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O que é

A psicanálise é um conjunto de teorias e métodos psicológicos baseados no trabalho pioneiro de Sigmund Freud, o qual procurou inicialmente entender a natureza humana, observando suas reações e atos. É um método que se pauta na exploração do inconsciente a partir da livre associação, por parte do paciente, e da interpretação, por parte do psicanalista.
Hoje, após a sistematização feita por Freud, a psicanálise permitiu compreender com mais profundidade a presença do inconsciente nos sonhos e na vida diária das pessoas. Freud, em seu trabalho, nos mostrou o que está por trás de nossos “enganos de linguagem, atos falhos, esquecimentos de nomes e outros”.
De certa forma, a psicanálise é um processo gradual de autoconhecimento que se dá através das ferramentas de análise criadas por Freud e aperfeiçoadas por seus seguidores. O próprio Freud, num verbete para a Enciclopédia Britânica de 1922, assim definiu sua invenção:
Psicanálise é o nome:
– De um procedimento para a investigação dos processos mentais que de outra forma, são praticamente inacessíveis.
– De um método baseado nessa investigação para o tratamento de distúrbios neuróticos.
– De uma série de concepções psicológicas adquiridas por esse meio e que se somam às outras para formarem progressivamente uma disciplina científica.

Origem do nome

Psicanálise é a junção das palavras “psico” e “análise”. A primeira vem da forma grega “psique”, que pode ser traduzida como “alma” ou “princípio da vida”. Já análise, por sua vez, também surgiu de um termo grego: “análysis”, o qual significava “quebrar em pequenas partes”. Posteriormente, no latim, analysis acabou significando o ato de separar algo complexo em seus elementos mais simples. Psicanálise, portanto, seria algo como “descomplicação da alma”.

Biografia

Criador Sigmund Freud, pai da psicanálise e fundador da psicoterapia, nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiburg, cidade do antigo império Austro-Húngaro — atual Prostejov, na República Tcheca. Era filho do comerciante de lã Jacob Freud (1815-1896) e de Amalie Nathansohn (1835-1930). Foi um dos intelectuais mais brilhantes e influentes do século 20.

Apesar dos inúmeros criticismos, seu método de psicanálise e seus livros serviram para modificar a interpretação que se fazia da sociedade e da cultura até então.

Depois de Freud, temas como religião, sonhos e civilizações antigas foram profundamente transformados. É possível inclusive dizer que a história da sexualidade, no Ocidente, está divida entre antes e depois de Freud.

Primeiros estudos Freud inicialmente tentou compreender a medula. Depois, desenvolveu um interesse científico que buscava identificar os benefícios do uso medicinal da cocaína. No entanto, seu perfil arrojado de pesquisa acabaria produzindo resultados desastrosos.

Nos primeiros anos de sua carreira acadêmica, em 1873, quando ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena, fez diversas pesquisas e experiências envolvendo o uso de cocaína. Chegou inclusive a mergulhar em diversas experiências com o uso da droga em si mesmo e em outros (amigos, parentes e pacientes).

Freud chegou a produzir uma monografia, intitulada Sobre a Coca, e publicá-la em 1884. Tais estudos e a força com que Freud se dedicou às experiências com a droga. Seu amigo Fleischl, que era viciado em morfina, foi convencido por Freud a tratar o vício com o uso de cocaína. Fleischl acabou morrendo. Depois disso, Freud encerrou todos seus trabalhos e pesquisas em torno da coca.

Paris

Em 1885, após essa tragédia, Freud decidiu passar uma temporada em Paris com o Dr. Jean-Martin Charcot (1825-1893), no Hospital Salpêtriere. O médico francês utilizava a hipnose para tentar descobrir as causas da histeria em mulheres.

Após 19 semanas em Paris, Freud ficou convencido de que alguns distúrbios poderiam ter origem psíquica. Charcot, por meio da sugestão hipnótica, conseguia fazer que os sintomas produzidos pela histeria desaparecessem. Tais tratamentos revolucionaram o pensamento de Freud. Esse foi o primeiro passo para a quebra de paradigma, segundo a qual algumas doenças tinham fundo psíquico.

