mundo inteligível. A ideia de beleza é aquilo pelo qual as coisas são belas. Cada Ideia é única, eterna, imutável, atópica e acrônica. Uma ideia pode participar da outra, em uma comunicação (koinonia) e combinação (symploké). E a relação de uma ideia com a experiência cotidiana pode ser dada pela imitação, pela mimésis que o sensível tem do inteligível.

A alma

Platão distingue o corpo (soma) da alma (psyché). Ela é o intermédio entre os dois mundos, o autêntico e verdadeiro do homem. A eternidade e a imortalidade da alma são a essência e o fundamento do conhecimento humano enquanto pertence ao mundo das ideias. Platão estabelece uma divisão tripartite da alma, em que para cada parte corresponde uma virtude cardinal: a virtude do racional é a prudência, do irascível é a fortaleza, e da concupiscência é a temperança. Porém, a principal virtude é a justiça, que nasce quando uma das partes da alma cumpre a sua tarefa.

O amor

O amor é também uma das formas pela qual o homem tem acesso ao inteligível. É um meio, uma dialética passional de ascender às ideias, das coisas sensíveis ao belo. O famoso “amor platônico” consiste nessa ascensão à beleza, em trechos que pode ser conferido no Fedro e no Banquete. O amor é o filósofo, e a razão dele é esta afinidade da alma com as ideias.

A reminiscência e a maiêutica

No diálogo Menon, e depois no Fedon e em Fedro, surge o tema de que aprender e conhecer é recordar. A consequência é que a compreensão de educação para Platão está na capacidade de se chegar às verdades últimas como algo inato a todos os homens. É nessa chave que entendemos a inscrição de Apolo aos Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”, em que esse conhecer é encontrar em si mesmo o que já foi conhecido. A maiêutica socrática, da qual trata Platão, é o modo como Sócrates conduz seus interlocutores a descobrir a si mesmos, a tomar consciência de suas riquezas implícitas. Pelo diálogo e a maiêutica o exercício filosófico consiste em revelar esse conteúdo secreto, organizando-o pela razão.

A dialética

A dialética é a noção de unidade entre os opostos. É o procedimento que permite aceder do sensível ao suprassensível por etapa, de hipótese em hipótese. Partindo do conteúdo concreto, pode encontrar uma definição abstrata de algo, e por sua vez a determinação de outras coisas. Ela parte de uma espécie, o seu aspecto (eidos), para uma determinação superior (gênero), que contém tanto a definição da espécie como o seu oposto.

Platão chama de dialética também o conhecimento das relações entre as ideias (symploké), determinando, definindo e passando de uma à outra, assumindo a interdependência das determinações. Nesse procedimento dialético, seria possível chegar a uma determinação última e definitiva, ascendendo (synagogé, anairein) a um último acesso. Seria o ente, a ideia de todas as ideias, como a ideia do Bem. Haveria, assim, uma dialética ascendente, que se eleva de ideia a ideia, eliminando todas as hipóteses, até chegar a ideia de Bem. Nela, do múltiplo se chega ao uno, descobrindo-se o princípio de cada coisa.

É a dialética que Sócrates usa em seus diálogos morais. Haveria também uma dialética descendente (diaíresis), que trata de desenvolver, mediante o poder da razão, as diferentes consequências daquele princípio, porém sem uma hipótese, e sim tentando reconstruir todas as Ideias sem recorrer à experiência. É através dessa dialética que Platão constitui a verdadeira filosofia, ou filosofia acadêmica, sistematizando o método filosófico.

Crítica à democracia

Platão desenvolve uma crítica ao regime democrático, compreendendo-o como não governável. Seu argumento se baseia na relação entre saber e poder com as multidões, produzindo ao final um sistema político na desordem, conduzindo à tirania e à imoralidade de cada um. A multidão (hoi polloi) é assimilável por natureza a um escravo com suas paixões e interesses passageiros, sensível à adulação e incapaz da reflexão justa e rigorosa. Quando a multidão elege seus magistrados, ela o faz em vista de suas qualidades oratórias, inferindo do discurso as suas capacidades políticas. A dinâmica das assembleias não levaria senão a uma disputa entre opiniões subjetivas inconsistentes, rebaixando a qualidade da tomada de decisões no regime político.

