As propagandas de sabonetes antibacterianos costumam apresentar o produto como a melhor forma de proteger você e sua família de bactérias e, consequentemente, de doenças. Depois de quatro décadas de pesquisas, no entanto, não foram encontradas provas de que eles são mais eficientes que os sabonetes comuns. O órgão regulador norte-americano de alimentos e medicamentos Food and Drug Administration (FDA) anunciou, em dezembro de 2013, uma mudança das regras para os fabricantes do produto no país. As empresas terão de provar sua eficácia e segurança1. Porém, até agora não há nenhum estudo de peso provando a eficiência desses sabonetes.
O bactericida triclosan está na mira da investigação da entidade. Estudos com animais em laboratório já mostraram que a substância interfere nos níveis de testosterona, estrogênio e hormônios da tireoide. As pesquisas agora tentam evidenciar se a substância pode elevar os riscos de infertilidade, puberdade precoce e câncer em seres humanos.
Uma compilação de artigos científicos publicados entre 1980 e 20062 concluiu que os sabonetes antibacterianos não apresentam maiores taxas de prevenção de doenças e confirmou que o triclosan traz efeitos indesejáveis para o a saúde humana. Ele é ineficaz contra os vírus e atinge apenas algumas bactérias, o que favorece o surgimento de alguns microrganismos imunes a antibióticos. O triclosan não é usado apenas em sabonetes antibacterianos. Algumas pastas de dentes, aparatos de cozinha, chupetas, mamadeiras e brinquedos também podem apresentar a substância em sua composição.
Alguns dos estudos compilados analisaram a quantidade de bactérias presente nas mãos antes e após a lavagem. Quando comparados, os sabonetes antibacterianos e os comuns apresentaram taxas semelhantes de remoção de bactérias.
A diferença entre eles está na forma de agir. Os sabonetes tradicionais apenas removem as bactérias da pele, enquanto os antibacterianos matam bactérias específicas. Em ambas as formas, temos a pele limpa. Os pesquisadores apontaram que o triclosan de fato facilita a eliminação das bactérias, mas chamam a atenção para o fato de que, para que ele tenha efeito, seria necessário lavarmos as mãos por cerca de dois minutos. Esse é um dos motivos que rechaça a ideia de efeito de longo prazo dos sabonetes.
O mais adequado, segundo os pesquisadores, seria lavar as mãos muitas vezes ao dia com sabonetes comuns e usar gel antisséptico à base de álcool após as lavagens. Esses géis matam os germes por desidratação e as bactérias não conseguem desenvolver resistência ao álcool com facilidade.
De acordo com as informações do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC – Centers for Disease Control and Prevention), entidade de controle epidemiológico dos Estados Unidos, lavar as mãos é a maneira mais eficaz para reduzir em até 50% a disseminação de doenças infecciosas por contato direto. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) oferece algumas dicas sobre como manter as mãos livres de bactérias3:
O sabonete é formado por ácidos graxos e triglicerídeos (que formam a parte ácida) e hidróxido de sódio (uma base) que resulta em um sal. Essa mistura separa os ácidos graxos dos triglicerídeos e faz com que eles se unam com os íons do hidróxido de sódio. E por que é importante falar tudo isso?
Esse processo químico permite ao sabonete ter moléculas que se ligam à água (hidrofílicas) e outras que a repelem (hidrofóbicas). A parte hidrofílica une as substâncias hidrofóbicas, como sujeiras, óleos ou bactérias com os ácidos graxos (também hidrofílicos) presentes no sabonete. Forma-se então uma bolha de água ao redor dessas substâncias, o que facilita sua remoção. Essa atuação é a mesma nos sabonetes comuns e nos antibacterianos.
Foto: jorgeantonio / Thinkstockphotos; Keith Williamson/ Flickr: Soap bubbles 4 / CC BY 2.0
Veja também:
Sabonete de glicerina serve para que?
Substâncias tóxicas utilizadas pela indústria de cosméticos
1. FDA. FDA issues proposed rule to determine safety and effectiveness of antibacterial soaps. Disponível em: <https://www.fda.gov/NewsEvents/Newsroom/PressAnnouncements/ucm378542.htm>. Acesso em: 18 dez. 2013.
2. AIELLO, A. E.; LARSON, E. L.; LEVY, S. B.; Consumer antibacterial soaps: effective or just risky? Tufts University.Disponível em: <https://www.tufts.edu/med/apua/practitioners/infection_control_11_3141468025.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2013.
3. ANVISA. Higienize as mãos: salve vidas. Disponível em: <https://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/higienizacao_simplesmao.pdf>. >. Acesso em: 26 ago. 2013.