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Medicina Integrativa

Ser feliz é habilidade que se aprende

Susan Andrews explica como a atividade cerebral pode ser moldada para proporcionar bem-estar
Bruno Torres
27/09/19

"Bom trabalho, com alegria." Até na forma como Susan Andrews se despede por e-mail a questão da felicidade, central em seu trabalho, faz-se presente. A psicóloga e antropóloga norte-americana, radicada no Brasil há 20 anos, é autora de A Ciência de Ser Feliz. O livro versa sobre a "hedônica, uma ciência não de hedonismo, prazer, mas sobre o que realmente traz bem-estar para o ser humano", explica.

Fundadora da ecovila Visão Futuro, na cidade de Porangaba (SP), Andrews empenha-se em difundir no Brasil o indicador Felicidade Interna Bruta (FIB). Esse padrão sistêmico inclui parâmetros além dos econômicos para mensurar os progressos de comunidades e nações. Desenvolvido no Butão nos anos 1970, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o FIB abrange nove áreas: bem-estar psicológico, saúde, uso do tempo, vitalidade comunitária, educação, cultura, meio ambiente, governança e padrão de vida.

“Precisamos de um novo paradigma econômico que reconheça a paridade entre os três pilares do desenvolvimento sustentável. O bem-estar social, econômico e ambiental são indivisíveis”, anunciou Ban Ki-moon, secretário-Geral da ONU, sobre a contribuição do FIB.

Modelar o cérebro

Durante sua palestra no 4º Simpósio Internacional de Medicinas Tradicionais e Práticas Contemplativas, promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com a Associação Palas Athena, Susan Andrews abordou os resultados das pesquisas de Richard J. Davidson, da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.

"O neurocientista Richard Davidson pesquisou o que acontece no cérebro quando a pessoa está feliz e quando não está. Na frente do cérebro estão os lobos pré-frontais, a parte mais nova de nosso cérebro. Nesses lobos pré-frontais, o lado direito é ativado quando estou infeliz, deprimida. Quando a pessoa tem muita atividade nessa região, tem muitas chances de entrar em depressão no período de seis meses", conta.

"Pessoas que têm mais ativação no pré-frontal esquerdo são mais felizes, tem maior sensação de bem-estar, tem mais auto-estima. Nós podemos mudar nossos circuitos neurológicos, através do que é chamado de resposta relaxamento ou meditação, uma prática não religiosa, acessível, que estamos ensinando a crianças de 3 anos nas creches, em todo o Brasil. Uma prática simples de fechar os olhos, respirar profundamente, sentir a paz interior, o amor no coração. Foi provado que, com meses de prática, a pessoa literalmente recircuita seu cérebro, transfere sua atividade neurológica do lado direito para o lado esquerdo. Por isso, Davidson afirma que felicidade é uma habilidade que pode ser aprendida, como jogar futebol e tocar violão. Quanto mais você pratica, melhor", incentiva.

São Paulo, a cidade que adoeceu

Em entrevista ao Portal NAMU, Susan Andrews comentou os dados de um estudo epidemiológico realizado pela Universidade de São Paulo sobre transtornos psiquiátricos na região metropolitana de São Paulo. Segundo a pesquisa, cerca de 1 em cada 3 moradores da cidade passou por um transtorno mental no último ano.

Algo está errado

Apesar do aumento do produto interno bruto em muitos países industrializados, apesar do progresso material de sociedades, parece que não estamos mais felizes. Parece que depressão, ansiedade, doenças relacionadas ao estresse estão aumentando aceleradamente. Tem alguma coisa errada. Por isso estou pesquisando, praticando e treinando pessoas para que, mesmo no mundo atual, alucinantemente acelerado, com muitas demandas, no qual as pessoas estão cada vez mais distraídas, possamos resgatar nosso bem-estar, nossa sensação de significado na vida e nossos laços amorosos, que está provado ser o fator-chave para o nosso bem-estar", diz Andrews.

"É nóis"

A psicóloga e antropóloga norte-americana acredita que toda pessoa é capaz de "aprender a ser feliz". Segundo Andrews, "hoje, 85% dos brasileiros moram em centros urbanos". Ela entende que é possível "levar o FIB para o nível da base". Andrews afirma que "as mudanças vão surgir da base, entre pessoas que têm uma sintonia entre si". Para ela, o papel do FIB não é o de substituir o PIB. Na verdade, o que ela propõe é que o Brasil tenha três indicadores, "um para economia, outro para sustentabilidade e outro para bem-estar". Essa teoria, segundo a norte-americana, encontra defensores até mesmo no governo federal, "Paul Singer (secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego) é parceiro do índice de Felicidade Interna Bruta", diz ela.

Sua teoria aposta todas as fichas nos vínculos comunitários, nos pequenos núcleos sociais. "Acredito que o futuro está no bairro, no município". Sempre muito simpática, Andrews termina sua entrevista com um sorriso largo e uma frase que aprendeu em suas andanças por comunidades de São Paulo: "É nóis, mano."

Foto: Patrícia Spier 


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