fbpx
Logo portal NAMU
HOME » Filosofia » Filosofias Orientais » Taoísmo

Filosofias Orientais

O caminho que é o retorno ao essencial

Para o taoísmo, caminhante é aquele que vive no presente e segue a constância do movimento da vida
Bruno Torres
15/09/15

O taoísmo apresenta uma maneira que pode transformar nossa vida numa jornada mais leve e prazerosa. A própria palavra “tao”, em sua escrita original chinesa (ideograma 道), indica a solução para descomplicar a vida: fazer da caminhada o próprio caminho, isto é, sem o ato de caminhar não existe nem caminho nem caminhante. António Machado (célebre poeta espanhol, 1875-1939), nos versos de Proverbios y Cantares, sintetiza a singeleza do Tao: “Caminhante, são teus passos o caminho e nada mais/Caminhante, não há caminho/Faz-se o caminho ao andar”.

O caminhante é aquele que vive no presente, um mero observador que se deixa conduzir pela naturalidade e constância do movimento da vida, seguindo sua vocação, sem conflitos, sem atritos, sem desperdícios. Sempre guiado pelo coração, o caminhante prossegue com equilíbrio e moderação, conduzindo a vida de modo sensato e bem humorado.

Muitas vezes, para não dizer na maioria das vezes, empreendemos nossa jornada sem prestarmos atenção alguma na estrada que estamos a trilhar. Apenas seguimos o que comumente todas as pessoas fazem: estudar, trabalhar, consumir, estudar mais para trabalhar mais, trabalhar mais para ganhar mais, ganhar mais para consumir mais, sempre mais, mais e mais. Até que chegamos a um ponto de retrocesso: menos disposição, menos saúde, menos energia, e nenhum tempo a mais. E a vida se foi sem nos darmos conta de que não vivemos, fomos vividos.

Por outro lado, quando estamos sintonizados com o ritmo natural da existência, podemos nos harmonizar com as mudanças em todos os acontecimentos, trilhando a extensão de nossa rota passo a passo, num compasso adequado ao fluxo evolutivo de todas as coisas, com humildade e suavidade.

Um passo de cada vez

Na simplicidade, manifesta-se o caminho que é o próprio caminhar. A estrada já se encontra sob nossos pés de caminhante. Então, naturalmente, estaremos onde deveremos estar, na ocasião oportuna, da maneira adequada, seguindo o caminho com o coração, o caminho da felicidade. “É inútil desperdiçar a vida num caminho se este não tem coração”, diz dom Juan, mestre indígena norte-americano, ao aprendiz Castañeda, no livro “Uma estranha realidade.

E para que isso se preserve, devemos nos perguntar com frequência: qual é a minha natureza? O que me interessa, o que me faz bem, o que eu posso fazer bem? E depois, fazer aquilo que se escolheu, fazendo-o com dedicação, com segurança, através da flexibilidade do pensamento, da ação ponderada e do coração aberto aos movimentos do mundo.

O tao transmite a ideia de simplicidade e naturalidade através do próprio ideograma: caminhar consigo mesmo, caminhar fazendo o próprio caminho.

A arte de observar

No dia a dia, a necessidade da observação (no tempo presente) é o início de uma possível alteração da rotina. Só o estar presente pode trazer mudanças preciosas. Afinal, você poderá não mais perder tempo com situações pretéritas ou futuras que ocupam grande parte de nossas mentes e emoções. Assim, sem entretenimentos, o olhar pode se transformar e transformar o valor daquilo que está sendo presenciado, podendo resultar daí escolhas mais conscientes e pontuais.

No rumo escolhido

A partir do momento que o observar torna-se um processo natural – observar os sentimentos, comportamentos, por exemplo – é possível surgir a atenção. Atenção em relação àquilo que se está vivenciando, sem preocupações, sem lamentações, onde as ações são naturais, não calculadas, onde se segue o fluxo espontaneamente, simplificando as possibilidades.

Se estivermos aguardando o elevador e ele não vem, basta descermos a escada, sem alterar o humor, sem criar julgamentos desnecessários. Então, se pudermos viver este momento em silêncio, em pureza, em serenidade, a vida poderá ser transformada. Tranquilamente, permitimos que o rio desague no oceano. Não é preciso empurrar o rio.

Nossas distrações

Desde tenra idade, somos naturalmente distraídos por fatores externos, como as cores, os sabores, os sons, os toques. Crescemos e as distrações crescem ao nosso redor à medida em que ampliamos nossos conhecimentos. Fantasias nos seduzem, o brilho da aparência desvia nosso coração, fazendo nascer sentimentos que nos distraem constantemente. A partir desse momento, a ilusão poderá dificultar ainda mais a possibilidade de percebermos o roteiro que traçamos para ser trilhado, resultando em dispersão generalizada e desvio de rota.

Um projeto de vida

Como um mapeamento de nossa trajetória, uma alternativa é elaborar um projeto de vida, o que pode nos trazer orientação e estímulo para seguir em frente. Nos moldes do caminhante do taoísmo, ao trilhar o caminho projetado voltamos nossos olhos para dentro, em busca do próprio coração (do sentimento verdadeiro em relação ao que estamos a realizar).

Com essa postura interiorizada, conquistamos a chance de conseguir transcender toda preocupação exterior, no que se refere às distrações habituais. Assim, nossa percepção pode ser depurada e nossas escolhas ficam mais simples e objetivas, afinal, a vida consiste de pequenas coisas. Se aprendermos como desfrutar essas pequenas coisas, o ordinário se tornará extraordinário.

Foto: Reprodução; Thinkstockphotos


Recomendados
Gerais

9 benefícios do Tai Chi e como começar

Não se sabe ao certo a origem do Tai Chi Chuan,...

Gerais

A filosofia estóica e sua relação com a nossa vida

Não é segredo que desde que as primeiras corren...