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Gerais

Inovação e sustentabilidade

Agir criticamente no presente é fundamental para consolidar novas ideias e transformar a sociedade
Bruno Torres
27/09/19

Lala Deheinzelin, especialista mundial em economia criativa e desenvolvimento sustentável, propõe um jogo: desenhar o futuro. Como futurista, ela projeta o que está acontecendo agora em escala para analisar como algumas atividades presentes reverberariam no futuro.

Seus princípios incitam à ação. Ao projetar futuros, ela provoca o debate (e o incômodo) sobre como sair do comportamento reativo para dinâmicas baseadas na criatividade, ou seja, como transpor a máxima do Fórum Social Mundial (um mundo novo possível) para um desenho e exercício efetivo de novo mundo.

Nosso olhar, nossas lentes, definem a maneira de ver e agir sobre ele. Que lentes escolhemos? Inovadoras ou conservadoras? Reativas, proativas ou criativas?

A especialista, também fundadora e coordenadora do movimento internacional Crie Futuros, lembra que toda vez que uma inovação surge, ela proporciona uma ampliação das possibilidades, muita vez delirantes. Se buscarmos, por exemplo, algumas ilustrações, fotos ou filmes do começo do século, veremos pessoas se comunicando com uma espécie de videofone, algo comum hoje em dia.

Ideias como essas foram consideradas utópicas quando surgiram. Porém, com as crescentes inovações tecnológicas, tornaram-se realidade. “O que acontece é que as ideias semeiam o futuro, porque inspiram o desejo que pode se converter em possibilidade”, explica.

Para Lala, quando nos propomos a estudar planos futuros, trabalhamos exatamente com as questões do desejo, da possibilidade e da probabilidade. Se nos fosse solicitado desenhar o que seria o futuro, poderíamos conceber visualmente um mapa de conjuntos, tempos e fluxos. O resultado seria de futuros prováveis, possíveis e desejáveis.

Ilustração de

A diferença entre os três é didática. O primeiro é mais limitado, pois provável é aquilo que tem base no que já é conhecido. O segundo é amplo, pois há muita coisa que é possível, apesar de improvável. E o terceiro é chave para inovação, pois perpassa os desejos. Cada um deles origina um jeito de pensar e agir sobre o mundo.

“Os futuros prováveis trazem a forma reativa de fazer, que resultou em todos os ‘erres’ do reduzir, reutilizar e reciclar. A sustentabilidade, contudo, não se limita à reação. É a possibilidade maravilhosa de desenhar outra forma de viver, outras maneiras de produzir”, afirma Lala.

A renovação ou ruptura se dá justamente pela inovação, ao passo que a transformação real surge somente pela mudança cultural, de mentalidade. Para isso, Lala defende a reinvenção não catastrofista: “precisamos criar uma narrativa que revele o quanto as novas possibilidades são atraentes e possíveis; precisamos criar outra cultura”.

A ativista diz ainda que “assim, passamos para o conjunto dos futuros desejáveis, criativos, em que as ações não vêm dos ‘erres’, mas dos ‘cês’: conhecer, comunicar, compartilhar, colaborar, 
circular. O conhecimento e a comunicação são as chaves para se conectar, compartilhar, colaborar e fazer circular todo tipo de recurso”.

Novos processos colaborativos têm surgido em todo o mundo – casas colaborativas, cocriações, crowdfunding, coworking, crowdsourcing, crowdeconomy. Como estudiosa da economia criativa, Lala não titubeia ao afirmar que todos eles têm a celebração como nutriente comum. Basta analisar o futebol, a religião e o carnaval.

O ato de celebrar articula em torno de si todos os ‘cês’, e desperta para o ‘c’ chave que faz com que tudo isso seja possível: o confiar. “Nenhuma dessas possibilidades de futuro podem existir sem confiança. Para, finalmente, passar do reativo ao criativo chegamos ao conjunto dos futuros possíveis, onde agimos proativamente. Com ele surgem os ‘pês’, de ponte, processo, parceria, produzir por meio das pessoas e suas potências.”

O processo de inovação e transformação pode ser resumido pelo percurso traçado ao longo da matéria: parte do reativo passa pelo proativo para chegar ao criativo. Lala destaca a Virada Sustentável, da qual é também conselheira, como exemplo, pois semeia possibilidades interessantes, sustentáveis e amplas ao concretizar os futuros prováveis, possíveis e desejáveis.

O evento, que acontece desde 2011, vai além do conjunto do provável. Ele articula e conecta potências existentes por meio de parcerias e cria desenhos de mundos desejáveis e possíveis com cultura, criatividade e colaboração.

Ao reunir e propor atividades formativas e lúdicas, a Virada Sustentável instiga, provoca e possibilita que a mudança cultural se torne real. “A Virada primeiro nos dá uma causa (primeiro “c”): mudar a noção sobre sustentabilidade para uma visão de desejável redesenho do mundo. Ela convoca (segundo “c”) e faz a ponte: convida todos os setores da sociedade a agir, ou seja, serem proativos. E vai além: nos faz vivenciar a transformação. Por meio da celebração e artes, cria uma narrativa atraente, em que os futuros e lentes desejados se tornam possíveis e os desenhos, realidade”, finaliza Lala.


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