Você sabe o quanto o padrão de beleza está difundido em nossa sociedade? Quem costuma frequentar supermercados, provavelmente, já deve ter reparado na quantidade de prateleiras destinadas a exibir as mais variadas propostas da indústria de cosméticos.
É comum se deparar com um corredor inteiro – até mais do que isso – repleto de promessas que vão desde o rejuvenescimento instantâneo à eliminação milagrosa de celulites, cicatrizes e espinhas.
Dada a enorme quantidade de opções, é praticamente impossível analisar todos os rótulos e entender os riscos e benefícios oferecidos em cada produto para se adequar a um padrão de beleza.
Esse quadro produziu movimentos e ativistas que buscam repensar não apenas a ditadura da beleza, mas nossa relação com o consumo.
Para a psicóloga e ativista italiana Margherita Forgione, esse tipo de questionamento sobre padrão de beleza é fundamental quando se fala em consumir com o objetivo de alcançar um formato “livre de agressão ao meio ambiente aos animais e às pessoas”.
A partir dessa ideia, ela propõe: “experimente começar a produzir, você mesmo, o necessário para sua manutenção, incluindo os produtos de higiene e cuidado pessoal”.
Para Margherita, o excesso de informações e promessas desnecessárias para se identificar em padrões de beleza significam que o consumo, visto como até então como essencial, tornou-se um exagero.
Um dos maiores desafios atuais é pensar formas mais inteligentes e harmoniosas de manutenção da vida sem deixar de consumir aquilo que realmente precisamos.
Ser mais sustentável significa criar uma nova relação com o consumo e questionar os padrões estabelecidos pela mídia e a indústria da beleza.
Nas palestras, cursos e oficinas que ministra sobre padrão de beleza e cosméticos naturais, como a que ocorreu no Centro Cultural São Paulo, Forgione ensina que produzir pasta de dente, desodorante, shampoo e sabonete utilizando somente ingredientes sustentáveis e econômicos não é apenas uma atitude possível, mas algo simples e que deveria ser acessível a todos.
“Apesar de pequena, essa é uma ação necessária e importante dentro de uma cadeia de outras ações que ajudam as pessoas serem mais independentes do mercado e da indústria”, diz Forgione.
Participante ativa do Movimento per la Decrescita Felice, de Padova (Itália), há alguns anos, ela dedica parte de sua militância sobre padrões de beleza a ministrar, gratuitamente, oficinas de confecção caseira de itens de uso diário, como alimentos, produtos de limpeza, higiene pessoal e beleza, ou – como prefere dizer – direciona seu trabalho ao ensino da “autoprodução”.
Autoprodução é um termo econômico que significa, segundo Forgione, “produzir o suficiente para suprir as necessidades do consumo”.
Dentro da cosmetologia natural, ela aponta alguns produtos que, além de serem considerados “verdes” por não agredirem a natureza, suprem as necessidades de higiene e bem-estar do corpo humano se adequando a qualquer padrão de beleza.
A cada preparação finalizada, a italiana coleta e anota informações compartilhadas pelos presentes.
Todas as oficinas do projeto “É possível ser feliz decrescendo?”, do qual a autoprodução faz parte, buscam incentivar a plena participação de todos os envolvidos no encontro de um padrão de beleza saudável e sustentável.
“Essa é outra coisa que eu gosto muito no meu trabalho. Eu vivo uma aproximação com os seres humanos, com a natureza quando dou oficinas ao ar livre, com a simplicidade”, pontua Forgione.
Assim como Margharita, Monaliza Soares, farmacêutica por formação e artesã de cosméticos naturais por paixão, acredita que usar um produto natural, como o próprio termo sugere, “é uma forma de estar em contato com a natureza, com seus ciclos e uma forma de cuidar dela”.
Para Soares, é importante também ressaltar aspectos como a biodegrabilidade dos seus componentes e embalagens, ressaltando um padrão de beleza que evite qualquer tipo de ação que prejudique o meio ambiente.
O processo produtivo desse tipo de padrão de beleza quase sempre manual dos cosméticos verdes é o que Fefa Pimenta, também artesã de cosméticos naturais, destaca e considera como uma terapia eficaz.
