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Medicina Integrativa

Pacientes precisam de atenção

Pesquisadora da Universidade de Virginia fala sobre a importância dos cuidadores cultivarem a presença
Bruno Torres
27/09/19

Imagine que você ou alguém da sua família apresente um problema sério de saúde e precise ir a um hospital com urgência. Naturalmente, você espera que o profissional que vá atendê-lo seja atencioso e tenha uma atuação perfeita, independente de qualquer condição de estresse a que ele possa estar submetido em sua vida pessoal ou profissional.

Tal cenário nem sempre representa a realidade. Médicos ou cuidadores pouco atenciosos, impacientes e ausentes são reclamações comuns de quem recorre a esses profissionais. A pesquisadora e diretora do Compassionate Care Initiative, da Universidade de Virginia, Susan Bauer-Wu, se dedica, entre outras atividades, a transmitir a importância do cultivo da atenção plena para profissionais da saúde e concedeu entrevista exclusiva ao Portal NAMU para falar sobre o assunto.  

“É muito difícil ser um profissional da saúde. Enfermeiras, médicos e toda a equipe de cuidadores fazem um trabalho muito estressante. Eles testemunham muito sofrimento, estão sob uma pressão muito grande, trabalham muitas horas e às vezes sem os recursos necessários para fazer um bom trabalho. Infelizmente a realidade é que muitos dos profissionais de saúde não estão saudáveis”, relata Bauer-Wu.

Estresse no trabalho

Para ela, a distância entre o que esses profissionais recomendam aos seus pacientes e aquilo que praticam em suas vidas cotidianas é condicionada, em boa parte, às circunstâncias estressantes encontradas no ambiente de trabalho.

“Sabemos que se esses cuidadores não estiverem bem, se estiverem estressados, então podem estar distraídos no contato com os pacientes. Se eles não estiverem totalmente presentes, vão cometer erros. E esses erros podem ser muito prejudiciais, podem potencialmente custar a vida de alguém. Ou apenas custar caro em termos financeiros, aumentando a hospitalização e o tempo de tratamento de um paciente”, afirma.

A necessidade de melhorar o ambiente de trabalho para os profissionais da saúde se torna ainda mais urgente em função da gravidade do problema com o qual aquela equipe específica costuma lidar. No caso do tratamento do câncer, por exemplo, onde os pacientes já estão extremamente fragilizados, seja por questões físicas, emocionais ou sociais, qualquer perturbação pode representar uma maior chance de complicações e dificuldades no tratamento.


Para Susan Bauer-Wu, mindfulness implica um estado de abertura, de sermos receptivos ao que está acontecendo

Resiliência

Para que possam estar totalmente presentes, mais atentos, e menos passíveis de interferir no cuidado que está sendo dedicado, na visão de Bauer-Wu, é preciso que médicos, enfermeiras e outros profissionais de saúde cuidem mais de si mesmos. Em outras palavras, que cultivem resiliência.

“Resiliência, resumidamente, é nossa habilidade para superar adversidades e lidar com estressores crônicos. Eu acredito que mindfulness é fundamental neste caso, porque não temos que ir para algum lugar especial para praticar, e nos ajudar a trabalhar melhor o estresse do dia a dia e a maneira como nos relacionamos com o que está acontecendo”, aponta.

De acordo com a pesquisadora, mindfulness é nossa capacidade de trazer, intencionalmente, a consciência para a experiência do momento presente, com uma atitude de abertura e curiosidade, e a maneira mais eficiente de cultivar essa qualidade seria por meio de técnicas como a meditação. Além de treinar a atenção, Bauer-Wu destaca que outras atividades podem ser úteis para o aumento da resiliência na saúde, como a prática de exercícios físicos, sono adequado, boa alimentação, contato com a natureza, arte e terapias diversas.


Estresse e desgaste podem fazer com que profissionais da saúde estejam distraídos durante consultas

Espiritualidade na saúde

Susan Bauer-Wu enfatiza que esta abordagem mais contemplativa também permite a abertura para que os cuidadores adentrem temas mais delicados, como o das preferências espirituais dos seus pacientes. “É muito importante nos darmos conta de que um paciente ou uma pessoa que está lidando com uma doença, não é a doença em si. São pessoas inteiras, com toda uma história de vida. E se nós esquecermos o lado espiritual de alguém, não estamos olhando para a pessoa como um todo”, afirma.

Ela lembra que a espiritualidade cumpre um importante papel em ajudar as pessoas a trazerem sentido às suas vidas – até mesmo ao que pode vir depois da morte, e que é importante que os profissionais da saúde reconheçam esta necessidade e a investiguem.

“Aquilo em que acreditamos pessoalmente é diferente do que o que nossos pacientes acreditam. E nós não saberemos no que eles acreditam até que os questionemos sobre isso. E talvez o médico ou a enfermeira não tenham tempo para explorar a espiritualidade dos seus pacientes, mas deve haver alguém na equipe que possa fazer esse trabalho, porque é desta forma que poderemos auxiliá-lo em todas as dimensões que necessita”, afirma.

Susan Bauer-Wu é autora do livro As folhas caem suavemente, sobre viver plenamente com doenças limitantes por meio da atenção plena, pela editora Palas Athena. 

Foto 1: Eduardo Contreras
Foto 2: 
Shutterstock


Veja também:
Apresentação do I Simpósio Internacional de Medicina Integrativa no Hospital Albert Einstein
Simpósio discute combate ao câncer
Hospital Albert Einstein: câncer, prevenção é o melhor caminho #1


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