O poder público tem dificuldade de dialogar e de buscar a informação que de fato represente respostas corretas em políticas públicas. No âmbito da cidade isso é mais rápido porque há o imediatismo das pessoas. No âmbito estadual e federal, a dificuldade aumenta porque se acaba dando ouvidos para os que têm mais força, que são os ligados ao poder econômico. Muitas das politicas são regidas e advindas de diálogos com setores da produção, setores de cadeia produtiva e ligados ao poder econômico mais forte, então, o brasileiro, a pessoa mais simples, que de fato irá precisar das politicas sociais, não tem a possibilidade de ser ouvido. As dificuldades são enormes e tudo isso passa por uma crise maior que o país vive de representação. Por isso as pessoas estão cada vez mais se organizando em coletivos, em grupos, porque o espaço institucional já não cumpre a mesma função. O espaço do próprio governo acaba sendo espaço de reprodução do poder econômico, o que faz com que a população não se sinta representada por esse modelo. Por que a questão do incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte é tão urgente para as metrópoles? É urgente porque representa um modelo de cidade diferente e um modelo diferente de interação com a cidade. A bicicleta representa isso. Trata-se também da relação de uso e ocupação do solo, da moradia, do trabalho e como a mobilidade urbana dialoga com isso. A forma como nós usamos e ocupamos nosso solo e como mobilidade pode incentivar a gente a repensar essa relação.Essa é a busca por um modelo de cidade em que a vida acontece de forma mais simples, com menos impacto e a bicicleta acaba tendo tudo isso, ela carrega essa revolução
São Paulo tem um Uruguai inteiro que sai da zona leste e vai para o centro expandido todos os dias. Uma relação completamente invertidaSão Paulo tem um Uruguai inteiro que sai da zona leste e vai para o centro expandido todos os dias. Uma relação completamente invertida. O ideal é que haja trabalho perto de onde as pessoas moram, dentro de distâncias possíveis de ser percorridas em pouco tempo. É tão urgente promover o ciclismo porque através disso acabamos produzindo benefícios e ganhos em áreas como saúde, meio ambiente e mobilidade. Quais as principais medidas poderiam ser adotadas pelo poder público para atender as reivindicações dos cicloativistas, em curto, médio e longo prazo? A urgência das medidas depende da forma como a cidade se organiza. Em São Paulo, por exemplo, nós sempre soubemos que para dar o salto do uso da bicicleta na cidade era preciso mexer na forma estratégica e urbanística. Por isso foi fundamental a elaboração de um novo Plano Diretor, que promova uma cidade diferente, facilitada pela estrutura cicloviária. Depois vem o segundo momento, que é a implantação da estrutura cicloviária, indutora de novos ciclistas. Chegamos ao ponto no qual para promover o uso, a forma é investir pesadamente em infraestrutura. Isso gera mais demanda. A mesma coisa vale para o uso do transporte coletivo. Se a cidade possui bons corredores e sistema de ônibus bem articulados, produz mais demanda para o transporte coletivo. Como conciliar veículos particulares e bicicletas em um mesmo espaço de forma pacífica? Não é possível que as vias sejam de alta velocidade. Precisamos melhorar a fiscalização, alongar as esquinas e criar técnicas possíveis para que nossas ruas sejam mais humanizadas. Uma ferramenta fundamental é a criação de campanhas para promover o uso da bicicleta. Além disso, implantar bicicletários públicos e criar um sistema de compartilhamento de bikes que possa ser mais capilar e cada vez com mais bicicletas. É necessário atingir pontos nos quais as pessoas considerem a bicicleta um modal possível.
Estacionar o carro na via publica é um uso privado do bem público, o que não é um direito constitucional. Portanto, a remoção de vagas estacionamento é tirar algo do uso privado e devolver ao uso públicoTodas essas medidas estão contempladas no capítulo do novo Plano Diretor, ou seja, agora não é nada além de cumprir a legislação. O prefeito da cidade está cumprindo aquilo que a legislação obriga. O Código de Transito Brasileiro, desde 1995, coloca os veículos maiores cuidando dos menores. Isso também consta na Politica Nacional de Mobilidade Urbana, de 2012, que dá prioridade para o transporte coletivo e para a bicicleta. Por isso, o que está sendo feito hoje é lei e não há o que reclamar. Essas são ações do interesse público. Estacionar o carro na via publica é um uso privado do bem público, o que não é um direito constitucional. Portanto, a remoção de vagas estacionamento é tirar algo do uso privado e devolver ao uso público.