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Biocombustíveis x alimentos

Esta crise gera desde conflitos regionais, desmatamentos, deslocamento de povos e culturas tradicionais até a substituição de plantações de alimentos que acabam indo parar dentro de tanques de automóveis
Bruno Torres
18/04/15

Os biocombustíveis produzidos hoje no mundo deverão ultrapassar 225 bilhões de litros em 2023, substituindo 6% da produção de combustíveis de fontes fósseis, como o petróleo, e gerando uma receita de US$ 70 bilhões na próxima década. Os dados são da Agência Internacional de Energia. São números que trazem boas notícias. Menos dependência do petróleo significa menos poluição e danos ao ambiente, trazendo esperança de que, com emissões de gases de efeito estufa mais baixas, o planeta não chegue a um patamar perigoso de aquecimento e a mudanças perigosas e irreversíveis no clima.

Países pobres herdam problemas

As notícias não são apenas positivas. Os maiores produtores mundiais de biocombustíveis são os Estados Unidos, o Brasil e a União Europeia. No caso dos dois primeiros, a abundância de terras para a plantação de milho, cana de açúcar e soja ainda não significa uma ameaça para outras culturas de alimentos, mas no caso da União Europeia, que impôs uma taxa mínima de mistura de biocombustíveis à gasolina e tem muito pouco território disponível, o problema está sendo exportado para países pobres - onde ela compra vastas extensões de terras.

As consequências vão de conflitos regionais, desmatamentos em algumas regiões, deslocamento de povos e culturas tradicionais à substituição de plantações de alimentos que deveriam estar na boca das pessoas por monoculturas que acabam indo parar dentro de tanques de automóveis. Além disso, a transformação de alimentos em combustível está provocando altas de preços dos primeiros, tornando-os mais inacessíveis a uma parcela substancial da população mundial.

Nova era para a política alimentar

Os biocombustíveis agravam a crise alimentar do mundo e ela tem mostrado que a integração de dois setores, agricultura e energia, impensável há décadas, inaugura uma nova era de política alimentar e desenvolvimento sustentável. Pela primeira vez em décadas, os mercados agrícolas experimentam um aumento contínuo de preços, quebrando um declínio de longo prazo que beneficiava consumidores em todo mundo, desde a chamada Revolução Verde, iniciada nos anos 1960. Não só os preços dos alimentos sobem, como ficam voláteis, seguindo a tendência dos combustíveis e tornam-se imprevisíveis.

No centro desta questão encontram-se cerca de 800 milhões de pessoas subnutridas, a maior parte delas em áreas rurais, que dependem da agricultura de subsistência como renda e vivem com menos de US$ 1 por dia, de acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), a organização para agricultura e alimentos da Organização das Nações Unidas. Elas já se encontravam na faixa da insegurança alimentar, para onde estão sendo empurradas outras 2,5 bilhões, que vivem com US$ 1 a US$ 2 por dia.

Impacto afeta metas de desenvolvimento

O impacto potencial de uma grande expansão global da produção de biocombustíveis sobre pequenos produtores e consumidores em países de baixa renda apresenta desafios para governos e levanta a questão: é possível alcançar algo como as Metas de Desenvolvimento do Milênio? Estabelecidas pela ONU em 2000, as metas pretendiam diminuir pela metade o número de famintos e subnutridos no mundo até 2015. Foram feitos progressos em muitos países da Ásia e na América Latina e Caribe, mas houve recuos em países da África subsaariana.

No mundo todo, 25% da terra encontra-se degradada pela erosão do solo, secas e uso de práticas agrícolas inadequadas. As áreas produtivas remanescentes estão sujeitas a uma competição cada vez maior para uso urbano e industrial. Isto está sendo exacerbado pelo crescimento do comércio e investimento internacionais e pela emergência de um mercado verdadeiramente global de direitos da terra.

Globalização dos problemas

Neste cenário global, o que acontece em uma região, ou em uma parcela do mercado, acaba tendo repercussões mundiais. Os Estados Unidos fornecem metade do milho do mundo. Mudanças em sua disponibilidade, ou em seus preços, afetam a oferta e a demanda de trigo, arroz, soja e outros alimentos, colocando à margem do consumo populações que gastam 80% de seu orçamento com comida.

Pesquisas mostram que a necessidade de biocombustíveis levou a 300 aquisições de enormes extensões de terra em anos recentes, com a derrubada de florestas e o esgotamento das fontes de água. Na última década, 17 milhões de hectares de terra foram tirados do controle de populações locais na América Latina, África e Ásia. Isto é o tamanho de uma Alemanha em terra arável. Estas terras foram adquiridas por compradores de países estrangeiros, corporações e fundos de pensão.

Aumento de preços e conflitos sociais

A economia mundial, como se sabe, nem sempre é movida pela sensatez. O aumento abrupto de preços de grãos entre 2007 e 2008 deixou mais pessoas com fome no mundo que em qualquer outro período da história. E também levou a numerosos conflitos e protestos. Estes preços recuaram, mas voltaram a se elevar três anos depois, contribuindo para a eclosão de conflitos sociais no Oriente Médio conhecidos como a Primavera Árabe.

A produção de veículos elétricos caminha a passo de tartaruga e as medidas de eficiência no uso de combustíveis ainda demandarão investimentos muito altos em novas tecnologias e infraestrutura. Enquanto isso, do lado da equação alimentar, o crescimento populacional e da afluência de parte da população mundial somados à conversão de alimentos para fazer carros andar podem elevar o consumo a níveis recordes. A erosão do solo, a escassez crescente de água e o aumento de temperaturas no planeta dificultam a expansão da produção. A falta de alimentos já provocou a queda de diversas civilizações. Pense nisso quando acelerar seu carro.

Foto: Maria Hsu / Flickr


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