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Medicina Integrativa

Espiritualidade também é saúde

Profissionais, pesquisadores e estudantes de medicina reconhecem necessidade de cursos voltados para o tema
Bruno Torres
27/09/19

Apesar de todos os inegáveis avanços, a medicina ainda demonstra muitas limitações para tratar determinadas doenças. Isso tem impulsionado uma maior abertura da comunidade científica para a investigação da relação entre saúde e espiritualidade. Esse foi o tema debatido durante o Simpósio Ciência, Espiritualidade e Saúde, realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP), na Universidade de São Paulo (USP).

Os médicos devem estudar espiritulidade

Apenas 10% das escolas médicas brasileiras possuem cursos relacionados à espiritualidade. Essa discussão foi trazida pelo médico e doutor em neurociências Giancarlo Lucchetti, que apresentou diversos estudos (vários deles de sua própria autoria) mostrando a defasagem de abertura dentro do universo acadêmico nacional em relação a outros países. As pesquisas revelam que essa é uma demanda não só de professores e estudantes, que reconhecem a importância e a necessidade de se abordar o assunto com mais frequência, mas principalmente dos pacientes. “Muitos deles são religiosos e acreditam que suas crenças os ajudam em seus tratamentos. A maioria demonstra um desejo de que seu médico aborde suas crenças caso fiquem doentes”, afirma Lucchetti.

A questão que fica é: "qual seria a abordagem ideal a ser feita nesses casos?" 

Falar de religião com um paciente pode ser inclusive prejudicial. Isso se o médico não souber tocar nesse tipo de assunto com o cuidado e o respeito necessários. Tal dificuldade só deixa mais evidente a urgência da preparação dos profissionais de saúde nesse ponto.

Uma pesquisa multicêntrica realizada com estudantes de 12 escolas de medicina do país e coordenada por Lucchetti¹ demonstrou que mais de 70% dos alunos acreditam que a espiritualidade influencia muito no tratamentos dos pacientes. Apesar disso, 81% afirmam que nunca participaram de uma atividade que relacionava saúde e espiritualidade durante seus cursos e cerca de metade deles declararam que não se sentem preparados para abordar o tema com seus pacientes. O médico lembrou que atualmente já existem técnicas disponíveis para auxiliar os profissionais nessa questão, como a ferramenta para anamnese específica chamada FICA².

Para Giancarlo, a ciência já reconhece que as crenças influenciam no aspecto físico e mental dos pacientes e, por isso, o assunto merece maior atenção das universidades e instituições médicas. Segundo ele, ainda faltam estudos, orientadores e disciplinas nas escolas médicas, além de treinamento para os profissionais de saúde e a formação de diretrizes nacionais que auxiliem nas metodologias que deverão ser ensinadas.

A importância da espiritualidade para a saúde

Há 2.500 anos, Platão afirmava que o maior erro dos médicos é tentar curar o corpo sem se preocupar com a alma. A frase soa quase como um presságio do que seria adotado como o modelo de medicina predominante no Ocidente. Há no trabalho médico atual uma visão preponderante ligada ao paradigma científico da modernidade. Esse entendimento vê o corpo humano como uma espécie de máquina bioquímica que responde a determinadas intervenções cirúrgicas ou tratamentos químicos.

O conhecimento ocidental compartimentalizou nosso corpo e criou para cada uma das partes um tratamento. Esse pensamento produz, muita vez, uma separação drástica entre o ser humano e a natureza e, principalmente, entre o corpo e a mente – a qual para os religiosos pode ser entendida como alma ou espírito. De certa forma, a medicina carece de uma compreensão mais totalizante do humano. Capaz de abarcar mais, ser mais complexa e ultrapassar os limites da compreensão bioquímica do corpo.

A espiritualidade no câncer

E no tratamento de doenças mais graves como o câncer? Será que nesses casos a espiritualidade teria alguma influência? A partir de décadas de trabalho psicológico e biográfico com pacientes de câncer, o psicólogo Lawrence Leshan chegou à conclusão que sim. Ele relata isso no livro O Câncer Como Ponto de Mutação.

“Podemos influenciar o nosso processo de adoecimento e nosso estado de saúde”, afirma a médica e doutora em cirurgia geral de cabeça e pescoço, Erica Fukuyama, que realizou apresentação no simpósio utilizando o trabalho de Leshan como referência.

“O paradigma atual da medicina trata os pacientes como meros espectadores. Ele nos traz a ideia de que é o médico que proporciona a cura. Precisamos criar uma cultura, uma massa crítica, e auxiliar os pacientes a identificarem as maneiras de participarem mais ativamente no desenvolvimento das doenças e dos tratamentos”, afirma Érica. 


Evento aconteceu na Faculdade de Saúde Pública da USP e reuniu profissionais de várias áreas para discutir o tema

Práticas integrativas no hospital

Existe uma enorme variedade de técnicas disponíveis para aqueles que buscam uma vida mais equilibrada e uma maior conexão com sua essência. Uma delas é a kundalini yoga, prática que tem como objetivo integrar a consciência individual à consciência universal.

“Utilizando os mantras, as respirações, os kriyas, que são as posições, e as meditações, conseguimos trazer um pouco de equilíbrio entre o corpo físico e mental, e com isso ajudar na saúde difusa, uma saúde ampla do indivíduo”, explica o médico Rodrigo Yacubian.

De origem indiana, a kundalini yoga também tem sido usada para complementar tratamentos médicos, já que um de seus “efeitos colaterais” é aumentar a resiliência do praticante. “Você pode imaginar uma esponja e apertá-la. Quando você solta essa esponja, ela volta a sua forma original, e isso define um pouco do conceito que buscamos atribuir à resiliência. É um poder de adaptação às situações, que vai ajudar inclusive a enfrentar doenças”, relata Yacubian.

Outra prática abordada durante o simpósio foi o reiki, técnica de imposição de mãos criada em 1922 pelo japonês Mikao Usui. Nessa prática vitalista, o terapeuta coloca as mãos levemente no corpo do paciente ou logo acima da pessoa com o objetivo de manipular supostas energias e facilitar a própria resposta de cura do indivíduo. A enfermeira e pesquisadora de práticas complementares Léia Salles apresentou uma publicação que tratava dos possíveis efeitos positivos do reiki no tratamento de pessoas com hipertensão arterial³. Realizado com 66 indivíduos divididos em grupo controle, placebo e experimental, o estudo demonstrou queda de pressão significativa nos pacientes que receberam sessões de 20 minutos de reiki.

Em 2006, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, reconhecendo, dando respaldo e colocando à disposição dos usuários diversas práticas consideradas até então como alternativas. Entre os tratamentos que entraram no documento estão: acupuntura, fitoterapia, homeopatia, entre outras.

“É crescente o movimento de aceitação desse tipo de pesquisas, o que nos traz muita alegria, porque tem muita gente nessa luta desde a década de 1980, pelo menos, e sempre houve muita dificuldade. A maioria dos pacientes gosta e se sente melhor ao utilizar essas técnicas. Então elas têm mesmo de serem estudadas”, afirma Salles.

Fotos: Thinkstockphotos; Divulgação


Veja também:
Espiritualidade e o amor pelo mistério
Reiki para pacientes de um hospital
Kundalini yoga no Hospital das Clínicas


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