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Medicina Integrativa

O que é o efeito placebo

Se o efeito placebo é real, por que a medicina não discute sua incorporação aos tratamentos atuais?
Bruno Torres
27/09/19

O efeito placebo é um dos principais argumentos utilizados para desqualificar terapias complementares dentro da medicina. Para muitos profissionais da saúde, os mecanismos empregados por essas técnicas corresponderiam ao placebo. Mas o que é esse efeito? Em poucas palavras, podemos dizer que o efeito placebo é o uso de um tratamento ou fármaco com princípio ativo inerte, mas que apresenta efeitos terapêuticos em razão da crença do paciente de que aquilo está lhe fazendo bem.

Por isso que muitos críticos da medicina complementar afirmam que o resultado dessas terapias "não é real, é só o efeito placebo”. A pergunta que essa polêmica levanta, no entanto, é outra bem mais profunda: será que o simples fato de trazer bem-estar ao paciente por si só já não merece algum crédito por parte dos médicos? Afinal, o que é mais importante, o método ou o resultado?

Apesar de polêmico, o placebo está longe de ser um mero coadjuvante dentro do método científico. Ele é utilizado nas pesquisas duplo cego randomizadas que buscam identificar o potencial terapêutico de uma determinada droga. Nesses estudos, metade dos pacientes recebem o medicamento real e a outra metade recebe uma pílula de açúcar (pílula placebo). Se não há diferença entre os grupos, então conclui-se que a droga não funcionou.

De acordo com Lorenzo Cohen, professor de oncologia do MD Anderson Cancer Center, a própria ciência já dá indícios das razões pelas quais o placebo pode funcionar como um remédio real. “Se o paciente acreditar que está tomando uma pílula ou uma injeção e acha que é morfina, isso não só ajuda a aliviar a sua dor, mas há uma liberação de opioides endógenos, os analgésicos naturais que vêm do nosso próprio corpo, que aumentam apenas pela nossa convicção”, afirma.

O placebo indica o quanto as pessoas são suscetíveis ao poder da sugestão. Em muitos casos, o placebo leva o indivíduo a produzir efeitos em seu próprio corpo. É comum que alguns participantes de testes clínicos sintam os "efeitos produzidos" pelo placebo. A pessoa recebe um medicamento feito de açúcar e começa a se sentir melhor.

Potencial de cura

“O efeito placebo tem uma conotação ruim na medicina moderna. Os médios dizem: ‘é só o efeito placebo’, ‘isso não é real, está tudo dentro da sua cabeça’. Veja bem, realmente está tudo dentro da sua cabeça. Seu cérebro está produzindo substâncias químicas que previnem e reduzem a dor, que fazem você se sentir bem e ajudam o sistema imunológico a curar”, relata Esther Sternberg, neuroimunologista e pesquisadora da Universidade do Arizona.

A área da medicina mais próxima de explicar o efeito placebo é a psiconeuroimunologia, que estuda as ligações entre o cérebro, o sistema imunológico e o sistema endócrino. Os estudos produzidos nos últimos anos nesse campo do conhecimento revelaram como um pensamento pode gerar alterações químicas em outras partes do corpo.

“Então é isso, o efeito placebo é a própria habilidade do cérebro para ajudar você a se curar, e todos os animais têm essa capacidade. Porque sem ela, antes de desenvolvermos cirurgias, antibióticos, antivírus e tudo isso, nós estaríamos mortos. Todas as coisas vivas têm a capacidade de cura. Todos os momentos do dia nós estamos experimentando ataques ao corpo, feridas, sejam elas visíveis ou não, e as células do corpo se curam constantemente. Nós estamos nos regenerando, estamos nos curando”, completa Esther.

Segundo Esther, a dificuldade da medicina moderna em reconhecer a influência do estresse e do estado emocional na saúde está relacionada aos avanços tecnológicos nos séculos XVI e XVII. Na época, anatomistas começaram a dissecar os corpos humanos e supuseram que as doenças estavam associadas com anormalidades da anatomia.

