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Gerais

Os olhos que veem a arte das ruas

Projeto olho na rua sp garimpa imagens de grafite e outras intervenções artísticas na cidade de São Paulo
Bruno Torres
27/09/19

São Paulo já é reconhecida internacionalmente pela arte de rua que vem sendo espalhada em vários locais da cidade. As cores dos grafites e de outras intervenções urbanas que, de certa forma, levam para o ambiente turbulento e hostil da cidade uma nova perspectiva foi a motivação da editora e tradutora Claudia Cavalcanti e do administrador de empresas Marco Carvalho. Esse movimento artístico os levou a criar, há um mês, o olho na rua sp. Trata-se de um projeto de divulgação de arte de rua nas redes sociais, com o intuito de transmitir o que, frequentemente, olhos desatentos não conseguem observar na paisagem tumultuada da metrópole.
Em entrevista exclusiva ao Portal NAMU, Claudia e Marco mostram suas opiniões sobre a relação da cidade cinza e desse monstro de concreto com a arte das ruas.

Qual é a principal motivação para fazer esse “garimpo” de arte nas ruas da cidade de São Paulo?
Claudia Cavalcanti – Costumo dizer que moro numa cidade chamada Pinheiros. Com o olho na rua sp, a motivação para conhecer mais a cidade é enorme. O estímulo fica ainda maior, porque posso mostrar o que ando vendo por aí. Além disso, gosto de fotografar e caminhar.

Marco Carvalho – Eu amo fotografia, gosto de andar a pé e pedalar pela cidade registrando cenas que, com a loucura do dia a dia, acabam passando despercebidas.

Na opinião de vocês, uma cidade mais artisticamente colorida, é um lugar melhor para viver ou continua sendo apenas uma metrópelo caótica e violenta com muitos grafites e outras expressões artísticas?
CC – É claro que São Paulo é uma cidade hostil. É poluída, o trânsito irrita, as pessoas são estressadas. A intervenção artística na cidade é importante não somente para imprimir um pouco mais de humanidade ao nosso dia a dia, mas também é uma forma de apropriação da cidade pelos seus habitantes. É muito melhor viver com arte do que sem ela.

MC - Sem dúvida, teríamos uma cidade mais feliz se trocássemos o cinza pelo vermelho, azul, amarelo etc. Toda intervenção artística na cidade é importante, pois imprime um pouco mais de humanidade ao nosso cotidiano.

Portanto, a arte seria um primeiro passo para humanizar uma cidade desumana? Ou seria apenas um grito de socorro para o monstro urbano que é São Paulo?
CC – Não podemos esquecer as pichações. Elas nasceram como um um grito de protesto e continuam sendo. Se é vandalismo? Sim e não. Os grafites também são grito. Vamos pegar a artista plástica Mag Magrela como exemplo. Seus grafites são extremamente expressivos e dizem muito da existência feminina. Aliás, as mulheres são geralmente figuras angustiadas no mundo do grafite. Louise Bourgeois, artista dotada de muita angústia além de grande talento, disse uma vez: “arte é garantia de sanidade”. Acho que ela se referia não somente ao artista, mas ao consumidor de arte. Nesse sentido, a arte urbana humaniza não só a cidade, mas também seus habitantes.

MC – Um grito de protesto, não tenho dúvida. Temos andado e visto muito isso por todas as regiões de São Paulo. Outro dia, por exemplo, fomos fotografar o Museu Aberto de Arte Urbana (MAAU). Lá perto encontramos Pardalone, um artista com pegada religiosa, que grafitava a imagem de um morador de rua. Há também gritos que estão de todos os lugares, como os que se relacionam com o meio ambiente. Comento com Claudia que a linguagem varia de região para região.

Como as pessoas podem colaborar com essa busca por arte urbana?
CC – No Facebook ou no Instagram as pessoas podem marcar com hashtags artes de rua descobertas por elas. Todas as imagens enviadas serão publicadas. Também é possível simplesmente nos mandar por inbox no Facebook. A ideia é tornar o olho na rua sp uma iniciativa de muita gente, um garimpo coletivo.