“Estamos do lado do conceito de pessoas que fazem cosméticos para pessoas”, diz. Nesse aspecto, sua colega de profissão, Soares, emenda: “acaba sendo uma extensão de um estilo de vida, que inclui alimentação, relação com as pessoas, respeito à natureza".
Para ela, o pano de fundo de seu trabalho sobre padrão de beleza é o "questionamento de um modelo capitalista que estimula um consumo desenfreado".
Questionadas sobre as dificuldades para produzir cosméticos e outros produtos em casa para criar um novo tipo de padrão de beleza, Soares e Pimenta concordam que quem dá preferência a uma forma de cuidado mais orgânica, livre de produtos químicos e testes em animais terá mais trabalho e enfrentará uma gama de opções consideravelmente menor. Porém, segundo elas, esse esforço vale a pena.
A chamada “beleza verde” ou “cosmetologia natural”, embora cada vez mais presente em lojas (online e físicas) e feiras especializadas, ainda não chegou às prateleiras dos hipermercados e redes de farmácia.
“Temos um acesso muito restrito em termo de Brasil a certos ingredientes naturais das formulações, principalmente para quem produz artesanalmente. Isso acaba por enfraquecer a produção em menor escala”, analisa Pimenta.
Monaliza Soares complementa que apesar de ter menor competitividade em relação aos preços dos cosméticos industrializados, a opção natural atende um público mais sensível, que valoriza a forma como eles são feitos.
“O produto artesanal ainda tem esse diferencial, de ser feito em lotes pequenos, com carinho”, ressalta.
Além de questionar padrão de beleza, Forgione acredita que esse movimento é também uma reação às consequências da crise econômica.
“A Itália viveu um período de consumismo excessivo há dez, vinte anos atrás, mas agora, com a crise, as pessoas precisam criar soluções”, analisa.
“Na Europa, por muito tempo foi propagado um estilo de vida baseado na política de bem-estar apenas pautada pelo cenário econômico”, diz, emendando em seguida que, para ela, o mesmo mecanismo deveria ter outro significado.
Não vejo o bem-estar como algo econômico, não depende de quando dinheiro você tem, mas de outras coisas e de como você ocupa seu tempo, por exemplo, quanto tempo você gasta falando com seus amigos, sua família
Quanto ao bem-estar dentro do padrão de beleza, Forgione é muito clara: “não vejo o bem-estar como algo econômico, não depende de quando dinheiro você tem, mas de outras coisas e de como você ocupa seu tempo. Por exemplo, quanto tempo você gasta falando com seus amigos, sua família e, claro, da importância que você dá para essas coisas.”
Quando chegou Brasil para concluir o doutorado em biopsicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, deu início à sua participação no projeto “É possível ser feliz decrescendo?” que englobou oficinas, palestras e rodas de conversa sobre sustentabilidade, consumo, padrão de beleza e contato com a natureza.
Quatro dias antes de retornar a Europa, questionada se, de fato, “É possível ser feliz decrescendo?”, sua resposta vai além do sim. “Decrescer pode ser sinônimo de um enorme crescimento pessoal”, afirma, com serenidade.
Para buscar um padrão de beleza mais natural, que tal anotar as receitas e começar, você mesmo, a produzir pasta de dentes, desodorante e sabonete corporal com ingredientes 100% naturais? Confira abaixo:
Para utilizar, basta depositar o produto sobre a escova de dente com o auxílio de uma colher e umedecê-la antes de levar à boca.
A partir de óleos essenciais e bicarbonato de sódio, ela ensina, também, uma forma orgânica de evitar a transpiração excessiva. Também explica os benefícios: “enquanto o óleo de sálvia possui ação desodorante, o tea tree, conhecido por ser um antibiótico natural, evita a proliferação de bactérias no local”.
Para realizar ambas as receitas, misture tudo até que todos os componentes formem um pó seco e homogêneo.
Tanto o desodorante quanto a pasta de dente duram até seis meses se conservados em um pote de vidro fechado e evitando o manuseio constante.
Para quem quer se aventurar nos shampoos, Margherita Forgione compartilha outra receita orgânica:
Dica: prefira embalagens de vidro ou recicle outras antigas para armazenar.
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