Pesquisam-se fontes alternativas de energia em todo o mundo. Nos Estados Unidos, três estudantes da Universidade de Wisconsin inventaram uma lâmpada a partir de bactérias modificadas em laboratório. No Brasil, o mineiro Alfredo Moser fez uso de garrafas de refrigerantes preenchidas por água e cloro para iluminar sua casa. Mesmo em locais bem distantes e em diferentes estágios de desenvolvimento, as alternativas mostram uma crescente preocupação com a redução do consumo energético e seus desdobramentos para o bolso dos consumidores e para o meio ambiente.
O valor gasto com lâmpadas no Brasil representa de 15% a 25% do valor da conta de energia, conforme informações da CPFL Energia concedidas à Associação de Defesa do Consumidor (1). O gasto médio em energia de uma residência é de 250 kWh, o que resulta em uma despesa em torno de R$ 120 por mês. Dessa forma, levando em conta a porcentagem de gasto das lâmpadas, a luz representa entre R$ 18 e R$ 30 reais nas cobranças de energia que chegam às nossas casas mensalmente.
Uma lâmpada feita a partir de bactérias brilhantes parecia uma ideia surreal até surgir o Frontier Fellows, projeto da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, que tem como objetivo envolver os alunos em seu Instituto de Descobertas. Três estudantes tiveram a ideia de fazer uma lâmpada biológica a partir de uma espécie geneticamente modificada das bactérias Escherichia coli, presentes no intestino humano e de outros animais de sangue quente.
Em laboratório, Michael Zaizen, Alexandra Cohen e Ana Elise Beckman pretendem alterar o DNA das bactérias para que elas se tornem bioluminescentes. Sem essa alteração, elas não são capazes de emitir luz. Depois, a intenção dos pesquisadores é reuni-las com outros microrganismos para criar um pequeno ecossistema dentro de um recipiente, garantindo a durabilidade da lâmpada. Cada microrganismo desempenha um papel importante para a reciclagem de nutrientes. Se apenas bactérias estivessem presentes, elas não sobreviveriam e o equipamento pararia de funcionar.
Os pesquisadores ainda não podem atestar o tempo de duração das lâmpadas, mas têm uma previsão. “O ecossistema fechado durou até mil dias. Já que a alteração do gene, que faz com que a bactéria E.coli brilhe, gera um estresse adicional, isso pode prejudicar o equilíbrio. Tendo como base essa linha de raciocínio, nós pensamos que a lâmpada poderia durar até seis meses”, declara Ana Elise Beckman em entrevista exclusiva para o Portal NAMU.
Apesar de a mão de obra científica ser complexa, os futuros usuários do produto puderam ajudar os desenvolvedores. Para promover o projeto, a equipe fez um vídeo explicando o projeto (2) e adotou a estratégia de crowdfunding, que consiste em uma arrecadação de verbas online, na qual pessoas físicas podem doar qualquer quantia de dinheiro para auxiliar projetos que considerem interessantes. A arrecadação terminou em agosto de 2013 e o grupo conseguiu arrecadar quase US$ 3 mil.
Os pesquisadores norte-americanos pretendem fazer uma nova campanha para coletar mais verba e conduzir o estudo para a criação do ecossistema fechado. “O último passo é combinar a bactéria fluorescente ao ecossistema fechado. Feito isso, dependendo do suporte financeiro que recebermos, poderemos mexer com a parte estética da lâmpada, como incluir diferentes cores”, planeja a equipe. O grupo ainda deseja criar ferramentas interativas no produto, como por exemplo, utilizar a temperatura das mãos para acender ou desligar a lâmpada, conta Beckman.
Uma vez pronto, o projeto tende a se tornar mais simples e o objetivo da equipe é disponibilizar um kit da Biobulb para que as pessoas possam montá-la em casa. “Nós enviaríamos um kit iniciante com amostras dos organismos e dos recursos necessários para o crescimento do ecossistema. Quando misturados com água e colocados em um recipiente hermético, a lâmpada tomaria vida”, relata Michael Zaizen. E parece que isso não está tão longe de se tornar realidade. Segundo as previsões de Zaizen, a lâmpada sairá do laboratório já em 2014.