As classes sociais e a cidadania

A teoria política de Platão está intimamente ligada à sua teoria da alma. Assim, haveria três tipos de homens, igual às três partes da alma:

1) os filósofos (ouro), que representam a sabedoria do estamento educador e governante, são a parte racional da alma, cuja virtude é a prudência;

2) os guardiães (prata), com a missão de defender a cidade e prestar ajuda aos governantes, são a parte irracional da alma, tendo como virtude a fortaleza;

3) os trabalhadores manuais (ferro), encarregados de satisfazer as necessidades primárias dos habitantes da cidade, com a virtude da temperança, e equivalendo à parte concupiscente da alma.

Cada um desses estamentos da cidade realiza sua tarefa, cumprindo a virtude da justiça, ao culminar e sintetizar as demais virtudes. A cidade não estará formada por uma população homogênea, mas por classes distintas. Coabitadas, realizam um tipo de perfeição nessa hierarquia unificada, formando uma unidade política e moral. Essa teoria que une as diferenças naturais entre os homens é transmitida à posteridade como um exemplar aristocrático do bom governo.

A uma educação para a pólis o tema ético está ligado ao gnoseológico. A verdade e a justiça são só dois grandes temas que aparecem nos diálogos de Platão: só o sábio pode ser bom e justo. O sábio pode ser virtuoso e feliz porque distingue as coisas boas daquelas que são ruins, e só eles podem dirigir um Estado igualmente justo, construindo uma sociedade harmônica, justa e feliz. A educação está destinada a formar uma elite intelectual.

Na prática

Encontramos alguns traços na prática do platonismo:

O idealismo e a paixão: encontramos sempre a presença do Ideal que coordena a experiência. A noção de “paixão idealizante”, por mais paradoxal que possa ser, é o traço comum da conduta humana por um ideal elevado, como quando se diz que uma pessoa desenvolve “paixões platônicas”.

Pensamento e academia: a introdução de uma metodologia rígida para a busca da verdade e voltada para muitas disciplinas inaugurou a prática do pensamento como reunião de grupos que estudam e pensam questões temáticas. Pode-se dizer que Platão criou a primeira ideia de uma “universidade” para a prática filosófica.

A dialética: como método a dialética foi mais bem desenvolvida pela primeira vez por Platão. Ela é o instrumento prático, na forma de diálogos, capaz de exercer na prática a verdade.

Principais nomes

Platão (428/427 a.C.-348/347 a.C.) – Ao lado de Aristóteles, é o grande expoente da filosofia da Grécia Antiga. Nasceu em Atenas, na ilha de Egina, sendo originário de uma antiga família aristocrática ateniense. Entre seus antepassados estão, por parte de mãe, o célebre legislador Sólon (c.639 a.C.-559 a.C.); por parte de pai, o rei Codro (1090 a.C.-1069 a.C.). Seu verdadeiro nome era Aristocles, mas devido à sua compleição física recebeu a alcunha de Platão (significa literalmente “ombros largos”).

Frequentou com assiduidade os ginásios, obtendo prêmios por duas vezes nos Jogos Ístmicos. Começou por seguir as lições de Crátilo, discípulo de Heráclito, e as de Hermógenes, discípulo de Parmênides. Em princípio, por tradição familiar deveria seguir a vida política. Contudo, a experiência do governo dos 30 tiranos que governaram Atenas por imposição de Esparta (404-403 a.C.), e da qual fazia parte dois dos seus tios, Crístias e Cármides, distanciaram-no dessa opção de vida, pelo menos do modo como a política era exercida.

Influência de Sócrates

A influência de Sócrates foi a grande virada em sua trajetória. Tornou-se seu discípulo por volta de 408 a.C., quando contava 20 anos. Nele encontrou o mestre, que veio a homenagear na sua obra, fazendo-o interlocutor principal da quase totalidade dos seus diálogos.

A condenação de Sócrates (399 a.C.), e a sua ação para o salvar, obrigaram-no a exilar-se nesse ano. Desiludido com o regime aristocrático, mas também com a democracia ateniense, passou a defender que as leis e os costumes dos povos deviam ser baseadas em concepções filosóficas.

Depois desse período, conviveu em Megara, com Euclides (nasceu em 300 a.C.) e Terpsíon (século 4 a.C.), discípulos de Sócrates. Regressou a Atenas para servir na cavalaria, como os seus irmãos. Voltou a viajar, dessa vez ao Egito, onde teria sido iniciado nos mistérios de Ísis.

