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Cidades

À luz de bactérias e garrafas pet

Pesquisadores de Wisconsin falam ao Portal NAMU sobre projeto com espécie geneticamente modificada de Escherichia coli. Mecânico brasileiro cria solução de baixo custo que se populariza em outros países
Bruno Torres
21/05/15

Pesquisam-se fontes alternativas de energia em todo o mundo. Nos Estados Unidos, três estudantes da Universidade de Wisconsin inventaram uma lâmpada a partir de bactérias modificadas em laboratório. No Brasil, o mineiro Alfredo Moser fez uso de garrafas de refrigerantes preenchidas por água e cloro para iluminar sua casa. Mesmo em locais bem distantes e em diferentes estágios de desenvolvimento, as alternativas mostram uma crescente preocupação com a redução do consumo energético e seus desdobramentos para o bolso dos consumidores e para o meio ambiente.

O valor gasto com lâmpadas no Brasil representa de 15% a 25% do valor da conta de energia, conforme informações da CPFL Energia concedidas à Associação de Defesa do Consumidor (1).  O gasto médio em energia de uma residência é de 250 kWh, o que resulta em uma despesa em torno de R$ 120 por mês. Dessa forma, levando em conta a porcentagem de gasto das lâmpadas, a luz representa entre R$ 18 e R$ 30 reais nas cobranças de energia que chegam às nossas casas mensalmente.

Lâmpada de bactérias

Uma lâmpada feita a partir de bactérias brilhantes parecia uma ideia surreal até surgir o Frontier Fellows, projeto da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, que tem como objetivo envolver os alunos em seu Instituto de Descobertas. Três estudantes tiveram a ideia de fazer uma lâmpada biológica a partir de uma espécie geneticamente modificada das bactérias Escherichia coli, presentes no intestino humano e de outros animais de sangue quente.

Em laboratório, Michael Zaizen, Alexandra Cohen e Ana Elise Beckman pretendem alterar o DNA das bactérias para que elas se tornem bioluminescentes. Sem essa alteração, elas não são capazes de emitir luz. Depois, a intenção dos pesquisadores é reuni-las com outros microrganismos para criar um pequeno ecossistema dentro de um recipiente, garantindo a durabilidade da lâmpada. Cada microrganismo desempenha um papel importante para a reciclagem de nutrientes. Se apenas bactérias estivessem presentes, elas não sobreviveriam e o equipamento pararia de funcionar.

Os pesquisadores ainda não podem atestar o tempo de duração das lâmpadas, mas têm uma previsão. “O ecossistema fechado durou até mil dias. Já que a alteração do gene, que faz com que a bactéria E.coli brilhe, gera um estresse adicional, isso pode prejudicar o equilíbrio. Tendo como base essa linha de raciocínio, nós pensamos que a lâmpada poderia durar até seis meses”, declara Ana Elise Beckman em entrevista exclusiva para o Portal NAMU.

Financiamento coletivo

Apesar de a mão de obra científica ser complexa, os futuros usuários do produto puderam ajudar os desenvolvedores. Para promover o projeto, a equipe fez um vídeo explicando o projeto (2) e adotou a estratégia de crowdfunding, que consiste em uma arrecadação de verbas online, na qual pessoas físicas podem doar qualquer quantia de dinheiro para auxiliar projetos que considerem interessantes. A arrecadação terminou em agosto de 2013 e o grupo conseguiu arrecadar quase US$ 3 mil.

Saindo do laboratório

Os pesquisadores norte-americanos pretendem fazer uma nova campanha para coletar mais verba e conduzir o estudo para a criação do ecossistema fechado. “O último passo é combinar a bactéria fluorescente ao ecossistema fechado. Feito isso, dependendo do suporte financeiro que recebermos, poderemos mexer com a parte estética da lâmpada, como incluir diferentes cores”, planeja a equipe. O grupo ainda deseja criar ferramentas interativas no produto, como por exemplo, utilizar a temperatura das mãos para acender ou desligar a lâmpada, conta Beckman.

