Qual a história da sua cidade? Quais são os pontos mais importantes? E as melhores praças? Você se sente seguro para andar nas suas ruas estreitas e tortuosas comum das cidades mais antigas? Nos grandes centros urbanos do Brasil as respostas seriam negativas ou “não sei”. A falta de ocupação dos espaços públicos e a sensação de insegurança contribuem para diminuir a relação de contato entre as pessoas e o local onde vivem.
Nadando contra a maré, Carlos Beutel, dono de um restaurante vegetariano, paulistano e militante pela recuperação do centro de São Paulo, começou o projeto “Caminhada Noturna”, um passeio gratuito pelo centro histórico da cidade.
De dia, o centro de São Paulo é uma aglomeração de pedestres, vendedores ambulantes e carros. De noite, é vazio, quieto e pouco convidativo. Pelo simples prazer de passear e explorar esse lado obscuro de São Paulo, Beutel e um grupo de moradores da região idealizaram a Caminhada no ano de 2005.
Eles já se reuniam para debater os problemas da região. O projeto deu certo e um ano depois contava com um guia que acompanhar os particpantes. Apenas com divulgação boca a boca, hoje a iniciativa recebe pelo menos 50 pessoas por passeio.
A caminhada atrai pessoas de todas as tribos que desejam conhecer melhor a cidade de São Paulo
O evento não é somente um passeio pelos bairros. O grupo possui a ideia de deixar “tudo junto e misturado”, reunindo pessoas de diversas origens. O prazer da descoberta é visível nos gestos e rostos de todos quando o guia Laércio de Carvalho, amigo de Beutel, conta histórias a respeito dos prédios e monumentos.
A ideia de que o centro não é um lugar seguro cai por terra quando esse grupo despreocupado toma suas ruas. Beutel enfatiza: "nunca tivemos segurança externa nessas 380 caminhadas. A nossa segurança é estarmos aqui, juntos”, relata.
Um dos resultados do projeto foi uma exposição no Centro de Convivência Social do Idoso, feita com fotos tiradas durante os passeios. André Correa, fotógrafo amador que hoje expõe no Centro, ressalta seu medo de andar pelas ruas da capital: “Eu nunca sairia à noite no centro sozinho, muito menos para tirar fotos”.
A oportunidade de captar esse lado menos conhecido da cidade sem o risco de sofrer um assalto, é para Correa motivo de não perder a Caminhada.
Esse tipo de evento, bastante comum em cidade europeias, no Brasil ainda é uma iniciativa incipiente. Os passeios pagos são encontrados com mais facilidade, sobretudo, em cidades turísticas. Mas, eles não têm a mesma diversidade de pessoas, descontração e clima intimista presente nos gratuitos.
Passeios como a Caminhada Noturna representam uma ferramenta que ajuda a população a reocupar e reivindicar a cidade. Para seguir o modelo, Beutel dá a palavra final: “Basta ter motivação”.
Foto 1 e 2: Eduardo Nascimento