Surgimento da psicanálise

Em sua volta à Viena, Freud começa a utilizar a hipnose no tratamento das pacientes, método que logo abandonou, pela ausência de resultados positivos. Passou a fazer o uso da livre associação, a qual é utilizada até hoje pelos psicanalistas.

Em 24 de junho de 1895, lançou, junto com Dr. Joseph Breuer, a obra Estudos sobre a Histeria. Um ano depois, criou o termo “psicanálise”.

A data do nascimento efetivo da psicanálise é 1900, quando Freud publicou A Interpretação dos Sonhos. Em 1902, ele fundou a Sociedade de Psicanálise. Em 1908, ajudou a realizar o primeiro congresso internacional de psicanálise, na cidade de Salzburgo.

O segundo congresso de psicanálise foi realizado dois anos depois. Freud também criou a Associação Psicanalítica Internacional (IPA), a qual foi inicialmente presidida por Carl Gustav Jung (1875-1961). No entanto, em 1913, os dois romperam a amizade e o trabalho tomou caminhos diferentes.

Nazismo

Tempos depois, em 1933, Hitler acusou a psicanálise de ser uma ciência judaica e queimou os livros de Freud, que então já era um dos intelectuais mais famosos do planeta.

Em 1937, Freud dissolveu a sociedade de Psicanálise de Viena. Um ano depois, o exército nazista invadiu a Áustria e ele e sua filha Anna Freud foram detidos por algumas horas. Freud foi obrigado pelo regime nazista a abrir publicamente suas contas.

Com o passar do tempo, a perseguição nazista aumentou e Freud e sua família acabaram deixando a Áustria. Londres O pai da psicanálise viveu seus últimos dias em uma casa no número 20 da Maresfield Gardens, no bairro de Hampstead, em Londres. Em 23 de setembro de 1939, aos 83 anos, depois de lutar 16 anos contra o câncer, Freud faleceu na capital britânica.

Após a criação da psicanálise e de sua utilização no tratamento de pacientes, o próprio Freud expandiu os conceitos psicanalíticos para análises antropológicas, filosóficas e artísticas.

Livros como O Mal Estar na Civilização, Moisés e o Monoteísmo, Totem e Tabu tratam do contrato social e da função da religião para homem.

No caso de O Moisés de Michelangelo, Freud especula sobre a relação da obra de arte e as motivações inconscientes do artista.

Muitos psicanalistas seguem, nos dias de hoje, o método inicialmente estabelecido por Freud. Naturalmente, em seus mais de 100 anos de existência, a psicanálise sofreu algumas transformações.

Atualmente, o conjunto de teorias criado por Freud é o pano de fundo para uma técnica que auxilia o ser humano compreender melhor suas contradições, superar suas angústias e tornar-se emocionalmente mais seguro.

A força dos trabalhos de Freud é tão grande que influenciou e continua influenciando inúmeros psicanalistas.

Entre eles estão:

  • Sandor Ferenczi,
  • Melanie Klein,
  • Ronald Fairbairn,
  • Wilfred Bion,
  • Herbert Rosenfeld,
  • Jacques Lacan,
  • Donald Winnicott 
  • Donald Meltzer.

Atualidade

A neuropsicanálise, iniciada pelo cientista Mark Solms, tenta comprovar as teses psicanalíticas, em especial a existência do inconsciente, por meio das modernas técnicas de neuroimagem.

Para muitos intelectuais, a neuropsicanálise é o encontro da filosofia e da psicanálise com a neurociência.

Atualmente, muitos psicanalistas consideram as medicações fundamentais ao tratamento, o que em tese significa aceitar teses da psicologia biológica. França e Argentina são atualmente países onde o método psicanalítico tem grande penetração, inclusive no sistema estatal de saúde.

A psicanálise também deixou sua marca nos mais diversos campos da cultura. Os filmes de Woody Allen e Bergman sempre fazem relação aos conceitos freudianos.

Autores como Thomas Mann, Philiph Roth e mesmo Guimarães Rosa trazem temas como sonhos, inconsciente e recalque em seus personagens.

O pintor Salvador Dali almejava retratar o inconsciente em suas obras.