Uma vez pronto, o projeto tende a se tornar mais simples e o objetivo da equipe é disponibilizar um kit da Biobulb para que as pessoas possam montá-la em casa. “Nós enviaríamos um kit iniciante com amostras dos organismos e dos recursos necessários para o crescimento do ecossistema. Quando misturados com água e colocados em um recipiente hermético, a lâmpada tomaria vida”, relata Michael Zaizen. E parece que isso não está tão longe de se tornar realidade. Segundo as previsões de Zaizen, a lâmpada sairá do laboratório já em 2014.

Bactérias em casa

Ter uma lâmpada de bactérias em casa parece interessante, mas também um tanto quanto perigoso. O que acontece se o frasco quebra e milhares de microrganismos se espalham pela sala, ou pior, pelo quarto? Os pesquisadores dizem que as E.coli utilizadas no estudo são seguras e incapazes de causar doenças.

O grupo, porém, ainda não cogitou a possibilidade de todas ou a maioria das casas do mundo instalassem os produtos, sendo impossível prever se o uso em grande escala ofereceria algum risco à humanidade. Por enquanto, os protótipos usados em laboratório parecem inofensivos. Os estudantes disseram o Portal NAMU que as lâmpadas poderão ser descartadas em lixos comuns, como qualquer outro objeto, sem causar nenhum prejuízo ambiental adicional.

Tecnologia e sustentabilidade

Apesar de prometerem kits iniciantes da Biobulb para o público, a comercialização do item não é o objeto principal da equipe. Em um primeiro momento, eles desejam utilizar o projeto para fins educacionaisOs pesquisadores pretendem mostrar para o mundo a capacidade que a biologia sintética tem de criar novas alternativas para o futuro e também uma lâmpada ecologicamente correta. “Por um lado, a Biobulb representa todo o campo da biologia sintética, que pode criar novas tecnologias e revolucionar a forma como interagimos com o mundo que nos rodeia. Por outro lado, esperamos ajudar na expansão da compreensão das pessoas sobre os problemas relacionados à energia e como a nova tecnologia pode trazer soluções”, relata Michael Zaizen.

E ele não fala sozinho. “Ao invés de criar um produto para uso comercial, queremos educar as pessoas sobre o que é a biologia sintética e fornecer um exemplo inofensivo e amigo do meio ambiente do que esta nova área da ciência tem a oferecer. Isso poderia servir como uma ferramenta extremamente útil em áreas do mundo onde a iluminação é escassa, devido aos custos financeiros e falta de eletricidade”, afirma sua companheira de equipe Ana Beckman.

Luz engarrafada

Aqui no Brasil, quando o Brasil enfrentava uma série de apagões em 2002, o mecânico Alfredo Moser teve que usar sua criatividade para levar luz à sua casa. A solução, que recebeu o nome de luz engarrafada, nada mais é do que garrafa plástica de refrigerante, água e cloro.

A luz que entra pelo buraco do teto, onde a garrafa é encaixada, é refratada pela água contida no recipiente e ilumina o ambiente. Moser relatou que a luminosidade chega a atingir entre 40 e 60 watts. Mais de dez anos depois da primeira experiência, a ideia se espalhou por todo o globo.

De Uberaba para o mundo

Um ativista filipino chamado Illac Diaz adorou a invenção e criou um projeto na internet com o objetivo de levar luz para áreas pobres das Filipinas. De forma criativa, o projeto foi denominado A Liter of Light, que em português significa um litro de luz e inglês faz um trocadilho com um “lixo de luz”. No site do projeto (3), Diaz anuncia que a garrafa já foi instalada em mais de 15 mil lares em 20 cidades do país.

O maior benefício trazido pela luz engarrafada é seu baixo custo de produção e manutenção. Por não ser conectada à rede elétrica, ela não custa nem um centavo por mês. Para fazer uma réplica do produto também é muito fácil. Basta encher uma garrafa com água e acrescentar duas colheres de sopa de cloro. O cloro não ajuda na distribuição da luz, mas garante a transparência da água. Ele evita a proliferação de algas e outros microrganismos que poderiam deixar o líquido esverdeado com o tempo.

 O furo feito no teto deve ser muito preciso, portanto, é importante que se faça um molde antes de perfurar o telhado. A garrafa deve ser encaixada de forma que um terço fique para fora, em contato com o sol, e dois terços permaneçam no interior do cômodo. Para que não surjam goteiras em épocas de chuva, Moser recomenda colar a “lâmpada” com cola de resina e preencher todos os buracos.

 

Foto: Divulgação 


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