Depois foi a Cirene onde estudou matemáticas com Teodoro, fazendo-o depois seu interlocutor no diálogo Teeteto. No sul da Grande Grécia (Itália), em Taranto, aprendeu a filosofia pitagórica através de Filolau de Crotona (470 a.C.-385 a.C.) e Arquitas de Tarento (428 a.C.-347 a.C.). Em Creta estudou legislação de Minos. Há quem afirme que esteve na Judeia, onde teve contato com a tradição dos profetas, e até nas margens do Ganges teria conhecido místicos hindus. Em 388 a.C., visitou a Sicília, então governada por Dionísio, o Antigo, com o propósito de convertê-lo à sua concepção filosófica, quando não teve o êxito pretendido.

Volta à Atenas

Ao regressar a Atenas, em 387 a.C., fundou a chamada “Academia” de Platão, que se tornou-se o centro intelectual da Grécia Antiga, por onde passaram filósofos e políticos como Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), Eudoxo de Cnido (408 a.C.-347 a.C.), Xenócrates (396 a.C.-314 a.C.), Esquines (389 a.C.-314 a.C.,) e Demóstenes (384 a.C.-322 a.C.).

Permaneceu em Atenas por cerca de 20 anos, até voltar à Sicília em 367 a.C., com a ideia de converter o novo monarca Dionísio, o Moço, num filósofo-rei. Os resultados não foram alcançados, e Platão foi perseguido e feito escravo por causa de suas ideias políticas, e vendido no mercado de Egina, quando acabou sendo comprado por um dos seus amigos.

Voltou a Atenas, e morreu em 347 a.C., num momento em que a cidade lutava contra Filipe da Macedônia, conflito que lhe foi fatal.

Conjunto de Obras

O conjunto das obras de Platão, ao contrário das obras de Aristóteles, foi escrito para o grande público. São 35 diálogos, algumas cartas, definições e seis pequenos diálogos apócrifos, quase todos sem datas precisas: Axíoco, Da Justiça, Da Virtude, Demódoco, Sísifo, Eríxias.

Os diálogos hoje considerados autênticos reduzem-se todavia a 24, sendo em geral divididos em quatro grupos, de acordo com a sua maior ou menor proximidade às ideias socráticas. Dos Diálogos de juventude, influenciado por Sócrates, estão o Laques, Cármide, Eutrifrom, Hipias Menor, Apologia de Sócrates, Críton, Ion, Protágoras, Lísis. Os Diálogos dirigidos contra os sofistas: Górgias, Ménon, Eutidemo, Crítias, Teeteto. E os Diálogos de maturidade, onde é desenvolvida a sua teoria das ideias: Fedro, Banquete, Fédon e República. E os Diálogos onde realiza uma revisão crítica da sua filosofia: Parménides, Sofista, Político, Filebo, Timeu, e As Leis, obra que não foi concluída.

Com relação aos temas, Platão apreende a sua filosofia como método que remete a tudo. Do ponto de vista do conhecimento, fez uma crítica ao mundo sensível, como o mundo das mudanças e das opiniões ilusórias e vulneráveis, compreendendo que o conhecimento verdadeiro é fruto das ideias eternas, separadas do mundo das coias.

Sustentou ainda que todos os seres humanos, em graus variáveis, quando nascem já possuem muitas dessas ideias. Nesse sentido, conhecer ou aprender é recordar aquilo que está obscurecido na alma.

Cosmotologia

As suas ideias cosmológicas foram profundamente influenciadas pelo pitagorismo. Recusando as causas físicas para o que ocorre na natureza, sustentou que a única ciência possível estava na descoberta dos modelos eternos e perfeitos de todas as coisas.

Concebeu por isso um universo hierarquizado segundo graus de perfeição: no alto estavam os astros, considerados divinos, sendo por isso eternos, imutáveis, tendo uma forma esférica que era a que mais se adequava a estes atributos. Em baixo, estava a terra, imperfeita.

A teoria das ideias é indissociável do aspecto da moral e da estética. As obras de arte, seguindo esse princípio e perfeição, não admitem qualquer mudança ou inovação no campo artístico. Um vez atingida a obra de arte ideal, isto é, perfeita, só resta aos artistas continuar a replicá-la eternamente. Na moral, combateu o relativismo dos valores, defendidos pelos sofistas.

Que o dever único do homem é para com o Bem, que se identifica com o Belo e o Uno, possíveis pelo desprendimento dos valores materiais e das necessidades corporais. Os desdobramentos políticos de sua filosofia são vistos como o estudo normativo dos princípios teóricos do governo dos homens, encontrando o seu fundamento no estudo da alma humana.

