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Medicina Integrativa

O ambiente é capaz de nos curar?

Esther Sternberg, autora do livro Healing Spaces, fala da capacidade da arquitetura em promover saúde e bem-estar
Bruno Torres
27/09/19

É comum ouvir por aí que as ruas das grandes cidades deixam as pessoas cada vez mais estressadas. Trânsito engarrafado, cenário caótico, barulho das buzinas, má sinalização e cheiro de fumaça. A questão que surge é a seguinte: se o ambiente externo é capaz de nos deixar estressados e doentes, seria ele também capaz de nos acalmar e auxiliar no processo de cura do corpo? A diretora de pesquisa do Arizona Center for Integrative Medicine na Universidade do Arizona e neuroimunologista, Esther Sternberg, acredita que sim. Em seu livro Healing spaces: The Science of Place and Well-being (Espaços de cura: A Ciência do Lugar e Bem-estar) ainda sem tradução para o português, a pesquisadora explora a relação entre mente, corpo, sentidos e lugares. Em entrevista exclusiva ao Portal NAMU, ela explicou quais são os preceitos que podem transformar os espaços em locais de cura e não de estresse.

“Há aspectos do ambiente que nós sabemos que estressam pessoas. Escuridão, lotação, mau cheiro, falta de espaço, nenhuma vista para natureza, espaços que funcionam como labirintos e dificultam a nossa localização mental. Todos esses fatores deixam as pessoas ansiosas e estressadas. Então, por que não desenhar o local em que trabalhamos, estudamos e nos curamos (hospitais) já pensando em diminuir a capacidade do meio de nos deixar estressados?”, questionou a cientista.

capa do livro Healing Spaces

Hospitais pensados para acelerar a cura

"Nós, os profissionais da saúde, estamos agora nos tornando parceiros dos designers para criar espaços que apoiem a saúde física e emocional dos pacientes. Isso vai ajudar a determinar como serão as novas construções." Segundo ela, os o que deixa as pessoas confortáveis e o que também é bom para o meio ambiente.

"São tempos muito excitantes nos quais estamos transformando as fronteiras da saúde para incluir ambientes pensados para ajudar as pessoas a se curarem, a prevenir doenças e manter a saúde”, diz ela.

A cientista afirma que, inclusive, um hospital planejado para causar menos estresse pode acelerar os processos de cura pelos quais os pacientes estão passando. “Por exemplo, se você fosse um paciente indo para o hospital, você está doente, ansiosa, você acabou de ser diagnosticada com câncer ou com doenças cardiovasculares. Ou seja, você já está muito estressada. Se você vem ao hospital e ele é barulhento, escuro e mal sinalizado, você fica ainda mais ansiosa e se sente como um rato em um labirinto. Todos esses fatores podem ser transformados", acredita.

Como exemplo do que pode ser feito nos hospitais, Sternberg indica telhas que possam absorver o barulho, vistas naturais, plantas nos corredores, iluminação adequada - nem muito clara ou escura -, entre outros.

"Se for um hospital para pessoas que estejam começando a desenvolver demência, mal de Alzheimer, você também pode criar maneiras de circular em que você não precise de sinais, não tenha de ler. Por exemplo, um quarto no qual o paciente possa ver o banheiro da sua cama, para que ele não tenha de se lembrar onde fica. Há maneiras de preparar o espaço para ajudar pessoas com problemas de memória para viver de forma independente por mais tempo. Há maneiras de criar espaços para acalmar e reduzir o estresse", relata.

Para embasar sua tese, Sternberg resgatou estudos antigos sobre o tema. Um deles é a pesquisa publicada em 1984 pelo professor de arquitetura da saúde, o norte-americano Roger Ulrich, que compara o processo de recuperação de dois grupos de pacientes submetidos a uma mesma cirurgia. A diferença era apenas a vista do quarto hospitalar para um pequeno bosque com árvores. O estudo constatou que o grupo com visão para o cenário natural permaneceu menos tempo no hospital, teve menos complicações após o procedimento, precisou menos de medicação para dor, além de apresentar um melhor humor.

A cientista aponta que apesar do custo financeiro, estudos feitos pelo Center for Healthy Design em São Francisco (EUA), que analisaram 50 hospitais espalhados pelo território norte-americano, também observaram que nos espaços mais agradáveis e menos estressantes os pacientes saem mais cedo e precisam de menos medicações. Portanto, os gastos na arquitetura acabam sendo recuperados em longo prazo.

Experiência pessoal

Sternberg se interessou mais pelo tema depois de passar por momentos traumáticos em sua vida. Logo após sua mãe falecer, a autora descobriu que estava com artrite nos dois joelhos. Naquela época, ela também estava passando pelo estresse de se mudar de casa em Washington, capital dos Estados Unidos.

No meio do caos comum a qualquer mudança de residência, Sternberg recebeu a agradável visita de um casal de vizinhos gregos que levaram pratos típicos de seu país como boas-vindas para nova integrante do bairro. “Eles me viram escrevendo no computador, o que se tornaria meu primeiro livro, e me perguntaram: 'você é escritora?' E eu respondi: 'por que vocês estão perguntando isso?' Eu não me via naquele momento como uma escritora." Os novos vizinhos acabaram convencendo Sternberg a escrever sobre a vida na ilha de Creta.

Sternberg defende que os hospitais podem ser planejados para ajudar o processo de cura dos pacientes

Após passar um tempo na ilha grega, ao sul do Mar Egeu, a pesquisadora afirma ter se sentido tão melhor que aquela experiência a ajudou no processo de cura da artrite. Os motivos: nadava todos os dias no mar, se alimentava segundo a dieta mediterrânea – considerada saudável –, e fez bons amigos. Dessa maneira, Sternberg passou a pensar mais profundamente sobre os efeitos que o ambiente produz nas pessoas. Todo esse esforço intelectual acabaria resultando em sua obra Healing Spaces.

Foto 1: Nathália Kamura
Foto 2: Dan Taylor-Watt / Flickr: dan taylor/ CC BY 2.0
Foto 3: Sandra Adami


Veja também:
I Simpósio Internacional de Medicina Integrativa no Hospital Albert Einstein
Simpósio discute combate ao câncer


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