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Medicina Integrativa

Você pode mudar seu cérebro

Neuroplasticidade ajuda a entender como podemos abandonar velhos hábitos e criar outros mais saudáveis
Bruno Torres
27/09/19

“Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim...Gabriela”. Esse trecho da música Modinha para Gabriela, de Dorival Caymmi, lembra alguém que você conhece? Se sim, isso não é à toa. Por muito tempo, a ciência sustentou que nossos cérebros se desenvolviam apenas durante a infância e que estaríamos fadados a conviver com a rigidez dessa estrutura pelo resto de nossas vidas.

No entanto, no final da década de 1960, a descoberta da neurogênese pós-natal por Altman e Das veio contrariar este dogma, mostrando que a formação de novos neurônios na vida adulta pode ser modulada e fortalecida, especialmente com o auxílio de exercícios físicos e da exposição a ambientes enriquecidos. A aplicação prática dessa flexibilidade neuronal foi tema da aula Conheça a neuroplasticidade, que integrou o ciclo de palestras Saúde é consciência, oferecido pela clínica Ayni Saúde Integrada, e ministrada pelo neurocirurgião Ricardo José de Almeida Leme.

Hoje, sabemos que algumas regiões do cérebro desempenham um papel específico e muito importante. A amígdala, por exemplo, é fundamental para as comunicações e as relações sociais do nosso cotidiano. Uma pessoa com algum tipo de lesão nessa região do cérebro pode desenvolver dificuldades para reconhecer expressões de surpresa, raiva ou medo. Além disso, também descobrimos a neuroplasticidade – nome dado à capacidade que os neurônios têm de formar novas conexões a cada momento.

Neuroplasticidade

Em virtude do grande interesse despertado pela área das neurociências, a década de 1990 foi batizada por alguns cientistas como a “década do cérebro”. Milhares de estudos científicos foram realizados desde então para investigar o sistema nervoso central. A neuroplasticidade é uma das áreas que tem recebido maior atenção. Segundo ela, nossos neurônios são capazes de se adaptar ao uso que fazemos deles. Isso permitiu à neurociência encontrar evidências que indicam a possibilidade de treinar o cérebro para compensar áreas danificadas. Essas descobertas podem ajudar pessoas que sofreram, por exemplo, um acidente vascular cerebral, mas também podem ser utilizadas para transformar a atitude das nossas vidas no dia a dia.

Até algum tempo, acreditava-se que o sistema nervoso central, uma vez danificado, não teria como se recuperar. “Hoje sabemos que a regeneração de lesões é possível não apenas com as células nervosas, mas também com todas as células de sustentação. No entanto, mais do que em estados de lesão, onde muitas vezes não há nada a ser feito, a neuroplasticidade se faz fundamental quando a pessoa está em estado de saúde”, afirma Ricardo. Segundo ele, seu objetivo com palestras abertas ao público geral é trazer as percepções de laboratório para o cotidiano das pessoas.

Novas formas de pensar

“Como a neuroplasticidade pode influenciar a minha forma de viver? Se uma pessoa muda sua forma de pensar ou de reagir a uma determinada situação, também o seu sistema nervoso central está se readaptando, mudando a forma como as suas células se conectam, e isso é neuroplasticidade. Então criar um novo hábito ou cultivar bons hábitos faz com que o cérebro se reorganize de uma forma que pode ter repercussão sobre toda a vida da pessoa”, explica.

Será que é preciso escolher um único caminho? Podemos até optar por um caminho principal, mas cuidar para que nas margens desse caminho existam pequenas bordas, pequenos canteiros e algumas sementes. Esses canteiros devem ser cuidados com alguma terra, ter alguma permeabilidade, para que o novo chegue. Essa abertura estimula a neuroplasticidade.

De acordo com o neurocirurgião, da mesma forma que a recuperação funcional é um dos aspectos da neuroplasticidade, pensar fora da caixa também é um grande estimulante. É como se você tivesse renunciado ao egoísmo. A pessoa que não consegue pensar o novo ou algo que contrarie os seus princípios tende a ser uma pessoa egoísta, apegada às ideias como se elas fossem verdades absolutas.

Leme utiliza a psicologia para exemplificar como nos apegamos a linhas de pensamento muito específicas. “Muitos dizem que são freudianos ou jungianos. Será que é preciso escolher um único caminho? Podemos até optar por um caminho principal, mas cuidar para que nas margens desse caminho existam pequenas bordas, pequenos canteiros e algumas sementes. Esses canteiros devem ser cuidados com alguma terra, ter alguma permeabilidade, para que o novo chegue. Essa abertura estimula a neuroplasticidade. Ela permite que alguns desses circuitos fiquem ativos”.

Saúde é consciência

Ricardo tem uma trajetória curiosa dentro da medicina. Após se formar pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, se especializou em neurocirurgia e fez doutorado na área de neurorregeneração em neuroplasticidade na Universidade de São Paulo. Preparado tecnicamente, foi atrás de formações que o ajudassem a casar seus valores humanistas com a prática médica. Acabou encontrando respaldo científico para isso na antroposofia.

Em 2012, lançou o livro Saúde é Consciência, no qual propõe uma discussão para repensar o modelo médico contemporâneo, baseado na cura e na prevenção de doenças, e levar a atenção para a saúde, com foco na preservação e na promoção. Para o neurocirurgião, nesse novo paradigma, o paciente deve assumir a responsabilidade em seu próprio processo de cura. “Ao invés de o médico ser aquele que dirige a cura do paciente, que numa prescrição fala o que o paciente deve fazer, ele simplesmente auxilia o paciente a emancipar-se desse processo”, explica. A partir dessa perspectiva, a proposta é que a doença deixe de ser vista como um mal a ser combatido e passe a ser encarada como uma oportunidade de transformação.

Foto: Anita Ponne / Shutterstock


Veja também:

Ricardo Leme: medicina, saúde e doença | Saúde Namu #02
Ricardo Leme: como ter saúde em uma sociedade doente
Fórum da paz: neurônios, ética e sociedade


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