Outras visões

Sofistas

Parte da oposição filosófica de Platão está na figura dos sofistas. São tidos como relativistas, os “professores da eloquência”, sem método e rigor filosóficos. Impedem a aquisição e a compreensão de verdades estáveis para a condução da vida pública e da saúde da Cidade.

Socratismo

A figura de Sócrates foi resgatada a partir da obra de Platão, sendo a sua obra a grande fonte de informações a seu respeito. De Sócrates Platão herdou a dialogia – a disputa em diálogos –, o método dialético para a busca da verdade.

Os pitagóricos

 Fala-se muito também da influência dos pitagóricos no pensamento de Platão, como a divisão entre espírito e matéria e os estudos matemáticos, com problemas e teoremas da escola encabeçada por Pitágoras.

Aristotelismo

 Em oposição ao idealismo platônico, em que os objetos materiais são apenas cópias das ideias, o aristotelismo é bastante empirista, considerando que nosso conhecimento vem antes dos sentidos, da experiência. A filosofia aristotélica é o grande contraste da filosofia platônica.

Ramificações

A filosofia de Platão se divide- em três campos:

Platonismo da Academia

A Academia de Platão (ou Academia Platônica, Academia de Atenas ou Academia Antiga) foi fundada por Platão, aproximadamente em 384 a.C./383 a.C. em Estagira. É essa escola informal de Platão que se incluem pensadores do mundo grego antigo, muitos deles em registros apenas em seus Diálogos, como Teeteto, Leodamas de Tasos e Neoclides, além de duas mulheres, Asioteia de Filos e Lasthenia de Mantinea. Não há registros oficiais de ensinamento de disciplinas, sendo mais provável o uso da dialética em diálogos filosóficos.

Médio-platonismo

 Refere-se ao período em que a filosofia de Platão é interpretada durante os primeiros séculos da era imperial (do século 1 a.C. ao século 2 d.C.). Está datado como uma forma de platonismo surgida depois da morte de Antíoco de Ascalão (130 a.C.-68 a.C.), filósofo acadêmico eclético do século 1 a.C., estendendo-se até o início do século 3 d.C. O prefixo “médio” pode ser tido como transição entre o platonismo cético do período helenístico e o neoplatonismo que floresceria a partir do século III. Hoje se considera que também tiveram muita importância para a formulação racionalista da mensagem religiosa na Patrística.

Neoplatonismo

 Definido como o conjunto de doutrinas e escolas de inspiração platônica que se desenvolveram do século 3 ao século 4, mais precisamente do período da fundação da escola de Alexandrina por Amônio Sacas (em 232) ao fechamento da escola de Atenas, imposto pelo édito de Justiniano, de 529. Os aspectos mais destacados do neoplatonismo são o espiritual e o cosmológico, em alguns casos também com a teologia egípcia e judaica. Influenciou pensadores cristãos como Agostinho (354-430), Boécio (480-524), João Escoto Erígena (815-877) e Boaventura de Bagnoregio (1221-1274), e mesmo islâmicos e judeus medievais, como Al-Farabi (872-950) e Moisés Maimônides (1135-1204), além da Academia Platônica de Florença.

Principais obras

Fédon

Dois temas são fundamentais nesta obra, cuja elaboração estima-se em aproximadamente 387 a.C.: a imortalidade da alma e o modo como um homem sábio encara a morte. O diálogo se passa em Fliunte, uma cidade de Sícon, no nordeste do Peloponeso, na Grécia, um dos mais importantes centros do pitagorismo.

As personagens são Fédon de Élis, discípulo de Sócrates, Símias e Cebes, originários de Tebas, onde foram discípulos do pitagórico Filolau Críton, um rico ateniense e amigo de Sócrates e Equécrates, a quem Fédon conta a morte de Sócrates. Assim, a estrutura do diálogo se dá em alguns temas que perpassam o diálogo, que consiste em se discutir a visão da morte como libertação, discutindo-se a relação entre corpo e alma, e sobre a existência da alma em relação ao corpo, a teoria das ideias, a degradação na alma nas sucessivas reencarnações, e no epílogo a última mensagem de Sócrates.