Já médicos não psiquiatras, como endocrinologistas e pediatras, recomendam a terapia criada por Freud a seus pacientes quando entendem que parte dos sintomas é de “fundo emocional” ou inconsciente.

Fundamentos

CURA PELA FALA: Descobrir, na fala dos pacientes, marcadores clínicos que permitam curar pela palavra. No século 19, muitas pessoas sofriam de histeria, o que era visto como um mistério para a medicina de então.

O transtorno apresentava pacientes com desmaios, paralisia, anestesia de parte do corpo, convulsões e até mesmo perda de voz. Alguns médicos descobriram que era possível influenciar esses doentes através da hipnose.

Os doentes, quando hipnotizados, conseguiam superar os males. Isso levou Freud a descobrir a força do inconsciente e sua enorme participação no funcionamento mental de todos nós. Ele percebeu que pacientes, quando protegidos pelo segredo profissional existente entre analista e analisado, sentiam alívio ao falar de seus medos, angústias e desejos. Portanto, a cura, na psicanálise, reside em dar sentido às experiências vividas ou imaginadas através da análise da fala.

INCONSCIENTE: Para Freud o inconsciente se desenvolve conforme a história de cada indivíduo. Nele ocorrem nossos conflitos internos, que, dependendo da maneira de como os enfrentamos, podem desembocar em uma doença ou ajudar a impulsionar o desenvolvimento pessoal.

A prática criada por Freud se baseou em noções como inconsciente reprimido e recalque originário. Somente quando os superamos nós podemos promover nosso próprio desenvolvimento.

LIBIDO: Segundo Freud, a libido é a energia motriz dos instintos da vida, que permeia toda a conduta ativa e criadora do homem. Ela está na está na base da agressividade e da criatividade humana. Tal conceito significa, basicamente, um instinto fisiológico ou uma energia psíquica associada às nossas vontades sexuais.

SEXO: Em seu livro, A Intepretação dos Sonhos, Freud descreve duas forças opostas: a sexual, que pode ser erótica ou apenas fisicamente gratificante, e a agressiva ou destrutiva. Para ele, tais forças eram antagônicas. No entanto, essa luta não era algo consciente.

Ao contrário, a maioria das nossas ações e pensamentos resulta do conflito entre tais forças instintivas, que se combinam continuamente e formam nossa personalidade. Freud acreditava que o sexo influencia e norteia toda nossa psique.

ID, EGO e SUPEREGO: Freud também criou os conceitos id, ego e superego. Ele acreditava que nossa mente se dividia nessas três instâncias psíquicas. Segundo ele, o consciente é o ‘ego’ do sujeito. O inconsciente é desconhecido pelo ego. As pulsões ocupariam o id.

O superego é responsável por vigiar e punir os desejos e os pensamentos do sujeito. Além disso, ele garante a capacidade de viver em sociedade, pois representa as regras. Segundo Freud, tal estrutura não é inata.

O ego e o superego vivem em conflito e tensão. De um lado existem os desejos e do outro as proibições. Em determinadas formas, tal tensão pode tornar-se patológica. Quando há exacerbação na vigilância e na punição, pode-se desenvolver uma patologia já que o sujeito fica impossibilitado de desejar.

Quando há exacerbação nos desejos, pode-se desenvolver também uma patologia, pois a norma não está permeando os desejos. É importante que exista um equilíbrio entre as instâncias. É na psicoterapia que o busca-se o equilíbrio.

COMPLEXO DE ÉDIPO: Essa noção foi desenvolvida por Freud a partir da tragédia Édipo Rei, do autor clássico grego Sófocles — na qual Édipo acaba por matar o próprio pai e casar-se com sua mãe.

Segundo esse complexo, a criança tem uma ligação afetiva intensa com a mãe, a qual é todo seu universo. Com o tempo, a criança identifica que a mãe também deseja outras coisas que não ela própria.

A mãe deseja, por exemplo, o trabalho, o parceiro, os irmãos. A criança começa a identificar que ela não possui uma relação única com a mãe. A partir daí ela procura perpetuar essa relação afetiva eliminando as ameaças, como a figura do pai, que disputa com ela a atenção materna.

