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Saúde

Quem sou eu nas redes sociais?

Interação online permite a criação de um personagem e propicia manifestações arquetípicas
Bruno Torres
24/01/15
Redes sociais sempre existiram. Bem antes de 1969, quando nasce a Internet, sociólogos e psicólogos sociais, entre outros, produziam estudos sobre por que os humanos se reuniam em volta da fogueira para postar oralmente os últimos acontecimentos da tribo e escutar as frases dos caciques e pajés. O Facebook e o Twitter são a versão eletrônica de um comportamento iniciado quando o homem começa a desenvolver a linguagem. Nos anos 1930, os afetos em rede já eram estudados pelo médico, psicólogo e filósofo romeno Jacob Levy Moreno, criador do sociograma, “representação gráfica da estrutura de relações interpessoais entre os membros individuais de um grupo”.1 Servia inclusive para medir as probabilidades de relacionamento amoroso dentro de um grupo. Moreno, o inventor do psicodrama, é considerado um teórico complementar a Jung.3

A fantasia e os arquétipos

Para Jung, chegamos ao mundo já munidos de “protoformas”, ou seja, representações básicas, arquétipos, o que inclui o feminino, o masculino, pai, mãe. São formas que se repetem em várias culturas diferentes, sem que uma tenha tido contato com a outra. As redes sociais eletrônicas são ambientes propícios às manifestações arquetípicas. Quando alguém se apresenta na rede, é com suas próprias representações acerca dos outros internautas que dá a conversa, ou seja, com suas heranças inconscientes. À falta da pessoa real, os arquétipos nos ajudam a imaginar o outro e o que deve ser dito para agradar.

Idade influencia a forma de interagir

Outro fator bastante influente nos relacionamentos virtuais é a idade. Jovens usam as redes sociais como extensão do mundo offline, diferentemente dos mais velhos. Nos EUA, onde há pesquisas sólidas a respeito, há 80 milhões de solteiros acima dos 50 anos. É o grupo que mais usa a internet para fins amorosos. Usam a rede como quebra gelo e propulsora para encontros pessoais. O mercado de encontros e relacionamentos virtuais é tão amplo que há gente que vive de assessorar pretendentes online a criarem perfis atraentes nas redes sociais, o que inclui redação do perfil. São chamados de “online dating assistants”, assistentes de namoro virtual. Em outros termos, o que estes profissionais fazem é moldar o perfil online de alguém às expectativas dos outros internautas, pegam o real e transformam em uma fantasia que combine com os arquétipos alheios. São criadores de personas, como autores de teatro.

Problemas e questões

Entre as críticas aos relacionamentos online, chamá-los de vazios é uma das mais comuns. A sensação de falta é constitutiva da subjetividade humana, e absolutamente saudável. Relacionar-se apenas online, no entanto, substitui os altos e baixos da realidade e o indivíduo pela fantasia. A pessoa lida com mitos, não com indivíduos. Jung, por sinal, chamou de individuação o processo de amadurecimento, a evolução da consciência em direção ao um si mesmo diferente do todo. Deste ponto vista, priorizar só os relacionamentos online afasta o sujeito de sua essência diferenciada do todo, deixando-o preso a padrões coletivos. A atividade vital do indivíduo, ainda segundo Jung, é prejudicada quando este se afasta do processo de individuação. De fato, quem estuda os usuários compulsivos da rede sabe que não é internet o problema, mas sim questões psicológicas como timidez, baixa autoestima, depressão ou doenças e manias. Não interagir pessoalmente aumenta a probabilidade destes complexos prejudiciais. Estar com o outro é uma forma de conscientização, de ouvir algo que não seja os próprios sintomas.

Mentiras

O anonimato da internet favorece a mentira. A mais comum delas é o peso, sempre para baixo. Agradar o coletivo exige medidas certas e afastamento da individuação em nome de personas específicas. Fotografias desatualizadas, idade, renda e estado civil (no caso de homens) seguem como informações menos confiáveis nos perfis online. Há, porém, mentiras perigosas. A disponibilidade de informações sobre suas potenciais vítimas favorece a ação de criminosos e sociopatas, gente cujo único interesse é se aproveitar das fragilidades alheias, da sensação de vazio, inclusive. Ter informações detalhadas só lhes facilita o trabalho.

Crianças na rede

Para quem nasceu nos últimos dez anos, redes sociais são o comum, tal como ir à escola. Os pais se alarmam e a televisão sempre mostra casos de aliciamentos online. Não há pesquisas que sustentem que a quantidade de abusos infantis iniciados online seja maior que o offline. O perigo continua sendo pessoas próximas fisicamente, como parentes e vizinhos. As redes sociais, por outro lado, beneficiam a sociabilidade das crianças. Seus colegas online costumam ser os mesmos da escola, primos e familiares. A rede vira extensão. A vigilância dos pais pode diminuir uma maior exposição.

Seres sociais

Por fim, como bem observa o especialista em comportamento das redes sociais Jonah Berger, autor de Contagius: Why Things Catch On (Contágio: porque as coisas pegam): “Conectar-se com os outros é gratificante, faz-nos sentir como nós não estamos sozinhos no mundo. As pessoas gostam de dizer às outras pessoas sobre si mesmas. Pesquisas mostram que falar de nós mesmos é gratificante; compartilhar pode ser gratificante para o cérebro." Não estar sozinho no mundo e ser você mesmo são os fatores que Jung considerou importantes para o amadurecimento. Redes sociais online são apenas ferramentas de manifestações dos arquétipos profundamente humanos. Foto: Dangubic / Thinkstock
Veja também: Facebook e o exibicionismo digital Quando a internet é um vício O papel do ócio na criatividade

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