Banquete

Essa obra, de cerca de 380 a.C., pode ser tida como uma resposta de Platão às acusações da cidade contra a filosofia. Platão narra uma festividade na casa de Agaton. Estavam presentes a esse banquete, entre outras pessoas, Aristodemo, amigo e discípulo de Sócrates; Fedro, o jovem retórico; Pausânias; o médico Eriximaco; Aristófanes, o comediante que ridicularizava Sócrates, e o político Alcibíades. E também o velho Sócrates.

O exagero cometido na festa do dia anterior, sobretudo o excesso de bebida, fatigara os convidados de Agaton. Pausânias propôs então que, em lugar de beber, ficassem ali a conversar, a discutir ou que cada um fizesse algo “diferente”.

Essa proposta de Pausânias foi aceita por todos. Ao que Eriximaco acrescentou que se fizessem elogios a Eros, assim os convidados deveriam fazer um discurso para louvar o amor. Pausânias, ao afirmar que há mais de um Eros, dividido entre bem e mal, real e divino, é o primeiro a discursar; Eriximaco, o segundo, aponta como o amor não exerce influência apenas nas almas, mas que dá também a harmonia ao corpo; Aristófanes, então, toma a palavra, demarcando que o amor é o desejo e a procura da metade perdida por causa da nossa injustiça contra os deuses, Agaton, o anfitrião e o último dos elogiosos ao amor, não se propõe enaltecer os benefícios que Eros faz ao homem, mas sim cantar o próprio deus e a sua essência, passando em seguida a descrever-lhe o dote.

Distanciamento de pensamento

Após toda essa longa lista de virtudes atribuídas a Eros, nota-se o quanto o poeta se distancia de sua proposta inicial e de seu preceito metodológico; Sócrates, um dos presentes, propõe dialogar sobre a definição do amor. Expõe como Diotima lhe ensinou a genealogia do amor e chega ao apontamento crucial sobre o conceito de amor: o que se ama é somente aquilo que não se tem. A verdade é algo que está sempre mais além, inquietação que faz do amor um filósofo.

A República

A República (Politeia), de cerca de 375 a.C., é o diálogo mais célebre de Platão, o mais lido e o mais comentado ao longo da história.

Nele é discutida a questão do tempo, e de como impedir que a cidade, já não mais afeita a uma tradição aceita por todos, seja capaz de se submeter ao princípio da discussão sem deslizar nos caprichos dos interesses particulares e da dispersão. A República contém diversos temas filosóficos, sociais e políticos entrelaçados.

A questão chave é a da justiça em seu sentido amplo, oportunidade que Platão aproveita para tecer comentários sobre a educação e o tema genérico do conhecimento das coisas.

O livro 1 goza de certa independência, sendo que os demais (ao todo são 10), tratam de temas variados: A formação das lideranças (os guardiões) está presente nos livros 2, 3, 4, 5 e 6; a formação dos governantes, classe especial dos guardiões, nos livros 6 e 7; uma vez compreendida a tarefa pública, Platão a compara com o que acontece nas cidades existentes (livro 8I); diante do desafio de Trasímaco ao tratar das conveniências da tirania (livro 9), Platão encerra (livro 10) com a proposição de um mito, tratando da importância da arte, do destino e da liberdade.

Teeteto

Diálogo platônico sobre a natureza do conhecimento. Escrito nos meados de 369 a.C, nele aparece, talvez pela primeira vez explicitamente na filosofia, o confronto entre verdade e relativismo.

Desse diálogo provém uma definição tradicional do conhecimento como crença verdadeira justificada. Os personagens principais no diálogo são Sócrates, Teodoro de Cirene e o matemático Teeteto. Há ainda dois personagens que aparecem apenas do início do diálogo: Terpsião e Euclides.

A obra está dividida em três partes, cada uma com momentos do debate entre Sócrates e Teeteto, as duas principais figuras desse diálogo. Platão pretende, através dele, provar que é possível chegar ao conhecimento através da razão, e não pela subjetividade gnoseológica dos sofistas, que afirmavam que os sentidos determinam o conhecimento.

Assim, Sócrates rechaça as quatro teses de Teeteto: de que o saber não pode ser definido mediante exemplos; de que ele não é percepção, nem opinião verdadeira, e nem uma explicação acompanhada de opinião verdadeira.

