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Saúde

A escolha do amor reflete nossa infância

Segundo a Teoria do Apego, tendemos a internalizar nossos primeiros relacionamentos como uma regra afetiva
Bruno Torres
18/01/15

Apego é a relação que o recém-nascido estabelece com quem primeiro lhe oferece cuidados. e que pode influenciar suas relações amorosas na vida adulta. Segundo os defensores desta teoria, tendemos a internalizar nossos primeiros relacionamentos como uma gramática afetiva, a modelagem que inconscientemente se repetirá ao longo da vida, inclusive na escolha dos parceiros e na criação dos filhos.

O bebê estabelece a relação de apego não só com a mãe, mas com qualquer cuidador substituto que se ofereça à tarefa. Este primeiro outro que o acolhe fica como referencial aos demais que serão apresentados pela vida.

O fim da Segunda Guerra Mundial serviu de impulso à Teoria do Apego. Preocupa com a quantidade de órfãos que o combate deixara, a ONU chama o psiquiatra inglês de orientação psicanalítica John Bowlby para opinar sobre medidas paliativas ao sofrimento das crianças que perderam as mães e pais no conflito. Era início da década de 1950.

A conclusão de Bowlby é que a privação materna afeta o desenvolvimento mental, educacional e físico da criança. A presença de um cuidador substituto capaz de suprir as demandas dos pequenos diminui as consequências adversas da perda da mãe. Obviamente, cria-se aí uma demanda por políticas públicas orientadas para o acolhimento aos órfãos de pouca idade.

Crianças brincando

De fato, está nas políticas públicas a parte mais visível das descobertas iniciadas por Bowlby. Licença maternidade, direito de a mãe permanecer com seu filho no hospital durante todo o tempo de internação, condutas em maternidades. Juízes só separam a mãe do filho em último caso. Nascidos em presídios permanecem os primeiros seis meses sob os cuidados maternos. Abrigos e instituições prezam por manter os bebês sob os cuidados de um único cuidador substituto.

Em psicologia, a relação causa/efeito não é matemática, a consequência psíquica de um evento, traumático ou não, atravessa as crenças, a história e os limites de reflexão de cada um.

Os achados de Bowlby são ancorados em pesquisas com amostragens grandes e devem ser lidos como tendências e não verdades absolutas. É instrumento de reflexão para profissionais e cuidadores que porventura se deparem com crianças apresentando os comportamentos identificados. Estratégias de conduta de ajuda psicológica ou social implicam em saber diferenciar o apego sadio dos potencialmente disfuncionais.

Âncora emocional

O apego sadio se dá quando criança e mãe (cuidador) sentem prazer em estar juntos. É uma situação de não privação. A mentalização deste processo inicial permanecerá até a vida adulta. É âncora emocional, uma base segura, que lhe servirá de referência para seguir adiante, mesmo sob adversidades.

A conta é simples: diante do perigo, do desconforto e da insegurança, um bebê dispara alarmes aos seus cuidadores, como chorar, buscar com o olhar a presença, gestos. Quanto mais responsiva for a mãe ou o cuidador substituto, mais seguro é o modelo de outro internalizado. Um dos trabalhos publicados de Bowlby, por sinal, chama-se Uma base segura, de 1988.

Pai e filho

Mary Ainsworth, aluna de Bowlby classificou em três tipos de comportamentos de apego, fruto de seu trabalho de campo em Uganda e publicado sob o título Infancy in Uganda, em 1967. Os resultados foram adiante complementados pela pesquisadora Mary Main e colaboradores, que propuseram quatro padrões de comportamento de apego, condutas, categorias aceitas até hoje. As conclusões derivam também de experiências padronizadas de laboratório, conhecida como "situação estranha".

No cenário do experimento, crianças em fase de aprender a caminhar eram separadas e depois reapresentas aos cuidadores. Quatro diferentes estratégias comportamentais foram identificadas pelos pesquisadores.

“Crianças seguras simplesmente buscavam proximidade com o cuidador no seu retorno e depois se sentiam confortadas e voltavam a brincar. A conduta evitativa era observada em crianças que pareciam menos ansiosas durante a separação e desprezavam o cuidador no seu retorno. Tais crianças não demostravam preferência entre a mãe ou cuidador ou estranho. Numa terceira categoria, chamada de ansiosa-ambivalente ou resistente, as crianças demonstravam grande estresse com a separação, manifestavam raiva e tensão e agarravam-se ao cuidador quando este retornava. Um quarto grupo, chamado de desorganizado-desorientado, não apresentava nenhuma estratégia coerente, qualquer que fosse, para lidar com a separação. Diversos estudos demostraram que o estado de vínculo dos pais não irá prever apenas se uma criança terá um vínculo seguro, mas também a categoria precisa de vínculo na situação estranha”.

Padrões

No plano do indivíduo adulto, os padrões identificados tendem a resultar em quatro tipos de vínculo, respectivamente:

- indivíduos seguros/autônomos, que valorizam as relações de vínculo;

- indivíduos inseguros/rejeitados, que negam, denigrem, desvalorizam ou idealizam ligações passadas e atuais;

- indivíduos preocupados, que são confusos ou oprimidos pelas relações de vínculo, tanto no passado ou atuais e;

- indivíduos não resolvidos ou desorganizados, que, com frequência, sofreram negligência ou trauma.

Revisão

Embora hoje aceita na comunidade psicanalítica, da qual Bowlby é egresso, a Teoria do Apego sofreu críticas de psicanalistas por priorizar o social em detrimento das fantasias. Feministas discordaram do foco exclusivo na mãe, ou monotropismo. Teóricos diversos miraram no que chamavam de determinismo das teses.

Como já dito, as reflexão sobre os achados da Teoria do Apego devem ser encaradas pelo seu valor probabilístico e como ferramenta guia na promoção de políticas públicas e condutas privadas que favoreçam segurança no laço afetivo iniciais.

No dia a dia de cada um de nós, as conclusões da Teoria do Apego servem de ferramenta para reflexão e questionamento sobre a qualidade dos vínculos que repetimos em nossa vida.


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