No entanto, mesmo com permanentes tentativas de agradar a mãe, esta continua a mostrar interesse em outros. A criança então passa a desejar ser o pai. A resolução desse conflito é o que Freud chamou de castração.

CASTRAÇÃO: Ocorre quando a criança identifica que não ocupará o lugar do pai. Desta forma, ela precisa fazer uma renúncia e aceitar este fato. Freud chama isso de recalque originário, um processo no qual a criança entende a regra e a norma. Assim, ela abandona seu desejo e é posta do lugar da falta.

Quando esse procedimento é internalizado, a criança tem um modelo de perda através do qual entende que não poderá ter tudo aquilo que deseja. Assim, o núcleo do superego é composto por ordens e proibições dos pais. Tal núcleo é herdeiro do complexo de Édipo.

NEUROSE: a neurose seria a má ou não utilização da energia da libido, o que geraria angústia direta ou indiretamente. As neuroses, portanto, são o resultado de conflitos psicológicos e recalques inconscientes.

Freud afirma que o indivíduo neurótico é profundamente inibido, pois luta continuamente para controlar “comportamentos” que ele julga “perversos”, como o sadismo e o masoquismo.

No entanto, o neurótico confunde o comportamento normal com a perversão. Essa noção de neurose criada por Freud esteve presente na prática psiquiátrica até os anos 1960, época em que transtornos mentais eram distribuídos em: psicoses e neuroses.

SONHOS: Freud criou um método para interpretar os sonhos, os quais ele julgava carregados de sentido. Sua prática consistia em dividir o sonho em inúmeros detalhes e pensar livremente a respeito dos mesmos.

Tal procedimento foi chamado por ele de livre associação. Para funcionar, é muito importante que a pessoa analisada não omita nenhum detalhe do sonho, mesmo aqueles que parecem absurdos.

Freud acreditava que tais absurdos funcionavam como um mecanismo que defendia o indivíduo de seus pensamentos mais obscuros, eróticos, inconfessos, hostis e invejosos.

Basicamente, para Freud, os absurdos dos sonhos transformam pensamentos mais profundos e complexos em imagens visuais simples, descolando um ponto importante do nosso inconsciente para algo que consideramos irrelevante. Assim, nossos desejos e emoções mais poderosos se transformavam em algo pretensamente inofensivo.

Quando temos pesadelos ou sonhos de angústia, segundo Freud, significa que esse processo de transformação não conseguiu promover de maneira eficaz o disfarce.

PULSÃO SEXUAL: Os diferentes modelos do aparelho psíquico foram alterando na medida em que a experiência e prática clínica de Freud foram lhe proporcionando novas descobertas. A noção de fantasia é uma delas.

Já na terapia catártica, a cura implica na reconversão do afeto com as representações. Esse processo possibilita a recuperação da identidade perdida com a defesa das ideias indesejáveis. Entretanto, Freud identificou que parte das representações não havia sido, necessariamente, fruto de lembranças inconscientes. Isto é, parte delas também poderiam ser fantasias.

Desta forma, era preciso então reelaborar a teoria para dar conta de abarcar a questão das fantasias. Freud criou então o conceito de pulsão sexual, em 1905. O qual seria a excitação sexual interna natural relacionada às funções fisiológicas do corpo.

LIVRE ASSOCIAÇÃO: Técnica na qual o paciente deve se esforçar para falar tudo o que lhe vem à mente, principalmente aquilo que por algum motivo ele está tentando omitir. Essa fala permite que o terapeuta faça associações e interprete sonhos e atos falhos do paciente.

É tida como a “regra fundamental” da psicanálise freudiana e visa ajudar a compreender melhor o funcionamento do inconsciente do indivíduo analisado.

RESISTÊNCIA: Neste modelo, ficava clara a importância da resistência, bem como suas formas de expressão. Cada vez que a resistência impede a fala de acessar certo conteúdo, isso significa que o terapeuta está mais próximo do conteúdo recalcado.

TRANSFERÊNCIA: Freud identificou outra forma de resistência presente na análise. Segundo ele, quando estavam muito próximo do conteúdo recalcado, alguns pacientes começavam a fazer comentários sobre ele próprio.

A este processo, Freud deu o nome de transferência. Nela, é possível ver que os pacientes agiam como se o analista fosse um dos personagens dos pensamentos inconscientes deles.

