Poucas pessoas são completamente satisfeitas com o próprio cabelo. Quem tem cabelo liso quer enrolá-lo. Já quem possui cabelo ondulado ou cacheado deseja tê-los lisos. Para atender esses anseios, o mercado de cosméticos cria incessantemente novas técnicas para alterar a estrutura dos fios. Surgem nomes como escova definitiva, japonesa, progressiva, entre outras e as opções são tantas que as consumidoras não conseguem decidir o que utilizar.
Muitas técnicas de alisamento possuem formol em suas composições. Em 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso do composto com finalidades cosméticas capilares. Além de possuir cheiro forte e ser tóxico, pesquisas alegam que ele é cancerígeno.
Em curtos períodos, a exposição à substância pode causar ardência nos olhos, garganta e nariz, náuseas e irritação na pele, conforme publicação do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos. A decisão da Anvisa foi movida principalmente pela crescente procura por métodos rápidos e caseiros de alisamento.
Em 2009, o órgão regulador publicou a resolução RDC 36, que proíbe a venda de produtos com formol em drogarias, farmácias, supermercados, empórios e lojas de conveniência. O risco à saúde é tão grande, que a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Larc, na sigla em inglês) classifica as ocupações de cabeleireiro e barbeiro no grupo 2A.
Isso significa que, durante o trabalho, esses profissionais ficam expostos a agentes químicos classificados como prováveis cancerígenos. Um deles é o formol. Quando inalado ou em contato com a pele, mesmo que em pequenas quantidades, ele produz reações alérgicas graves e pode desencadear problemas graves como asma.
Quem disse que cabelo crespo é feio? Assumir os cachos pode trazer benefícios até para saúde
Boa parte dos problemas de saúde causados por produtos como o formol está vinculada a uma equivocada noção de beleza, segundo a qual cabelos lisos são considerados mais "bonitos" que os cabelos crespos. Essa ideia divulgada pela indústria da moda e beleza produz equívocos ainda maiores. Uma prova disso é o caso do Hospital Santa Joana, em São Paulo.
Em 2013, a maternidade publicou em seu blog uma mensagem que abordava a questão da seguinte forma: "Minha filha tem o cabelo muito crespo. A partir de qual idade posso alisá-lo?". Muitas pessoas reclamaram do texto e acusaram o hospital de reforçar um estereótipo. Com a polêmica, a instituição publicou um pedido de desculpas em sua página no Facebook.
Essa mesma questão levou o humorista e ator norte-americano Chris Rock a produzir e dirigir o filme Cabelo Bom (Good Hair) no qual ele fala da relação das mulheres negras dos Estados Unidos com seus cabelos. Chris, que é pai de duas meninas, afirma que decidiu fazer o filme depois que suas filhas chegaram da escola e perguntaram por que elas não "tinham cabelo bom".
A mesma polêmica levou a escritora Kiusam de Oliveira e a ilustradora Taisa Borges a produzirem o livro O mundo no Black Power de Tayó, no qual mãe e filha enfrentam a ditadura dos cabelos lisos e a ideia preconceituosa e dualista de "cabelo bom" e "cabelo ruim". A personagem Tayó nos ensina que todos os cabelos são lindos. Não há um tipo de cabelo mais bonito que o outro.
Ilustração do livro infantil O mundo no Black Power de Tayó, que nos ensina que todos os cabelos são lindos
Formol é nome popular do elemento formaldeído, conhecido também como aldeído metílico, óxido de metileno e metanal. Ele é usado em materiais de construção, como prensados de madeira (compensados e MDF), na produção de adesivos e materiais de isolamento. Em indústrias, o formaldeído serve como bactericida e desengordurante de ferramentas.
Na área médica, é empregado para preservar tecidos mortos em laboratórios de pesquisa. Nos salões de beleza, suas propriedades são úteis para alterar a estrutura dos cabelos e deixá-los mais lisos, principalmente quando é aplicado com o calor do secador e da prancha alisadora.
Os efeitos colaterais mais comuns da aplicação do formol nos cabelos são irritação, coceira e descamação do couro cabeludo, queda do cabelo, ardência e queimadura da pele. Falta de ar, dores de cabeça, desmaios, feridas nos olhos, na boca e no nariz e enjoos também podem ser causados pela inalação da substância, alerta a Anvisa.
O contato do formol com a pele também pode trazer consequências negativas. Pele esbranquiçada e áspera, sensação de anestesia local ou necrose no tecido superficial podem ser resultados desse contato. Em um período longo, a exposição pode gerar dermatite ou hipersensibilidade, ressecamento, e feridas na pele, ou até mesmo câncer, segundo informação do Instituto Nacional de Câncer.
Não há um determinado tipo de cabelo que seja mais bonito que o outro
Os salões de beleza já haviam sido considerados locais perigosos para os profissionais e para os consumidores. Em 1993, A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer classificou os agentes químicos ali presentes como provavelmente cancerígenos. O primeiro estudo que relacionou o formol ao aumento do risco de desenvolvimento de câncer data de 1980.
A descoberta fez com que a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos considerasse o formol como produto cancerígeno. Em 2011, o Programa Nacional de Toxicologia do governo dos Estados Unidos evidenciou a relação entre a exposição ao produto e o aumento do risco de leucemia e câncer no cérebro. Os estudos constataram também que a taxa de incidência de doenças em profissionais que têm contato constante com o formol, como anatomistas e embalsamadores, é muito maior do que a do resto da população.
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