MC – Queremos que o olho na rua sp seja de todos, inclusive que aconteça em outras cidades. É impossível rastrear a dois uma cidade como São Paulo. Quem quiser entrar nessa pode marcar com hashtags de acordo com a região da cidade: #olhonaruacentro, #olhonaruazo, #olhonaruazl, #olhonaruazn, #olhonaruazs e #olhonaruagrandesp.

Que tipos de arte são registrados no olho na rua sp?
MC – O olho na rua sp nasceu pra acolher todo tipo de intervenção artística advinda das ruas da cidade. Claro que o grafite é prepoderante. Por isso, o perfil no Instagram privilegia o grafite. Já a fan page do Facebook não só acolhe outros tipos de intervenção, como colagens, pinturas e uma gama de possibilidades. Lá, nós também divulgamos eventos relacionados à arte urbana.

CC - Em breve, assim que o site fique pronto, queremos entrevistar artistas, convidar pessoas para escrever sobre o assunto e ampliar a agenda de eventos na cidade.

Como vocês veem a acolhida do público para esse tipo de arte? Qual é o público mais receptivo?
MC - Não vejo resistência, vejo a cidade de São Paulo cada vez mais colorida e reconhecida lá fora, e nossos artistas cada vez mais valorizados. Outro dia, li uma matéria sobre um britânico que criou um tour de grafites por São Paulo, o que prova que não existe mais preconceito, mas sim respeito e valorização. Quanto ao público, creio que seja diversificado.

CC – Pessoalmente, não acho perfeita a denominação “arte de rua”, a não ser que sirva apenas para dizer que ela não está no museu – embora muitos artistas de rua estejam expondo em importantes galerias. É como diferenciar “arte” de “arte popular”. É menos arte porque é expressão do povo? Não, né?

Qual é a missão de vocês com olho na rua sp? Vocês pretendem continuar sendo uma fan page?
CC – A missão primeira é nos divertirmos fazendo o que gostamos. A segunda e mais importante é divulgarmos a arte de rua de São Paulo. Pouca gente sabe, mas há vários artistas da cidade muito conhecidos e reconhecidos fora do país. Só que há outros ainda a serem descobertos por um público maior. A nós, interessa muito a diversidade.

MC – Ah, quero me divertir, fotografar, conhecer novos pontos de grafite, divulgar a arte de rua e dar voz a novos artistas. Penso também que, mesmo sem uma pretensão acadêmica e sistematizada, o olho na rua sp vai acabar sendo um catálogo das artes que passam pelas ruas, porque, se passam pelas ruas, muitas vezes têm vida curta.

Quando o projeto foi lançado? De onde surgiu a ideia?
CC – Essa é quase uma resposta em uníssono, pelo tanto que gostamos de fotografar. Eu tendo a produzir o meramente estético ou quase abstrato. Já a pegada de Marco é a fotografia de rua. Foi ele que me chamou atenção para essa possibilidade, ele que desviou meu olhar para a rua. Daí para esboçarmos algo, ter um perfil no instagram e uma fan page, foi um pulo. Lançamos o projeto há um mês e já temos muita coisa em mente. Queremos ir longe. E estamos na rua pra isso.

MC – O amor à fotografia e às artes em geral nos une. Conversamos a respeito e muitas vezes fotografamos juntos. Um dia fizemos um passeio pela Galeria das Corujas e Claudia notou que as fotos que publiquei depois tinham mais likes que as outras pessoais no Instagram. Fomos conversando a respeito, e de repente olho na rua sp surgiu na nossa frente.

Fotos: Divulgação olho na rua sp


Veja também:
Grafite, arte, rebeldia e patrocínio
Grafite valoriza mulher brasileira
Arte de rua é uma forma de resistência


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