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Oceanos e Rios

Projeto Garoupa luta para preservar áreas marinhas brasileiras

Iniciativa busca proteger o meio ambiente com pesquisas científicas, arte e educação ambiental
Bruno Torres
27/09/19

O Brasil das praias é um mundo. Nos nossos cerca de oito mil e quinhentos quilômetros de costa litorânea, há milhares de histórias. São pessoas que utilizam os recursos marinhos para sobreviver. Essa população vê no mar uma fonte de renda e uma forma de existir. Porém, o crescimento das cidades, o aumento da pesca industrial e a falta de investimento em preservação das áreas marinhas nacionais tornaram urgente a criação de políticas públicas direcionadas aos ecossistemas marinhos e à proteção dessas populações. Quando protegidos, fauna, flora e tradições dos povos caiçaras saem ganhando.

“Os ambientes marinhos estão em estado precário de conservação e o nosso principal objetivo para contornar essa situação é utilizar a garoupa como espécie-alvo de um projeto de preservação ambiental”, destaca Ralf Riedel, biólogo e coordenador de pesquisa do Projeto Garoupa. O peixe, conhecido pela maioria das pessoas como o “animal da nota de cem reais”, é a garoupa verdadeira (Mycteroperca marginata). É um animal fundamental para a manutenção dos ecossistemas marinhos brasileiros e está na lista de espécies ameaçadas de extinção em razão da pesca predatória e da destruição do seu habitat.

Segundo Riedel, a proteção da garoupa funciona como indicador para constatar se aquele ambiente está ou não degradado. “Na cadeia alimentar, ela está no topo e ao preservar o ápice, automaticamente preserva-se todo o ambiente em que ela está inserida”, pontua o pesquisador. Como forma de promover a difusão de informações e pesquisa sobre as áreas marinhas e a importância da garoupa para os ambientes costeiros. Com o objetivo de preservar essa espécie e o meio no qual ela está inserida, o Projeto Garoupa desenvolve pesquisas e ações de educação ambiental em 11 cidades do litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo.

A garoupa

“No mundo, essa espécie de peixe é encontrada no oceano Atlântico leste principalmente das Ilhas Britânicas a África do Sul, se estende do Oceano Índico até a Ilha de Madagascar e também amplamente distribuída no Mediterrâneo. No Atlântico oeste ocorre principalmente do estado do Rio de Janeiro ao sul da Argentina, na Patagônia”, destaca Riedel. Segundo a União Internacional de Conservação da Natureza (UINC), a garoupa é considerada uma espécie globalmente ameaçada de extinção.

"Esse animal habita tocas situadas em costões rochosos e ambientes recifais. Vive em média 60 anos. Uma característica emblemática da garoupa está no fato dela ser hermafrodita. Todas nascem fêmeas e apenas algumas se tornam macho. Essa mudança ocorre somente após o oitavo ano de vida. A transformação se dá por conta de fatores ambientais e a reprodução passa a acontecer por volta do décimo segundo ano de vida nos machos e acima dos cinco anos das fêmeas. Caso isso não seja levado em conta, as medidas de regulamentação de pesca não serão efetivas para a preservação e manejo da espécie”, alerta o biólogo.

A legislação brasileira atualmente permite a pesca de animais acima de 47 centímetros de comprimento e estudos comprovam que a garoupa apenas realiza a reversão sexual em macho quando atinge aproximadamente cerca de um metro de comprimento, por isso é necessário rever o regulamento urgentemente. A principal dificuldade que ações como a do Projeto Garoupa enfrenta está no alto valor comercial do peixe. Isso ocorre em razão do delicioso sabor da garoupa, o qual colocou essa espécie em um posição central das tradições culinárias. São muitos os pratos típicos das regiões costeiras que utilizam a garoupa. “Sua importância econômica só é freada pela baixa quantidade de indivíduos quando comparada a outras espécies mais abundantes”, relata Riedel.

O que é o projeto?

O Projeto Garoupa está dividido em três áreas de atuação: caracterização de habitats, larvicultura e educação ambiental participativa. Com equipes de cientistas, mergulhadores e educadores com uma proposta que abrange cidades da região dos Lagos no Rio de Janeiro, a chamada Costa Verde também no Rio e as cidades de Ilhabela, Caraguatatuba e São Sebastião, no litoral norte de São Paulo.