“Até o meio da década de 1960, nós não podíamos nem cultivar células do sistema imune em tubos de ensaio. Nós não sabíamos como o sistema imunológico funcionava realmente. Então, foi preciso avançar na neurociência, na imunologia, em todos esses campos, para entender como o cérebro e o sistema imunológico conversam um com o outro, como essa comunicação é importante no processo de cura”, explica a médica.

Pílulas

Questão ética

O uso do placebo, no entanto, produz uma questão de fundo ético. Segundo a Resolução nº 1.885 de 2008 do Conselho Federal de Medicina, "É vedado ao médico participar de pesquisa envolvendo seres humanos utilizando placebo, quando houver tratamento disponível eficaz já conhecido". Portanto, é antiético oferecer um remédio placebo, pois isso necessariamente significa enganar o paciente.

Essa questão está muito presente nos casos de indivíduos hipocondríacos – aqueles que compulsivamente e sem motivos reais ficam muito preocupados com o próprio estado de saúde. Há muitos profissionais de saúde que defendem que essas pessoas recebam placebos.

Para a médica Regina Parizi Carvalho, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, o uso desta ferramenta é preocupante. “A gente acha isso absolutamente antiético. Todos os trabalhos que saíram até agora sobre esses eventuais benefícios do efeito placebo não apresentaram comprovação científica. Pelo contrário, temos histórias do passado muito graves em que foi utilizado placebo, as doenças se agravaram e por isso mesmo que esse uso está proibido na maioria dos países. Se você pegar os países da União Europeia, a maioria deles só permite o uso do placebo em situações de pesquisa para doenças novas em que não exista tratamento disponível”, contesta.

Efeito nocebo

O efeito placebo é apenas um dos aspectos já estudados sobre a influência que os pensamentos e o estado emocional podem trazer para a nossa saúde. Seu irmão menos conhecido, o efeito nocebo, traz o lado mais perturbador desta relação, como explica Lorenzo Cohen. “Um exemplo para o efeito nocebo é quando um médico diz a um paciente que ele não vai viver mais do que um ano. Frequentemente, esses pacientes morrem neste exato prazo que foi dado a eles, então isso é algo que precisa ser melhor entendido, precisa ser assimilado e virar parte da medicina”, afirma.

Os estudos que tratam do efeito mostram que a relação médico paciente pode ser fundamental para se conquistar melhores resultados em um tratamento. Um trabalho do professor de medicina e pesquisador Ted Kaptchuk, da Universidade de Harvard, revelou que, mesmo utilizando uma acupuntura placebo, é possível modificar os resultados apenas pela forma como o terapeuta interage com o paciente.

Em muitos casos de pesquisas clínicas, participantes sentem efeitos colaterais de um remédio que na verdade é um placebo. Isso ocorre, por exemplo, quando o sujeito acredita que está tomando um medicamento que vai produzir náuseas e acaba se sentido mal, mesmo depois de ter ingerido apenas um placebo feito de farinha ou açúcar.

Famoso por estudos envolvendo o efeito placebo, o pesquisador Irving Kirsch, da Universidade de Connecticut, questiona se não seria antiético deixar de prescrever o placebo para algumas condições de saúde específicas, tendo em vista os indícios de que funciona melhor do que as drogas amplamente utilizadas. “Então nosso trabalho na medicina é na verdade usar o placebo de forma apropriada e de acordo com as pesquisas, mas não descreditar as coisas porque elas estão se utilizando do efeito placebo. E isso também é uma responsabilidade, usar todas as ferramentas disponíveis”, completa Cohen.

Foto 1: Bill David Brooks / Flickr: Bill Brooks / CC BY 2.0
Foto 2: e-Magine Art / Flickr: e-MagineArt.com / CC BY 2.0


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