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Filosofia

Matthieu Ricard e a revolução do altruísmo

Monge francês, considerado o homem mais feliz do mundo, lança seu novo livro no Brasil e defende sociedade menos consumista
Bruno Torres
27/09/19

O monge budista Matthieu Ricard deixou Katmandu, no Nepal, três dias antes do terrível terremoto que afetou drasticamente todo o país no último 25 de abril. A motivação para sair do monastério Shechen em que vive foi a divulgação de seu novo livro A revolução do altruísmo. Ele, que optou viver naquela região, disse que criou uma página em seu site pessoal para recolher doações para ajudar as vítimas da catástrofe.

O monge francês, que há cerca de 30 anos abandonou a carreira no campo da biologia molecular no renomado Instituto Pasteur, ficou conhecido mundialmente em 2012, quando exames de imagens coletados durante um experimento com meditação levaram os cientistas a classificá-lo como o “homem mais feliz do mundo”. De passagem pelo Brasil, Ricard bateu um papo com jornalistas na manhã dessa segunda-feira (18) na Associação Palas Athena para falar sobre sua nova obra, as influências das redes sociais e o desafio da cultura ocidental de abandonar os hábitos consumistas.

No começo do encontro, Ricard pronunciou as únicas palavras que sabia em português: “Viva a revolução do altruísmo”. O dito mistura a célebre frase de Che Guevara com o conteúdo de seu novo livro. Durante a conversa, o monge explicou que a obra se debruça sobre três grandes desafios atuais da humanidade: no curto prazo, garantir que todos tenham condições dignas de vida; no médio, melhorar a qualidade de vida de todos os seres; e no longo prazo, proteger o planeta e garantir a segurança das gerações futuras. O caminho possível para atingi-los é, segundo ele, aumentar a consideração pelos outros e providenciar condições para que as pessoas floresçam.

“O altruísmo existe. Você pode desenvolvê-lo internamente, encaixá-lo em sua cultura e ela se tornará mais cooperativa”, afirma Ricard. “Apesar de toda ganância, o altruísmo está crescendo. Há dez anos, por exemplo, empresários não iriam escutar se você falasse sobre a importância da compaixão. Hoje é diferente, percebo que há mais interesse”, diz.

Questionado sobre como as redes sociais afetam o altruísmo, ele respondeu que elas são como uma ferramenta. “O Facebook pode ser usado para divulgar informações e campanhas de crowdfunding, por exemplo, ou pode ser apenas uma janela para o narcisismo.” Portanto, segundo o monge, depende do uso que cada indivíduo faz das plataformas de mídias sociais.

Consumismo: a inversão de valores

“Ter coisas não te faz, necessariamente, uma pessoa mais feliz, mas cultivar boas relações, ter qualidade de vida, isso sim te deixa mais feliz”, afirma. Segundo Ricard, quando se vive na cultura capitalista, cabe a nós escolher qual é a prioridade.

“Eu sou tão feliz, porque não tenho uma casa ou um carro. É libertador. Eu odiaria ter de ficar consertando coisas (risos) e quando viajo, posso simplesmente ir.” Ele acredita que todos nós devemos praticar o desapego das coisas materiais. Um dos caminhos para essa mudança é a prática da meditação.

Para o monge, tudo é uma questão de treinar a mente. “Você não vai aprender se não treinar. É preciso gastar tempo meditando e não há problema nenhum nisso”, diz. Os resultados virão com o tempo, acredita. “A neurociência e a epigenética comprovam que a plasticidade do cérebro e a expressão dos genes podem ser alteradas se mudamos nosso comportamento”, explica.

Desde 2000, a Fundação Karuna-Shechen, criada por Ricard, desenvolve e gerencia programas de cuidados primários de saúde, educação e serviços sociais para populações populações pobres da Índia, Nepal e Tibet. Confira a palestra mais recente de Ricard no TED.

Colaboração de Daniel Cunha.


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