“Na pesquisa por habitat mergulhamos em 12 ilhas diferentes: quatro na região de ressurgência, quatro na região de alto impacto e quatro na região de baixo impacto com o objetivo de mapear esses locais caracterizando esses ambientes no que diz respeito às partes física e biológica dos locais. Na parte física fazemos medição de tocas, rugosidade, topografia, temperatura. Na parte biológica, temos o senso de peixes e a foto quadrada”, conta Maurício Roque da Mata, engenheiro de pesca e coordenador geral do projeto. O especialista explica que as informações coletadas ajuda a produzir dados capazes de oferecer subsídios para políticas públicas de proteção tanto da garoupa quanto dos ambientes marinhos em que ela aparece.

Larvicultura e preservação

Um dos passos mais importantes na proteção da garoupa é a larvicultura. “Através de uma parceria feita com a Redemar Alevinos na cidade de Ilhabela desenvolvemos uma ferramenta de reposição de estoque como alternativa de recuperação fazendo uso de ambientes de cativeiro”, pontua Riedel. O pesquisador ressalta que o projeto não endossa essa possibilidade para substituir os animais selvagens, trata-se de uma alternativa, caso a situação da espécie chegue a um estado crítico.  

Em setembro de 2014, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) assinaram um acordo para executar o projeto Áreas Marinhas Protegidas. “Essa ação beneficiará em média 40 milhões de pessoas que dependem desse ambiente marinho para seu sustento. Nesse sentido, todos podem ganhar. O Brasil, nós e o ambiente. Tanto por conta da preservação dos ambientes e também no âmbito social, mantendo as populações tradicionais costeiras em seus locais e favorecendo a economia da região em que essas populações estão inseridas”, completa.  

Educação ambiental através da arte

Arraial do Cabo, Cabo Frio, Armação dos Búzios, Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis, Paraty, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela são as cidades que receberam as oficinas do Projeto Garoupa durante os dois primeiros anos de atuação. Com a proposta de trabalhar a temática da educação ambiental através da arte, educadores de teatro, contação de histórias e audiovisual promoveram os cursos para diversos tipos de público. Em cada um desses municípios, escolas, comunidades tradicionais, centros culturais e demais espaços educativos receberam atividades lúdicas e palestras com biólogos do projeto para discutir meio ambiente com um olhar diferente.

“Somos um projeto itinerante e isso nos permite compartilhar da realidade de diversos lugares e ao mesmo tempo aprender e ensinar com cada uma dessas realidades”, diz Maurício Roque da Mata. O coordenador conta que os educadores e biólogos ficam por volta de três a quatro meses em cada município, fazem parcerias com as lideranças locais e oferecem as oficinas. “Depois de terminado cada ciclo de oficinas, elegemos um multiplicador por cidade, que irá, junto com a bióloga do projeto, organizar palestras para dar continuidade ao trabalho no local”, completa.

Como produto apresentado no fechamento de cada ciclo, os participantes apresentam peças teatrais, contam histórias e produzem conteúdo audiovisual. O tema dos trabalhos é eleito por cada grupo, como forma de compreender a realidade e as necessidades dos lugares. “Nossa ideia é tratar a temática da preservação ambiental e mostrar que os recursos naturais são preciosos e o ser humano está ali para usufruir deles, com consciência”, destaca da Mata.

Uma das experiências realizadas com as oficinas na cidade de Ubatuba, litoral norte de São Paulo possibilitou a produção de um documentário sobre a comunidade caiçara de Camburi. Através da Associação de Moradores e Amigos de Camburi (AMAC), membros da comunidade realizaram junto ao educador Felipe Scapino, um documentário que conta a história e as tradições do local.

Essa praia pouco conhecida e explorada recebeu energia elétrica há poucos anos e as pessoas que vivem ali possuem consciência de que o uso sustentável da terra e do mar constrói o futuro das próximas gerações. O feitio de canoas caiçara, a culinária tradicional, a música, o surf e mais algumas características foram retratadas na produção que já está participando de festivais e exibições em diversos lugares. Fotos: Felipe Scapino


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