A dor crônica é mais recorrente do que imaginamos e pode causar grandes dificuldades no dia a dia de quem é atingido por ela. Além do incômodo físico, ela pode interferir em circuitos cerebrais responsáveis pela memória e pelas emoções. Estima-se que a dor crônica faça parte da vida de 30% dos idosos brasileiros, segundo resultados do estudo Saúde, Bem Estar e Envelhecimento (SABE) realizado em 2006. Segundos dados fornecidos pela Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor (SBED) e divulgados pela Agência Brasil (2013), os índices de casos de dores crônicas varia de estado para estado e vão de 15% a 45%.
Para quem busca aliviar a dor, a acupuntura pode ser uma boa alternativa, conforme verificou uma importante compilação de 29 estudos com avaliação de 17.922 pacientes, realizada por nove pesquisadores internacionais. Com a acupuntura, técnica que consiste na inserção de agulhas em locais específicos do corpo, é possível equilibrar o fluxo de energia pelo organismo e, entre outras coisas, fortalecer o sistema imunológico.
As pessoas analisadas foram divididas em três grupos: alguns frequentaram sessões de acupuntura, outros, de acupuntura sham. O último grupo não recebeu nenhum tratamento relacionado à medicina integrativa. Seguindo as regras de medição estabelecidas pelos pesquisadores, foi notada uma diminuição de 50% da dor nos pacientes que foram tratados pelos métodos de acupuntura.
A diferença entre a acupuntura tradicional e a sham é justificada por quem a aplica. A técnica sham, também conhecida como acupuntura médica, é realizada por médicos formados em medicina ocidental que, posteriormente, se especializaram na técnica vinda do Oriente. Ela envolve a aplicação de agulhas retráteis ou superficiais ou o uso de estimuladores elétricos não operantes. Andrew J. Vickers, um dos pesquisadores, explica que a eficiência dessa técnica está atrelada ao “efeito placebo”, ou seja, a uma vontade e uma crença do paciente de que o tratamento vá funcionar.
A pesquisa não simboliza “a palavra final” sobre o assunto, mas é um progresso para o tratamento de dores crônicas. Segundo o diretor do controle de dor no Hospital de Mulheres de Brigham, Ed Ross, o acupunturista não deveria ser o primeiro, nem o único profissional a ser procurado para tratar esses casos, mas pode ajudar a aliviar o incômodo causado pela doença. “Eu diria tente e, se funcionar, ótimo. Mas eu acredito em uma abordagem interdisciplinar para o tratamento da dor. A acupuntura deveria ser considerada apenas parte do plano de tratamento”, aconselhou Ross em entrevista ao site Health Day News.
Além do desconforto físico causado pela dor, circuitos neuronais relacionados com processamento de memórias e emoções também são afetados por ela. Um estudo publicado pelo The Journal of Neuroscience constatou que há uma diminuição da massa cinzenta em pacientes que apresentam dores crônicas. A massa cinzenta é composta de corpos celulares de neurônios e inclui regiões do cérebro envolvidas no controle muscular, na percepção sensorial, na memória curta e no estabelecimento de relações semânticas.
Os danos no cérebro causados pela dor podem explicar a relação entre dor e depressão e a redução da memória de curto prazo nos pacientes. Muitos pacientes que sofrem dessa doença tendem a se tornar depressivos, ansiosos e irritados. Apresentam, ainda, dificuldades para atividades que envolvam noções de localização, como aprender novos caminhos ou situar-se em novos ambientes. O que este estudo verificou foi que depois de tratamentos para a dor, a massa cinzenta dos pacientes voltou a aumentar. As consequências tendem a ser piores em mulheres, segundo os pesquisadores, porque elas tendem a concentrar-se no aspecto emocional da dor, preocupando-se em como aquilo vai afetar suas responsabilidades: sua família e seu trabalho.
A acupuntura pode apresentar alguns efeitos colaterais, como alterações no apetite, no sono, no funcionamento dos intestinos ou no estado emocional. Geralmente, essas alterações significam que o tratamento está funcionando, pois o organismo está reagindo a ele. Esses sintomas, porém, não devem permanecer por longos períodos.
Foto: Vivian Chen [陳培雯] / Flickr: taiwan2009-147.jpg / CC BY-ND 2.0
Veja também:
Os desafios da acupuntura no Ocidente
Acupuntura diminui a ansiedade
SUS já oferece acupuntura e homeopatia