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Gerais

Rio Ganges: mergulho em um deus

Nas cidades que margeiam suas encostas, é comum observar os "sadhus" praticando yoga e fazendo os rituais de ablução
Bruno Torres
27/09/19

De cavernas da geleira de Gaumukh, situada aos pés dos Himalaias surge um pequeno rio, o Ganges (ou Mãe Ganga, como é conhecido por lá), que muitos acreditam ser o mais sagrado do nosso planeta. Abençoado sob mais de cem nomes, o rio é venerado como um deus pelos hindus. Para seus devotos, mergulhar em suas águas absolve todos os pecados, entoar seu nome traz redenção e beber suas águas limpa e purifica a mente, o corpo e a alma.

O Ganges junta-se a rios menores, transformando-se em um verdadeiro provedor de vida, que carrega simbolicamente libertação, prosperidade e pureza através de suas águas ao longo de 2.525 km antes de desembocar no mar. Para os seguidores de Vishnu, a mãe Ganga foi originada a partir do seu pé, enquanto outros acreditam que ela era a esposa de Shiva.

Em qualquer de suas versões, o Ganges faz parte da história, religião e cultura da Índia. Para um hindu, mergulhar em suas águas absolve todos os pecados, entoar seu nome traz redenção e beber suas águas purifica a mente, o corpo e a alma. Nas cidades que margeiam suas encostas, é comum observar os "sadhus" (homens sagrados ou santos) praticando yoga nas margens e fazendo os rituais de ablução (banhos). Eles vestem apenas um tapa-sexo e muitas vezes caminham nus, vivendo somente daquilo que lhes é ofertado ao longo do caminho.

Capital mundial do yoga

Rishikesh é uma das primeiras cidades pelas quais o rio passa ao descer as montanhas, o que significa águas menos poluídas. A experiência de banhar-se e beber o Ganges é, no mínimo, transformadora. A água corrente parece ser capaz de energizar o corpo e a alma de uma forma diferente e trazer uma paz de espírito pouco conhecida para nós, ocidentais.

Geladinha e transparente como a água de uma cachoeira, ela parece penetrar o espírito, quase um batismo adulto. Depois disso, é difícil manter o coração invicto de ser um pouco hindu, ou ao menos, deixar de admirar a beleza de todas as religiões e crenças sem julgamento.

Para alguns, as águas do rio são utilizadas como se fossem um remédio. Uma cerimônia chamada Ganga Aarti é realizada todos os dias durante o pôr do sol. Vale fazer parte dela e agradar os deuses com sua oferenda, outra experiência imperdível. Inúmeras velas acesas, flores, folhas e grãos passam boiando enquanto você solta a sua, sussurrando um pedido ao vento. Segundo os indianos, um pedido para a mãe Ganga não falha!

Para chegar a este paraíso, você pode pegar um trem superconfortável de Nova Delhi para Haridwar. São servidas três refeições durante o trajeto, que leva em torno de cinco horas. Muitas calorias depois, você ainda tem que pegar um taxi até Rishikesh, que não é servida por trens - o que talvez explique suas peculiaridades.

É a cidade que tem mais ashrams (comunidades em torno de um líder espiritual) no mundo. Você pode escolher um deles ou um hotel, como fiz. Mas não espere luxo. Rishikesh é um dos lugares da Índia em que você tem de optar: ou escolhe o luxo e fica afastado do centro da cidade e longe de tudo, ou você se entrega à experiência: que tem mais a ver com pisar no esterco que possa aparecer no caminho do que com alimentar o seu ego. Existem muitos ashrams em ambas as margens do rio Ganges, que são ligadas por duas pontes suspensas, a Lakshman Jhula e a Ram Jhula, por onde passam pedestres, vacas, macacos, carregadores de cargas e motocicletas buzinando alucinadamente.

O ashram mais famoso é "Divine Life Society", de Swami Sivananda. Ele fica de frente para o rio e perto da ponte Ram Jhula. Entre os ashrams famosos e bem estabelecidos, destacam-se Swarg Ashram, Yoga Niketan, Maharishi Mahesh Yogi’s Ashram e Paramarth Ashram.

A melhor época para visitar Rishikesh é de setembro a fevereiro. A época mais quente vai de março a junho.

Tudo junto e misturado

Você percebe que faz parte de uma realidade diferente assim quando adentra a cidade. É um destes lugares que nos fazem sentir como em outro planeta, em um universo paralelo. É comum se sentir um pouco “estranho” a princípio. Figuras dignas dos sonhos mais surreais passeiam em meio ao caos: turbantes coloridos, barbas gigantescas, bigodes compridos, pagadores de promessa, iogues. A expressão “tudo junto e misturado” é perfeita para descrever Rishikesh.

Quase todos são vegetarianos na cidade. Em geral, os hotéis oferecem café da manhã e jantar, o que é recomendável, já que é difícil confiar em pratos servidos fora dali. Os únicos restaurantes que eu não hesitaria em recomendar são o TipTop, na rua principal das lojinhas, ou o Devraj Coffee Corner, que fica ao lado da ponte, no lado oposto do templo. Em ambos, você pode sentar e esquecer da vida tomando um chá acompanhado por uma refeição um pouco mais ocidental. A “rua das lojinhas” tem diversas coisas interessantes para comprar: panos coloridos, roupas, lenços de seda, pulseiras, joias, objetos de decoração, calças do tipo saruel etc. Nestas horas, é preciso de lábia para conseguir bons preços. A qualidade de alguns produtos é duvidosa.

Templos

Existem inúmeros templos de todos os tamanhos, alguns novos e outros muito antigos. Dizem ser mais fácil meditar por lá, especialmente nos lugares mais vazios e altos. Talvez pelo grande número de pessoas que o faz na cidade, mas não se sabe. Todos os templos são muito diferentes, mas possuem a mesma logística: escadas de muitos degraus, que se deve percorrer sem sapatos, um sino na entrada do primeiro pátio e figuras de muitos deuses espalhados em altares cheios de oferendas como grãos, perfumes, frutas, incensos etc. Alguns dos templos mais importantes são o Nilkanth Mahadeo, Kunjapuri, Parmarth Niketan, Bharat Mandir, Geeta Bhawan, Tera Manzil Temple, Rishikund Tank e Raghunath Temple, entre outros.

Dentre todas as cidades que visitei na Índia, Rishikesh foi a que me pareceu a mais autêntica, mais característica, talvez aquela que traz o que eu esperava ver por lá: o caos e o divino, dançando um baile muito humano. Mas, como disse Buda : “Não acredite em nada apenas porque a maioria concordou que é a verdade. Não acredite em mim. Você deveria testar qualquer coisa que as pessoas dizem através de sua própria experiência antes de aceitar ou rejeitar algo."

Fotos: Alana de Abreu Trauczynski


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