O Cantareira é o maior sistema fornecedor de água para a região metropolitana de São Paulo. Ele atende grande parte das regiões da capital e mais dez municípios no entorno. Contudo, desde 2013 o sistema passa pela situação mais crítica de sua história. Em razão dos baixos níveis dos reservatórios, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tem oferecido à população desde maio de 2014 água captada abaixo dos níveis normais, o chamado volume morto.
Desde fevereiro de 2014, especialistas já alertavam a população sobre o possível colapso. A estimativa inicial era de que os níveis mínimos fossem atingidos apenas no mês de agosto, mas já em maio as autoridades foram obrigadas a apelar para medidas extremas. Assim, a Sabesp teve de investir mais de R$ 50 milhões em obras para a utilização dos 287 bilhões de litros de água localizados abaixo do nível das bombas.
Em entrevista ao Portal NAMU, o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da USP, José Carlos Mierzwa, explicou que a crise do Sistema Cantareira não decorre apenas das condições climáticas que alteraram o regime de chuvas do período, mas sim uma combinação de fatores. O primeiro deles é a grande concentração populacional da região metropolitana de São Paulo, região com pouca disponibilidade hídrica para abastecer uma população de quase 20 milhões de habitantes.
O segundo é o desperdício na rede física, que chega a 30% do total distribuído. O terceiro motivo apontado por Mierzwa é um problema com o qual os brasileiros são obrigados a lidar há muito tempo: os baixos índices de saneamento básico. De acordo com dados do Instituto Trata Brasil, apenas 53% do esgoto do Estado de São São Paulo recebe tratamento adequado. A poluição que chega aos cursos d’água na região metropolitana da capital paulista inviabiliza reúso da água e acirra a disputa da água pelos municípios. A estiagem histórica na região Sudeste nos últimos dois anos é apenas o ápice de um problema bem maior. Os caminhos para combater esse problema seriam melhorar o saneamento básico e intensificar as políticas de preservação ambiental, principalmente a proteção das áreas produtoras de água e controle do desmatamento.
A primeira medida paliativa adotada pela Sabesp para contornar a crise foi incentivar a população a reduzir o consumo. O programa "Guardião das águas", oferece descontos na conta de água para quem diminuir o consumo e multa quem desperdiçar. O racionamento, ação drástica de controle da oferta de água, deveria ter sido feito quando os reservatórios chegaram aos níveis de 30% em dezembro de 2013. Em em janeiro de 2015, o Governador Geraldo Alckmin referiu-se à medida como uma "restrição hídrica". Contudo, grande parte da população da metrópole já reclamava de cortes no abastecimento desde 2013. É importante notar que se não fosse por pressão de entidades como o Idec e o Ministério Público Estadual, a veiculação das datas, locais e horário de corte de água não viria de forma voluntária da companhia.
Sem saída para o problema, a Sabesp se viu obrigada então a aproveitar a reserva técnica (volume morto), o que a duras penas tem garantido o abastecimento até agora. O uso dessa água tem gerado preocupações por parte dos consumidores no que diz respeito à contaminação. A distribuidora garante que todos os procedimentos necessários foram adotados para garantir condições ideais para consumo, assim como acontece com o recurso proveniente de outros mananciais, apesar de estudos feitos pela Cetesb comprovarem a contaminação do manancial contaminação do manacial.
Ao ser indagado sobre quais seriam as medidas adequadas para evitar esse problema agora e no futuro, Mierzwa acredita que o racionamento planejado seja a melhor das soluções. A ideia é reduzir a quantidade de água perdida na rede por meio da redução de pressão. O professor exemplifica o processo: “Durante à noite, quando o consumo de água é menor, se a pressão da rede for mantida da mesma forma que é usada nos horário de demanda, a perda de água chega a aproximadamente seis metros cúbicos por segundo, relativa apenas ao Sistema Cantareira, o que leva a uma redução do volume disponível no reservatório. Assim, se o racionamento, ou a redução na pressão da rede fosse adotado no período da noite, seria economizada uma vazão equivalente àquela que se cogita trazer do rio Paraíba do Sul ou do São Lourenço."
Enquanto a Sabesp e o Governo do Estado de São Paulo não fazem o que deveriam, algumas ações simples podem ajudar o cidadão comum a economizar água. Veja oito dicas para reduzir o desperdício em casa:
1. Tome banhos curtos e feche o registro ao passar sabonete e xampu. Um banho de 15 minutos com o chuveiro ligado gasta 135 litros de água. Já com o registro fechado durante o ensaboamento e uma duração de cinco minutos, o consumo cai para 45 litros.
2. Não use a mangueira de jardim como vassoura. Calçadas podem e devem ser apenas varridas. Uma mangueira aberta por 15 minutos gasta em média 280 litros de água.
3. Use um balde para lavar o carro. Utilizar a mangueira resulta em uma perda de 560 litros de água, enquanto com o balde são gastos apenas 40 litros.
4. Retire o excesso de comida da louça com a esponja antes de começar a lavar a louça. Esse cuidado economiza até 220 litros de água.
5. Acumule roupas para usar a máquina de lavar na capacidade máxima. Se possível, reaproveite a água do enxágue para limpar o quintal ou dar descarga.
6. Feche a torneira enquanto escova os dentes ou faz a barba.
7. Esteja sempre atento aos vazamentos. Isso economiza água e dinheiro.
8. Use um regador para molhar as plantas e prefira o período da noite.
Foto 1: Nathália Kamura
Foto 2: Luiza Folegatti