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Construção

Bioarquitetura de Sergio Pamplona fala de um mundo ainda sem nome

Sítio em Brasília onde mora e dá cursos é um espaço de pesquisa de práticas construtivas sustentáveis
Bruno Torres
08/06/15

Para chegar em sua casa, é bom seguir o mapa que ele mesmo fez. Impossível não acertar, apesar da surpresa de acessar uma área verde com um certo ar rural tão perto do centro de Brasília. Fomos recebidos com alegria e disposição logo nas primeiras horas da manhã, pois no sítio Nós na Teia o dia começa cedo.

Tecendo com bioarquitetura

O bioarquiteto e permacultor Sergio Pamplona, 47 anos, confessa que é comumente flagrado recolhendo folhas secas das calçadas de Brasília. Ele faz esse garimpo original desde quando começou a construir seu sítio, a menos de 15 km do Palácio do Planalto. São 10 mil m2 de área dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) São Bartolomeu. Batizado de Nós na Teia, o lugar é definido por Pamplona como um “espaço de pesquisa viva”, onde ele e a companheira Mônica Carapeços moram, trabalham e compartilham com visitantes (e muitos jornalistas) as pesquisas em busca de coerência entre sonho, discurso e realidade.

E quanto as folhas secas? Ele explica: “Elas são usadas para criar solo. Aqui só havia cascalho, mas o cenário mudou em 15 anos. O verde cresce por cima do solo degradado a partir da biomassa criada com folhas. Temos várias árvores jovens, um pequeno pomar com pés de pitanga, acerola, manga, banana e uma horta para as cinco pessoas que moram aqui. A água captada de chuvas é suficiente para metade do ano, mas a meta é expandir. Todo o esgoto é tratado e reaproveitado por meio de fertirrigação, técnica de aplicação simultânea de fertilizantes à água por meio de um sistema de irrigação”.

“Nada foi ou é tão linear assim”, avalia Pamplona. “Houve o tempo de criar três filhos pequenos, o tempo de sufoco financeiro, de não ser compreendido por alguns vizinhos, entre outras coisas. Hoje vivo do que faço e tenho muito prazer com isso”.

Como tudo começou

Em 1988, Pamplona formou-se em arquitetura, mas sem muita convicção sobre seu futuro na área. “Faltava uma conexão real entre academia e natureza”, relembra. A situação atual infelizmente mudou pouco. Os cursos de arquitetura do país não costumam ensinar práticas construtivas sustentáveis. Seu primeiro grande contrato de trabalho trouxe também uma grande crise. “Eu não queria escolher cor de granito para madames, nem desenhar casas feitas de materiais onde eu mesmo não moraria, como as feitas para população de baixa renda com caixas cartonadas recicladas”, conta Sergio.

"Frequentei comunidades alternativas em Pirenópolis (GO) tentando viver de um jeito menos individualista. Fui ao Rio de Janeiro (RJ) conhecer a comunidade Tibá e aprender como viver de bem com a natureza”. Foi do holandês Johan Van Lengen, fundador do Tibá e professor de bioarquitetura e tecnologia intuitiva que Pamplona ouviu pela primeira vez a palavra bioarquitetura. A semente estava lançada, mas a dúvida ainda reinava. Após isso, o futuro bioarquiteto afastou-se da arquitetura por uns tempos.

Após o primeiro casamento, Pamplona dedicou-se ao shiatsu, à massagem ayurvédica e outras práticas. Conhecer a permacultora Marsha Hanzi era o que faltava para a semente brotar. Foi morar com a família em Salvador (BA), onde Hanzi desenvolve experiências nessa área. Depois do curso com ela e da vivência no Instituto de Permacultura da Bahia, Pamplona retornou a Brasília assumindo de vez a carreira de bioarquiteto. Em 1998, começou a construir o sítio Nós na Teia.

Um mundo ainda sem nome

“O modo de acercar-se da terra é o foco da permacultura”, afirma Pamplona. “Desaprendemos a nos relacionar com a terra. Qual é o sentido de fazer uma coluna de ferro e cimento, cuja produção requer muita energia e causa danos à saúde e ao ambiente, em vez de madeira plantada no sistema agroflorestal perto de casa? Por que há tantos prédios vazios no centro de São Paulo quando existem pessoas morando nas ruas? Por que produzir tanta riqueza para ser concentrada nas mãos de poucos? A permacultura faz parte de outro paradigma e com isso sinto como se estivéssemos inventando um mundo que ainda não tem nome”.

Como convém a todo “espaço de pesquisa viva”, o sítio Nós na Teia vive em construção permanente. Pamplona reforma a oca de cursos e eventos e constrói mais três casas. E sem parar de garimpar as folhas secas.

Foto: simone ricardi / Flickr: Cutting Cork / CC BY 2.0


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