Um dos extremos da transferência poderia ser como uma declaração de amor do paciente para o analista. O motivo é que tais conteúdos são vividos no presente, mas têm sua origem na infância.

Os afetos vividos de forma presente na transferência precisam ser expressos. Fato que permite que o inconsciente retome os eventos recalcados.

Na prática

OBJETIVO: tornar “consciente o inconsciente” e alcançar um equilíbrio entre id, ego e superego.

AMBIENTE: O consultório deve ser um local descontraído, confortável e seguro, onde o analisando se sinta livre para expressar qualquer coisa. Portanto, a sessão de terapia é uma situação social única, na qual o indivíduo não deve temer nenhum tipo de julgamentos. A iluminação também não deve ser forte, mas agradável.

POSTURA: O indivíduo que é analisado deve estar fisicamente relaxado. Na maioria dos casos, senta-se ou deita-se em um sofá ou divã. Ele fica de costas para o terapeuta. A intenção, na terapia freudiana, é que o terapeuta praticamente desapareça e a pessoa analisada se sinta mais solta para falar abertamente.

ANÁLISE: Relaxado e seguro, a fala do indivíduo permite que o terapeuta faça uma revisão de personalidade profunda, voltando ao passado e buscando compreender melhor as primeiras relações do analisado com a família.

DURAÇÃO: O tempo de cada tratamento muda conforme a pessoa analisada. Casos como crises existenciais profundas, problemas de personalidade e psicose levam mais tempo. Algumas pessoas fazem análise durante boa parte da vida adulta.

Principais nomes

Sigmund Freud (1856-1939) – um dos intelectuais mais influentes de seu tempo, considerado o criador da psicanálise. Seu legado é tão intenso que ainda hoje Freud é visto como uma das figuras mais importantes do pensamento ocidental.

Jacques Lacan (1901-1981) – psicanalista francês que conquistou reputação mundial ao se tornar uma dos intérpretes mais originais dos trabalhos de Sigmund Freud

Melanie Klein (1882-1960) – psicanalista britânica nascida na Áustria que descobriu, sistematizou e publicou inúmeros trabalhos sobre o universo inconsciente de fantasia que faz parte vida das crianças. Melanie foi capaz de psicanalisar crianças de até dois anos de idade.

Carl Jung (1875-1961) – suíço e discípulo de Freud. Criou a psicologia analítica, a qual, em muitos aspectos, é uma resposta à psicanálise criada por Sigmund Freud. Donald Woods

Winnicott (1896-1971) – psicanalista britânico discípulo de Freud que, ao trabalhar com crianças separadas de suas famílias em razão da Segunda Guerra Mundial, descobriu a importância de brincar e de criar para o universo infantil. Seus escritos falam de um “desenvolvimento emocional primitivo” crucial para a formação dos indivíduos.

Wilfred Bion (1897-1979) – psicanalista britânico nascido na Índia responsável por inúmeras contribuições à prática clínica. Bion acreditava que a sessão de terapia era uma interação dialética — uma troca de saberes — entre analista e analisado, onde os dois aprendem. Também foi Bion quem criou as dinâmicas de grupo e fez estudos hoje considerados clássicos sobre a formação de vínculos de amor e ódio.

Anna Freud (1895-1982) – psicanalista britânica nascida na Áustria, filha e discípula de Freud. Praticamente criou a psicanálise infantil e foi uma das mais proeminentes terapeutas dessa área. Anna Freud também fez contribuições muito importantes para compreender como o ego e a consciência funcionam e buscam evitar ideias, impulsos e sentimentos dolorosos.

John Bowlby (1907-1990) – psicanalista britânico conhecido por sua “teoria dos instintos”. Foi Bowlby quem primeiro propôs um modelo de desenvolvimento e funcionamento da personalidade diferente daquela defendida pela “teoria das pulsões” de Freud.

Os trabalhos de Bowlby são essencialmente vinculados a duas ideias principais: comportamento instintivo e vinculação.

Wilhelm Reich (1897-1957) – psiquiatra, discípulo de Freud, que desenvolveu um sistema de psicanálise mais voltado para estruturas globais do caráter do que para os sintomas neuróticos individuais.

