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Medicina Integrativa

Aids e adolescência no Brasil

ONG e projeto pessoal de um jovem que vive com HIV ajudam outros adolescentes soropositivos a obter apoio
Bruno Torres
27/09/19

O aumento do número de jovens de 15 a 24 anos HIV positivos no período de 2004 a 2013 levou o Ministério da Saúde a considerar a Aids, no cenário atual, uma epidemia concentrada. Nesse período, a taxa de detecção saltou de 9,6 para 12,7 casos a cada 100 mil habitantes.

Para o jovem que vive com HIV/Aids, a aceitação pode ser mais difícil do que para o adulto. Embora o tratamento e as medicações modernas sejam capazes de oferecer uma vida normal e com bem-estar, outros fatores como o preconceito, o entendimento por parte do parceiro e da família, além da fase de amadurecimento que o adolescente vive, podem tornar o processo mais complicado. É o que explica Andrea Paula Ferrara, pesquisadora e coordenadora do projeto Viver Jovem, do Grupo de Incentivo à Vida.

“Os jovens são mais otimistas em relação à medicação e ao cuidado, principalmente quando chegam à instituição. Com o tempo, percebem que a situação não é tão fácil quanto pensavam e as dificuldades aparecem. Outro ponto é que muitos têm problemas não relacionados ao HIV, como o relacionamento familiar conturbado em razão da homossexualidade, a declaração para o parceiro de sua condição sorológica, entre outras. A aceitação do HIV entre os adultos é geralmente maior em razão de já terem uma vida estruturada, com emprego e residência estabelecidos. Muitos daqueles que já vivem com o HIV há mais tempo e passaram por períodos em que não havia medicação e apoio dos amigos morriam”, considera Andrea.

O Grupo de Incentivo à Vida (GIV) é uma organização sem fins lucrativos localizada em São Paulo. Desenvolve uma série de atividades voltadas à melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/Aids, como apoio psicológico individual e em grupo, palestras, cursos, oficinas, grupos de vivência para jovens, mulheres e gays. Além disso, o grupo também está envolvido em reivindicações de importância, como a luta por acesso gratuito aos medicamentos, a organização de fóruns e encontros de articulação nacional entre ONGs e a luta pela garantia dos direitos dos soropositivos.


O acesso à terapia antirretroviral criou uma falsa ideia entre os jovens de que a Aids é uma doença simples

O Viver Jovem, projeto do GIV coordenado por Ferrara, é voltado especialmente para adolescentes entre 15 a 29 anos. Consiste em reuniões mensais de acolhimento, diálogo com convidados, como profissionais de saúde e ativistas, e conta com a exibição de filmes de temas voltados ao HIV e à sexualidade, além de outras atividades. Atualmente, cerca de 50 pessoas participam do projeto.

Henrique Sousa, 25, é um deles. Ele conta que descobriu a sorologia positiva para HIV com o ex-parceiro. Ambos se apoiaram, mas a aceitação foi penosa no início. “Por ser algo desconhecido até então, pensei que iria morrer em questão de meses ou dias. Imaginei a reação das pessoas, familiares e amigos. A autoaceitação para mim foi algo que teve de ser muito bem trabalhado”, relata.

Em 2014, ele conheceu o GIV por meio de uma indicação do Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids (SAE), conjunto integrado de ações mantidas por entidades governamentais, filantrópicas e universidades conveniadas ao SUS para combater o HIV. Para ele, a instituição foi um apoio importante. “Meu primeiro contato com a instituição foi em uma reunião de jovens que me deu muito mais força para enfrentar a situação, pois saber que você não é o único no mundo que passa por esse tipo de problema torna a caminhada mais leve. Trocar experiências, dúvidas, questionamentos e a vivência de um modo geral têm me feito muito bem, pois a instituição me ajudou a entender que a doença não é o fim e que é possível ter uma vida normal se tomarmos os devidos cuidados” afirma Sousa.

Rafael Sanches Lopes, 30, descobriu o HIV aos 25 anos. De acordo com ele, o primeiro passo para enfrentar o vírus foi buscar informações para entender o que de fato mudaria em sua vida. O segundo foi contar à família e aos amigos. Felizmente ele foi recebido com apoio, mas relata ter passado por situações de preconceito com alguns profissionais da saúde.

“Vejo ainda preconceito em alguns profissionais da área da saúde e isso realmente me incomoda. Há pessoas que levam para seus trabalhos olhares preconceituosos, seja pela relação que ainda fazem da doença com a homossexualidade ou pela questão de ser geralmente transmitida por via sexual. Já presenciei olhares e posturas não profissionais. Não pude fazer muito na hora como paciente, mas decidi não voltar a ser atendido por aquele profissional e fiz questão de redigir uma reclamação pública e para outras pessoas HIV positivas”, afirma.

Descobrir o vírus motivou Lopes a criar o blog Uma vida positiva para contar sua experiência. Como ele mesmo define na página, “há pouco tempo foi descoberto o HIV em mim, e agora tenho de descobrir em mim como viver com o HIV”. Dialogar com outros adolescentes que vivem com HIV/Aids e as pessoas em geral o ajudou a lidar com o novo contexto. “Um mês depois da descoberta, iniciei o blog usando um pseudônimo, apenas com a necessidade de exteriorizar o que se passava dentro de mim. Aos poucos vi minha página crescer e atingir um número de pessoas que eu não imaginava. Passei a receber e-mails e mensagens que me ajudaram e fui capaz também de ajudar outras pessoas. Como na época eu era estudante de ciências sociais com ênfase em produção e política cultural, comecei a ver naquele material algo capaz de tocar socialmente e culturalmente as pessoas”.

A partir daí, Rafael Bolacha, seu apelido na web, transformou o blog em um livro diário para contar seus medos, reflexões pessoais e situações que passou nos três primeiros anos depois de descobrir a sorologia positiva. Desde então, os projetos só aumentaram. No ano passado, ele, que também possui formação de ator, passou por unidades do SESC com o espetáculo de dança Da razão do vermelho, que fala sobre o lado humano do indivíduo com HIV e de suas relações interpessoais.

Ele tem um ciclo de palestras sobre a Aids. “Nas palestras eu foco na parte informativa e utilizo meu relato pessoal para abrir uma discussão sobre o tema e colaborar para ampliar as informações disponíveis para universitários da área da saúde, professores, alunos de ensino fundamental e médio ou eventos literários. Nossa equipe iniciou um espetáculo de teatro, além de uma intervenção artística com foco em informações sobre o HIV e a Aids. Ainda há mais por vir, mas dou um passo de cada vez. Ampliar o assunto deveria ser de responsabilidade de todos”, finaliza Lopes.

Foto : Sham Hardy / Flickr / CC BY-SA 2.0; Cami Leal / 500 px


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