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Oceanos e Rios

O encontro do amaciante com o mar

Liberado na lavagem em máquinas, o nonilfenol etoxilado afeta a reprodução de animais aquáticos
Bruno Torres
27/09/19
Marcas de roupas comercializadas no mundo inteiro foram testadas em um estudo do Greenpeace (1) para avaliar a quantidade de substâncias tóxicas impregnadas nas roupas – e o resultado não é nada favorável para o ambiente. As 14 amostras de roupa apresentaram altos índices de uma substância chamada nonilfenol etoxilado (NPE, da sigla em inglês), que é liberada durante a lavagem em máquinas de lavar e que termina por contaminar rios e oceanos.

Contaminação da água

Para que seja mais fácil lavar nossas roupas e que a água leve a sujeira das peças, uma substância chamada tensoativo quebra a tensão da superficial da água, fazendo com que ela passe mais facilmente entre as fibras do tecido. O NPE, encontrado nas amostras avaliadas pelo Greenpeace, é um tipo de tensoativo usado pela indústria têxtil para facilitar a remoção de sujeiras durante a lavagem. Além dos dejetos industriais, o estudo concluiu que muitas substâncias ficam impregnadas nas roupas e liberadas novamente na água após uma lavagem simples em casa. A contaminação da água não fica restrita só aos países de origem das roupas, uma vez que elas são comercializadas no mundo inteiro. Parte da poluição dos oceanos vem do fluxo doméstico de água, afirma o relatório. Em contato com o meio ambiente, mesmo depois de passar por tratamentos biológicos, a substância resiste e a água contaminada é despejada nos rios e oceanos.

NPEs no dia a dia

O NPE é uma substância sintética encontrada em outros produtos domésticos como detergentes, produtos de limpeza, adesivos, cosméticos e inseticidas, por exemplo, segundo a Agência Norte-Americana de Proteção do Ambiente (EPA) (3). Outra forma de encontrar o nonilfenol etoxilado é em agrotóxicos, segundo a EPA. Aqui no Brasil, o NPE consta na tabela de componentes válidos para importação do Ministério da Agricultura como de “máxima preocupação toxicológica” (4). Em 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária apreendeu 2,3 milhões de litros de agrotóxicos adulterados, incluindo uma linha de produção com NPEs por alteração não autorizada pela Anvisa na produção dos agrotóxicos (5).

O caminho dos tóxicos

Uma das características do nonilfenol etoxilado é que ele se acumula ao longo da cadeia produtiva e alimentar. Isso significa que é possível encontrar resíduos dos NPEs no corpo humano se um peixe contaminado for ingerido como alimento, por exemplo. Esse caminho que termina no corpo do homem começa na escolha de quais produtos químicos as indústrias devem utilizar para dar às roupas características como maciez, facilidade para lavagem etc. Parte da contaminação ocorre ainda nas fábricas, quando elas despejam resíduos químicos nocivos ao ambiente diretamente em rios e oceanos, alcançando as populações de animais aquáticos.

Animais em risco

Um dos principais efeitos da substância, segundo o estudo do Greenpeace, é um distúrbio hormonal causado pelos NPEs nos peixes, o que desencadearia um desequilíbrio nos ecossistemas marinhos, uma vez que esses animais passariam a ter dificuldades de reprodução. Uma pesquisa divulgada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) (2) constatou um efeito similar ao apontado pelo Greenpeace: caramujos aquáticos brasileiros tiveram alterações no sistema reprodutivo que levaram a transformações nas populações de animais examinados.

Segundo relato do ativista do GreenPeace Li Yifang realtou para a Agence France-Presse (AFP), os NPEs mimetizam hormônios femininos que modificam o sistema de reprodução dos peixes. Ele ainda reforça que existem riscos para os seres humanos, uma vez que as substâncias são resistentes e que se acumulam nos organismos dos seres através da cadeia alimentar.

O que fazer

O papel do consumidor, segundo o relatório do Greenpeace, é o de selecionar e pesquisar a origem dos produtos que consome para identificar as empresas que utilizam NPEs e outras substâncias tóxicas. Desta forma, pode haver uma quebra no ciclo da cadeia produtiva que faz com que vestígios dos químicos industriais voltem aos seres humanos de outra maneira posteriormente. Foto: Martin Cooper Ipswich / Flickr / CC BY 2.0; Katherine / Flickr: Washing / CC BY-ND 2.0

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