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A natureza guerreira de Hong Kong

Fotógrafo busca registrar a força e a determinação de árvores e plantas para sobreviver no concreto
Bruno Torres
27/09/19

Foi Hong Kong que despertou em Romain Jacquet-Lagreze a vontade de fotografar. Ele cresceu nos subúrbios de Paris e lá estudou artes e multimidia. Como designer gráfico, trabalhou alguns meses em Tóquio, no Japão. Nesse tempo, recebeu várias recomedações de amigos para ir para a cidade chinesa. Todos diziam o mesmo: "você precisa conhecer Hong Kong".

Movido por tantas indicações, Jacquet-Lagreze fez sua primeira visita à ex-colônia britânica e atual território chinês. Imediatamente seu olhar se espantou com os altíssimos edifícios da urbe barulhenta e acelerada. Com o tempo, esse ambiente se tornou sua fonte de inspiração. “Hong Kong é tão intensa e visualmente impressionante que eu comecei a ter esse desejo de registrar a cidade com a minha câmera”, revela o fotógrafo.

flor rosa e raiz de árvore na parede

Intitulado Concreto Selvagem (Wild Concrete), a mais recente obra de Jacquet-Lagreze reflete a sobrevivência da natureza nesse opressivo ambiente urbano.

A luta fotografada pelo francês se assemelha muito às atuais manifestações pró-eleições diretas para governador de Hong Kong, que a ditatura comunista chinesa, depois de muitas manifestações e repressão, prometeu para 2017. É o embate de um poder enorme contra uma força frágil, mas persistente e bela.

Em grandes cidades é muito comum a natureza acabar oprimida pelo concreto armado e o asfalto. Porém, essa destruição constante não é vencida facilmente, sem luta. Há árvores e plantas que insistem em retomar seu lugar ao Sol.

Em qualquer grande metróple são comuns os exemplos de vegetação brigando para lentamente retomar seu lugar. É essa batalha que o olhar de Jacquet-Lagreze busca.

Suas fotografias alimentam-se da força que move protestos pró-democracia em Hong Kong e do mesmo espanto que levou o poeta Carlos Drummond de Andrade a escrever os seguintes versos:

Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Em entrevista exclusiva ao Portal NAMU, Jacquet-Lagreze conta como surgiu a ideia do novo projeto e o que podemos aprender com ele:

Portal NAMU: Como começou o seu trabalho como fotógrafo? Romain Jacquet-Lagreze: Eu nasci e cresci nos subúrbios de Paris. Lá, estudei multimídia e artes na East Paris University, por isso, era mais devoto da arte visual. Só depois quando fui para Hong Kong que comecei a amar a fotografia. Eu me senti diretamente impressionado por essa cidade. As ruas são tão movimentadas e os edifícios são altíssimos. Visualmente, me impressionou mais que Tóquio.

Em 2011, eu realizei o meu primeiro trabalho com fotografia que recebeu o nome de Horizonte Vertical (Vertical Horizon). Esse projeto foi lançado em formato de photobook em 2012. Desde então, eu tive a chance de ver meu trabalho em destaque em várias publicações no Reino Unido, França, Espanha, Estados Unidos e na China.

Esse reconhecimento me fez querer trabalhar mais com fotografia. E então, desde 2013, eu venho me dedicando ao meu segundo grande projeto chamado Concreto Selvagem (Wild concrete) que em maio de 2014 também foi lançado em livro.

Como surgiu a ideia sobre o ‘Concreto Selvagem’? Surgiu por acaso. Um dia fotografei uma dessas árvores crescendo em um prédio (foto abaixo à direita). Naquela época, eu estava trabalhando em outros projetos. Mas essa árvore me chamou atenção. Fiquei tentando descobrir como ela conseguia crescer e viver num local como aquele. Isso me fez querer explorar outros lugares para saber se havia outras árvores como essa em Hong Kong.

raiz de árvore cobrindo selo escrito hong kongQual mensagem você quis passar com essas fotos? Com essas imagens, eu quero mostrar a força e a determinação que essas árvores e plantas têm para sobreviver e prosperar mesmo no concreto, onde não é suposto ser.

Em Hong Kong, a densidade da população é alta e não há espaço sobrando para a natureza. Eu gosto do modo pelo qual essas árvores encontram o seu próprio jeito no coração da cidade e reivindicam as paredes dos prédios. É como se elas estivessem ali para nos lembrar de que nós humanos devemos coexistir com as árvores e não removê-las totalmente.

Eu também gosto muito do conceito da vida orgânica crescendo em um material morto e frio como o concreto. É um bom contraste que mostra como as plantas e árvores podem ser poderosas e resilientes.

Que tipo de árvore consegue crescer nos prédios? A maioria das árvores em minhas fotos são árvores Banyan, que são uma espécie de figueira. Na natureza, elas iriam começar a crescer em cima de outra árvore e, lentamente, cobri-la por sua raiz, até toma-la completamente. Elas são muito fortes e altamente adaptáveis. É por isso que elas podem prosperar mesmo em condições mais difíceis, como no concreto.

Como você enxerga a relação entre natureza, cidade e seres humanos? Os seres humanos, normalmente, tentam controlar o máximo possível a presença da natureza na cidade, embora a natureza seja definida pela ausência de controle. As cidades são construídas de acordo com planos que destinam poucos espaços para as áreas verdes ainda que seja reconhecida a necessidade dos seres humanos pela natureza.

Essa situação é bastante paradoxal, por isso eu aprecio ver a natureza crescer em lugares onde não é permitido e assim desafiar os seres humanos. É como se a ela estivesse dizendo para nós: "Vocês não estão deixando nenhum espaço para mim? Tudo bem, eu vou vir por mim mesma e crescer diretamente em cima de sua casa.”

Para conhecer mais o trabalho de Romain Jacquet-Lagreze acesse a página no Facebook.

Fotos: Romain Jacquet-Lagreze


Veja também: Aráquem Alcântara: o fotógrafo da natureza O fotógrafo Beto Ambrósio saiu de Araraquara (SP) para percorrer 17 países de bicicleta


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