Ter uma lâmpada de bactérias em casa parece interessante, mas também um tanto quanto perigoso. O que acontece se o frasco quebra e milhares de microrganismos se espalham pela sala, ou pior, pelo quarto? Os pesquisadores dizem que as E.coli utilizadas no estudo são seguras e incapazes de causar doenças.
O grupo, porém, ainda não cogitou a possibilidade de todas ou a maioria das casas do mundo instalassem os produtos, sendo impossível prever se o uso em grande escala ofereceria algum risco à humanidade. Por enquanto, os protótipos usados em laboratório parecem inofensivos. Os estudantes disseram o Portal NAMU que as lâmpadas poderão ser descartadas em lixos comuns, como qualquer outro objeto, sem causar nenhum prejuízo ambiental adicional.
Apesar de prometerem kits iniciantes da Biobulb para o público, a comercialização do item não é o objeto principal da equipe. Em um primeiro momento, eles desejam utilizar o projeto para fins educacionais. Os pesquisadores pretendem mostrar para o mundo a capacidade que a biologia sintética tem de criar novas alternativas para o futuro e também uma lâmpada ecologicamente correta. “Por um lado, a Biobulb representa todo o campo da biologia sintética, que pode criar novas tecnologias e revolucionar a forma como interagimos com o mundo que nos rodeia. Por outro lado, esperamos ajudar na expansão da compreensão das pessoas sobre os problemas relacionados à energia e como a nova tecnologia pode trazer soluções”, relata Michael Zaizen.
E ele não fala sozinho. “Ao invés de criar um produto para uso comercial, queremos educar as pessoas sobre o que é a biologia sintética e fornecer um exemplo inofensivo e amigo do meio ambiente do que esta nova área da ciência tem a oferecer. Isso poderia servir como uma ferramenta extremamente útil em áreas do mundo onde a iluminação é escassa, devido aos custos financeiros e falta de eletricidade”, afirma sua companheira de equipe Ana Beckman.
Aqui no Brasil, quando o Brasil enfrentava uma série de apagões em 2002, o mecânico Alfredo Moser teve que usar sua criatividade para levar luz à sua casa. A solução, que recebeu o nome de luz engarrafada, nada mais é do que garrafa plástica de refrigerante, água e cloro.
A luz que entra pelo buraco do teto, onde a garrafa é encaixada, é refratada pela água contida no recipiente e ilumina o ambiente. Moser relatou que a luminosidade chega a atingir entre 40 e 60 watts. Mais de dez anos depois da primeira experiência, a ideia se espalhou por todo o globo.
Um ativista filipino chamado Illac Diaz adorou a invenção e criou um projeto na internet com o objetivo de levar luz para áreas pobres das Filipinas. De forma criativa, o projeto foi denominado A Liter of Light, que em português significa um litro de luz e inglês faz um trocadilho com um “lixo de luz”. No site do projeto (3), Diaz anuncia que a garrafa já foi instalada em mais de 15 mil lares em 20 cidades do país.
O maior benefício trazido pela luz engarrafada é seu baixo custo de produção e manutenção. Por não ser conectada à rede elétrica, ela não custa nem um centavo por mês. Para fazer uma réplica do produto também é muito fácil. Basta encher uma garrafa com água e acrescentar duas colheres de sopa de cloro. O cloro não ajuda na distribuição da luz, mas garante a transparência da água. Ele evita a proliferação de algas e outros microrganismos que poderiam deixar o líquido esverdeado com o tempo.
O furo feito no teto deve ser muito preciso, portanto, é importante que se faça um molde antes de perfurar o telhado. A garrafa deve ser encaixada de forma que um terço fique para fora, em contato com o sol, e dois terços permaneçam no interior do cômodo. Para que não surjam goteiras em épocas de chuva, Moser recomenda colar a “lâmpada” com cola de resina e preencher todos os buracos.
Foto: Divulgação