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Limpeza Doméstica

Meditar até na hora da faxina

Jornalista conta a experiência de encarar as tarefas domésticas como um momento de “cuidar da alma”
Bruno Torres
27/09/19

Todo mundo sabe da importância de um ambiente limpo e organizado para o equilíbrio do corpo e da mente. Basta puxar da memória qualquer situação de alguém acamado ou triste e outra pessoa entrando para abrir as janelas, deixar o ar entrar, trocar os lençóis e limpar o quarto. É energia circulando, a luz, a sensação de cuidado? Provavelmente um pouco de tudo, mas a experiência mostra que, de fato, as coisas melhoram. Mais do que apenas habitar um local agradável, outra sabedoria popular diz que “limpando por fora, nos purificamos por dentro”. Ou seja, quando realizamos uma faxina, ganhamos mais que uma casa limpa, estamos também cuidando da alma.

Heranças da classe média

Eu decidi mudar de vida - e limpar meu apartamento sozinha acabou sendo consequência. Inicialmente, apenas por razões financeiras mesmo. Era um corte de gasto importante para me permitir largar o emprego em busca de novas formas de trabalho. E fui em frente, do dia para a noite tive de aprender onde ficava o aspirador de pó na minha própria casa.

Cresci numa família de classe média acostumada a terceirizar o trabalho doméstico. Aqui no Brasil esse hábito ainda carrega heranças da escravidão, em que o funcionário é mal remunerado e tratado como inferior. Essa decisão foi mais fácil para mim porque no fim da adolescência morei em Londres e fazer faxina era uma das formas que encontrei para me sustentar, já que não tinha permissão para trabalho. Muitos imigrantes fazem isso porque não existe fiscalização de trabalho doméstico.

Nos países "desenvolvidos", é comum que a classe média dê conta de grande parte da limpeza dos seus lares. Eles contratam pessoas para fazer faxina uma ou algumas vezes na semana, pagando um bom dinheiro por isso, mas no resto do tempo entram em ação mesmo.

Esvaziar a mente

Outro fator que me ajudou a considerar abrir mão da faxineira foi o fato de já ter experimentando o samu1, meditação em ação praticada na tradição zen budista. É uma extensão da meditação sentada. Acredita-se que ao praticar o estado de esvaziamento da mente em tarefas mais mecânicas e simples, como servir o chá ou varrer o chão, estamos treinando levar essa postura para a vida além do templo.

Em várias outras religiões as faxinas são consideradas uma forma de contato com deus. Para os hare krishna, por exemplo, “seva” (servir, em sânscrito) é uma forma de purificação. O nome e a explicação podem variar um pouco, mas a ligação entre limpeza externa e interna é feita nas mais diferentes crenças.

Prazer da missão cumprida

Seria totalmente hipócrita dizer que apenas ao considerar os benefícios, econômicos, energéticos e de purificação, tornou-se fácil e natural passar a limpar minha casa todos os dias sozinha. De jeito nenhum. É necessário que eu refaça comigo mesma esse compromisso todas as manhãs. Assim como penso no trabalho profissional que me espera, nas obrigações de mãe, na academia, também organizo uma lista mental com as tarefas domésticas e gasto um tempo lembrando das razões da minha decisão para que me motive de novo.

Mas, uma vez em ação, é realmente terapêutico. Enquanto estou em movimento e esvaziando a mente, me preparo para o dia que está começando e, ao terminar, estou muito mais preparada. A sensação de missão cumprida é prazerosa, assim como a noção de que eu mesma dou conta do lixo que produzo. “O sentimento de autoeficácia é muito benéfico e faz com que ocorra a liberação de dopamina, responsável pela sensação de prazer”, diz a psicóloga Helena Sakiyama.

Limpeza em família

Realizar os trabalhos domésticos em grupo é ainda outro benefício. No meu caso, serve como aproximação da família e educação das crianças. “Para fazer uma faxina utilizamos ferramentas como planejamento, organização e execução e isso é especialmente positivo para o aprendizado”, explica Sakiyama.

Aos domingos, eu e minhas filhas de 8 e 11 anos escolhemos luvas e aventais, colocamos música alta e nos dividimos para deixar a casa gostosa e confortável. Divertimo-nos no processo e temos orgulho do que fizemos juntas. Isso também faz com que cultivemos o carinho pelo nosso espaço e cuidemos para que a organização não se perca durante a semana.

Foto: Thinkstock


Veja também:
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5 dicas para ter uma casa sustentável

1 MONJA ISSHIN. Samu – meditação em ação, a prática da atividade diária. Disponível em: <https://monjaisshin.wordpress.com/2009/10/13/qual-o-significado-de-samu>. Acesso em: 19 ago. 2013.


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