Sócrates rebate esses argumentos de um ponto de vista crítico, formulando questões sobre as suas teses, sem se chegar a um conceito definido

Fontes e inspirações

Sofística Um dos pontapés iniciais da filosofia platônica está na crítica aos sofistas. Para Platão, os sofistas haviam perdido de vista o sentido da distinção entre verdade e aparência e a objetividade das normas. A verdade se relativizou, tornando-se subjetiva, e dependente dos diversos pontos de vistas e interesses em jogo. A sofística foi o grande alvo de Platão, considerada uma antifilosofia, ou uma filodoxia. Em contraposição, desenvolveu um sentido preciso e normativo para a noção de verdade, uma correspondência entre ser e conhecimento, entre ser e verdade.

A figura de Sócrates (469 a.C.-399 a.C.)

 Segundo alguns relatos, no ano de 407 a.C., Platão encontrou-se com Sócrates, tornando-se discípulo de sua posição filosófica em busca da verdade e da justiça. Determinou o verdadeiro objeto da ciência em sua maiêutica, em oposição à prática dos sofistas: trata-se de um processo dialético por indução, como um meio de generalização que remonta do indivíduo à noção universal.

Os pitagóricos A figura de Pitágoras, que assim como Sócrates também nada escreveu, está envolta em mitos na história dos antigos. Contudo se pode dizer que as doutrinas dos pitagóricos formavam um complexo amálgama de números, matemática e música, misticismo e cosmologia, além de diversos postulados referentes ao estilo de vida. Um dos mais importantes foi, sem dúvida, além do próprio Pitágoras (570 a.C.-495 a.C.), Filolau de Crotona (470 a.C.-390 a.C.). A obra de Platão está presente de algum modo em quase todos os filósofos vindouros. Destacam-se algumas influências mais diretas:

Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.)

 Expoente e fundador da filosofia ocidental na Grécia Antiga. Aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande (356 a.C.-323 a.C.), seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Metafísica e Ética a Nicômaco, ambas do Século 4 a.C., são duas de suas grandes obras.

Thomas More (1478-1535)

 Diplomata, escritor, advogado que ocupou vários cargos públicos, em especial o cargo de Lord Chancellor (Chanceler do Reino – o primeiro leigo em vários séculos) de Henrique VIII da Inglaterra. É geralmente considerado um dos grandes humanistas do Renascimento, e canonizado como santo da Igreja Católica em 1935. É autor da famosa obra Utopia (1516).

Tommaso Campanella (1568-1639)

 Filósofo renascentista italiano, poeta e teólogo dominicano. Segundo Campanella, as ciências tratam das coisas como elas são, cabendo à filosofia (e especialmente à metafísica) explicar as coisas em seu sentido mais profundo. De sua vasta obra, abrangendo vários tópicos, como gramática, retórica, filosofia, teologia, política e medicina, destaca-se A cidade do Sol (1602).

Karl Jaspers (1883-1969) 

Filósofo e psiquiatra alemão. Muito influenciado pela tradição existencialista. Afirmava que a filosofia tinha seu começo e seu fim em Platão. Jaspers preocupou-se em estabelecer as relações entre existência e razão, o que o levou a investigar em profundidade o conceito de verdade, entendida como uma espécie de ambiente que envolve todo o conhecimento. Obras de destaque: Situação espiritual da nossa época (1931), Filosofia (1932), Introdução à filosofia (1953).

Alfred North Whitehead (1861-1947)

 Filósofo e matemático britânico. Com Bertrand Russell, escreveu o Principia Mathematica (1913). É autor da famosa frase de que “Tudo que já se escreveu sobre filosofia, não passa de Notas de Rodapés da Obra de Platão”.

Bertrand Russell (1872-1970)

 Um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos do século 20. Político liberal, ativista e popularizador da filosofia, afirmava que as razões pelas quais os jovens contemporâneos estudam matemática devem ser lidas na República de Platão. É autor de A história da filosofia ocidental (1977) e Porque não sou cristão (1957).

Fontes de pesquisa

Referências na Web

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Bolzani Filho, Roberto. O mito da preexistência da alma de Platão. Revista Cult 175. Disponível em: <http://revistacult.uol.com.br/home/2013/01/o-mito-da-preexistencia-da-alma-em-platao/>. Acesso em 5 dez. 2013.

Bueno, Gustavo. Análisis del Protágoras de Platón. Disponível em: <http://mercaba.org/Filosofia/Platon/cartel_platon.htm>. Acesso em 5 dez. 2013.

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Vida e obra de Platón. El Rincón Del vago. Disponível em: <http://html.rincondelvago.com/vida-y-obra-de-platon.html>. Acesso em 5 dez. 2013.

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