Francoise Dolto (1908- 1988) – psicanalista francesa foi a criadora de um método de trabalho de análise voltado para as crianças. Sua prática consistia em abandonar a técnica do jogo e da interpretação dos desenhos infantis. Ela acredita que o terapeuta deve escutar e ser capaz de traduzir a linguagem infantil.

Dolto entendia que o psicanalista deveria usar as mesmas palavras que a criança e comunicar-lhe os seus próprios pensamentos sob o seu aspeto real para assim tornar mais o tratamento mais efetivo.

Outras visões

As principais críticas à psicanálise vêm dos médicos positivistas, do século 19, que entendiam como charlatanismo um método que não era passível de ser reproduzido em laboratório e cujos fundamentos não são eram baseados na ciência biológica clássica.

Depois, em 1993, Frederick Crewes, em um artigo publicado no The New York Review of Books, afirmou que as ideias de Freud jamais foram alvo de uma confirmação independente, como se costuma fazer em qualquer pesquisa científica.

Jung, um dos primeiros discípulos de Freud, acabou se tornando um de seus maiores críticos. Na terapia junguiana, o sonho é tratado de maneira completamente diferente. O analista interpreta os sonhos do paciente utilizando simbolismos típicos chamados de arquétipos.

Ao contrário de Freud, Jung busca reconciliar esses arquétipos coletivos com a personalidade de cada indivíduo. Jung também define de outra maneira a sexualidade. Para ele, a ela é apenas uma das expressões do conjunto de “impulsos e forças psíquicas”, não é a mais importante nem é a mais primordial.

Antes dela, por exemplo, Jung afirma que há a fome. Nesse caso, portanto, o desejo sexual é apenas uma das possíveis interpretações para nossos sonhos e fantasias. Os dois também fazem análises distintas do papel da religião na sociedade. Freud acreditava que a religião era uma ilusão opressiva; Jung, por sua vez, acredita que os seres humanos possuem uma “função religiosa” espontânea, onde reside a possibilidade da experiência do mito e do inconsciente coletivo.

A partir dos anos 1980, muitos autores passaram a criticar Freud, acusando-o de ter descrito a sexualidade feminina em termos patriarcais. Adolf Grünbaun, autor de The Foundations of Psychoanalisys, afirmou em sua famosa obra que muitos dos argumentos propostos por Freud e utilizados para fundamentar sua teoria não possuíam base empírica. Eram, portanto, observações clínicas contaminadas pela sugestão do analista e pelo desejo do analisado em concordar com o que o terapeuta estava falando.

Catherine Meyer organizou Le Livre Noir de la Psychanalyse, uma coletânea onde 23 autores de diferentes campos do saber — historiadores, psiquiatras biológicos, filósofos, físicos, psicólogos e até jornalistas — contestam as teorias freudianas, dizendo que toda sua descoberta científica foi feita no segredo de seu consultório e que sua teoria repousa em acreditarmos ou não no que Freud diz, já que não é possível comprovar se tais afirmações são verdadeiras ou não.

A obra reverberou pela imprensa, ao ponto da biógrafa de Lacan e a historiadora da psicanálise, Elisabeth Roudinesco, desafiar Meyer para um debate público.

Outro importante crítico da psicanálise é o filósofo Karl Popper (1902-1994), o qual não concede nenhum estatuto científico aos textos de Freud. Popper acreditava que não era possível testar empiricamente as teses freudianas.

Segundo o filósofo, uma teoria que não possa ser testada empiricamente não pode ser considerada uma ciência. A psicanálise sempre foi alvo de inúmeras críticas. Foi considerada uma “ciência judaica” pelos nazistas e uma “teoria burguesa” pelos stalinistas.

A fixação no sexo é outro ponto no qual o pensamento de Freud é muito criticado. As primeiras considerações a respeito dessa questão foram feitas por Jung. Hoje, tal enfoque freudiano, que relaciona praticamente tudo ao sexo, é visto como reducionista, pois transforma as teorias em algo fechado em si mesmo.

Ramificações

Psicanálise inglesa: voltada para as relações objetais e profundamente derivada do freudismo. Obteve grande destaque com os trabalhos de influentes figuras como Melaine Klein e Anna Freud.

