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Construção

Sinfonia para o Grotão de Paraisópolis

Projeto de escola de música foi premiado por design sustentável com refrigeração natural e energia solar
Bruno Torres
27/09/19

Nas ruas, pessoas e carros disputam a vez de passar. No horizonte, camadas de construções improvisadas. O som que se escuta é o das batidas eletrônicas vindas dos celulares dos transeuntes. Para esse cenário planeja-se o Centro de Ação Social pela Música, projeto que recebeu prêmios internacionais por priorizar sistemas sustentáveis e foi desenvolvido pelo escritório de arquitetura e design Urban Think Tank (UTT). 

O espaço vai acolher as escolas de música erudita e de balé da comunidade de Paraisópolis, situada em uma das áreas mais ricas de São Paulo, na zona sul da cidade. A iniciativa recebeu apoio do projeto municipal que visa a revitalização da localidade e será financiada pela prefeitura.

“A ideia surgiu há cerca de cinco anos, quando um grupo de professores e estudantes da Universidade de Columbia de Nova York participou de um workshop em São Paulo”, explica o arquiteto Wagner Rebehy, representante do UTT no Brasil, em entrevista ao Portal NAMU. “Durante o evento, os participantes desenvolveram projetos arquitetônicos para os lugares que haviam visitado. Um deles, elaborado por estudantes e coordenado pelo professor Alfredo Brillembourg, sócio do UTT, foi o que deu origem ao Centro de Ação Social pela Música.”

Música erudita

Inicialmente, a proposta era para uma escola comum - a escolha pela música foi um pedido dos moradores. O motivo da reivindicação é que a comunidade já conta com uma escola de música reconhecida por formar a Orquestra Filarmônica de Paraisópolis. O novo espaço também irá acolher a escola de balé de Paraisópolis. Juntas, as duas têm cerca de 700 alunos. “Os projetos terão que lidar com a mudança de realidade, as salas serão amplas. Será necessário um número maior de equipamentos e há a possibilidade de ampliação de turmas”, comenta Rebehy sobre os futuros desafios.

Comunidade mais verde

Placas fotovoltaicas para captar energia solar e paredes resfriadas por meio de canais de água que circulam no interior da estrutura da escola: o projeto se destaca por priorizar sistemas que reduzem o impacto ambiental em longo prazo. "A ideia é evitar o uso constante de ar-condicionado, pois, para preservar a acústica, algumas salas terão que ser totalmente fechadas", explica o arquiteto. Os espaços também foram planejados considerando a adequação da luz natural.

Na parte externa, áreas terão cobertura verde e alguns espaços serão destinados à agricultura urbana. A água da chuva, através de um sistema de captação, será reutilizada para irrigar esses espaços.

Em 2012, o projeto foi o vencedor da etapa da América do Sul e o segundo colocado na competição mundial do prêmio realizado pela Holcim Foundation que elege os melhores projetos de construções sustentáveis do ano.

Perigo na área

Com mais de 100 mil moradores em uma área aproximada de 900 mil de m², um dos poucos espaços disponíveis em Paraisópolis era um local conhecido como Grotão, pedaço de terra íngreme onde as casas estavam expostas ao risco de deslizamento. “O terreno foi justamente selecionado por ser de risco, para dar utilidade ao lugar e cooperar na retirada de casas que estavam em situação preocupante”, esclarece Rebehy. A região externa do projeto será dividida em patamares cobertos com áreas verdes, o que promete estabilizar o terreno. 

O processo de remoção das famílias está em andamento. Após a delimitação do espaço, as moradias foram catalogadas. Quem deve ser realocado pode optar entre receber um aluguel social ou uma nova casa. “Infelizmente, ficamos sabendo que algumas famílias ocuparam a área depois de tomar conhecimento do projeto, apenas para receber a indenização.”

Outro problema relacionado ao local é a dificuldade de acesso à área. Na vizinhança, as ruas costumam ser estreitas e poucas são pavimentadas. Por esse motivo, o projeto prevê que a rua principal para se chegar ao centro seja asfaltada, beneficiando a circulação de carros e ônibus na região. A linha prata do metrô, que está em fase de construção, terá uma estação em Paraisópolis, o que facilitará a entrada de visitantes.

Moradores no comando

O espaço contará com um anfiteatro público, uma pequena sala de concerto e quadras de esporte, além das salas de aula. “O intuito é que toda a comunidade se aproprie do centro cultural e utilize suas rampas, escadarias e elevadores como atalhos para circulação no bairro”, reforça Rebehy.  

O intuito é que toda a comunidade se aproprie do centro cultural e utilize suas rampas, escadarias e elevadores como atalhos para circulação no bairro.

“A ideia é não depender de verba pública para pagar os custos fixos", diz o arquiteto a respeito da manutenção do espaço. "Outro ponto fundamental é que a gestão deve ficar a cargo dos moradores.” Todas essas questões estão sendo debatidas com a Associação de Moradores do Bairro, organização que existe há mais de 30 anos.

Paraisópolis terá de esperar para ver esse sonho concretizado. O começo das obras aguarda aprovação do prefeito Fernando Haddad (PT-SP), que enfrenta problemas na distribuição dos recursos financeiros municipais. Uma reunião com as partes envolvidas está marcada para o início de abril. Estima-se que o custo ficará em torno de R$ 20 milhões. Após iniciada a construção, o prazo para finalização é de 18 a 24 meses. 

Em um momento em que o projeto de reurbanização do centro de São Paulo conhecido como Nova Luz foi abandonado, Paraisópolis sonha ouvir sinfonias executadas por sua orquestra em pleno Grotão.

Imagens: divulgação


Veja também:
Arquitetura e sustentabilidade
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Mobilidade urbana e arquitetura


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