Psicanálise lacaniana: linha de psicanálise criada pelo francês Jacques Lacan. Trouxe interpretações importantes à psicanálise, melhorou conceitos e avançou muito no estudo da psicose e da própria técnica psicanalítica. Os lacanianos buscam a livre associação para fazer com que o próprio analisado descubra e resolva suas questões pessoais.

Psicanálise winnicottiana: nessa escola o desenvolvimento da criança depende da segurança, oferecida principalmente pela mãe. Para Winnnicott, problemas como transtorno alimentar e síndrome do pânico seriam resultado de um encontro pouco acolhedor da criança com o mundo.

Psicologia analítica: criada por Carl Jung. Considera a existência de um “inconsciente coletivo” que transcende o tempo e as culturas e é expressão profunda da alma humana. Também foi Jung quem criou o conceito de sincronicidade, segundo o qual coincidências não acontecem por acaso, mas são carregadas de significados e propósitos.

Tais coincidências, para Jung, podem ser tão especiais que são capazes de mudar as escolhas conscientes de um indivíduo.

Líderes: A cisão entre psicanálise, metapsicologia e psicologia positivista é bem menor atualmente do que nos anos 1970 e 1980.

Uma das causas dessa mudança é a evolução das medicações de auxílio terapêutico; outra, a ausência de líderes antipsiquiátricos como foi Jacques Lacan.

Principais obras

A Interpretação dos Sonhos (1900): Todo o constructo teórico que iria desenvolver está presente ali: o determinismo do inconsciente, os sonhos como um recado de nós para nós mesmos, a sexualidade, ou libido, como motor de nossas ações.

Estudos sobre a Histeria (1893): Há o relato pormenorizado do primeiro caso clínico, Anna O., codinome dado pelo autor para Bertha Pappenheim. Aqui é apresentado seu método clínico.

Sobre a Psicopatologia Cotidiana (1901): Seu segundo livro mais vendido, mostra como os esquecimentos e trocas de nomes estão relacionados com o material inconsciente.

Três Ensaios Sobre a Sexualidade (1905): Freud aborda o tabu da sexualidade infantil.

Os Chistes e sua Relação com o Inconsciente (1905): postula que as piadas e o humor são formas socialmente aceitas de se dizer alguma verdade considerada inadequada em outro contexto.

Duas Histórias Clínicas: O Pequeno Hans e o Homem dos Ratos (1909): o estudo das causas das neuroses e a metodologia de tratamento são abordadas. São obras técnicas, destinadas aos práticos.

Totem e Tabu (1913), Moisés e o Monoteísmo (1939), O Mal Estar na Civilização (1930) e O Futuro de uma Ilusão (1927): Freud usa dos conceitos psicanalíticos para interpretar a cultura e a sociedade.

Fontes e inspirações

Goethe (1749-1832) – Uma das maiores influências do criador da psicanálise foi o escritor alemão Goethe. Após ter um lido um ensaio sobre a natureza, escrito por Goethe, Freud decidiu seguir a carreira de medicina.

Ernst von Brücke (1819-1892) – Durante seus anos como aluno da Universidade de Viena, Freud foi muito influenciado por Ernst Wilhelm von Brücke, o criador do termo “psicodinâmica”, o qual trata dos efeitos dinâmicos dos fenômenos psíquicos, especialmente aqueles que são uma reação inconsciente aos estímulos ambientais.

Von Brücke foi o fisiologista que introduziu métodos físicos e químicos na pesquisa médica.

Theodor Meynert (1833-1892) – Outro cientista que influenciou Freud foi Theodor Meynert, um dos pioneiros no estudo do cérebro. Meynert foi o responsável pela condução dos trabalhos da primeira clínica psiquiátrica, em Viena, onde Freud trabalho como médico assistente.

Clássicos

Freud, por ser um intelectual muito intenso, também teve seu trabalho influenciado por inúmeros autores. Entre eles, Sófocles — de onde saiu o famoso Complexo de Édipo —, Platão, Shakespeare, Dostoievski e Nietzsche, a quem Freud considerava o primeiro psicanalista da história.

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