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Energias Renováveis

Quanto custa uma usina hidrelétrica

Belo Monte e Baixo Iguaçu intensificam debate sobre os impactos da construção de usinas de grande porte
Bruno Torres
27/09/19

Usinas hidrelétricas são as responsáveis pela produção da maior parte da energia utilizada no Brasil. Apesar de ser mundialmente considerada uma fonte renovável, os impactos sociais e ambientais gerados por essa estrutura são muito grandes e o valor disso se torna muito alto. Isso acontece principalmente em consequência das grandes áreas alagadas, que prejudicam a biodiversidade e resultam no desalojamento de comunidades inteiras.

De acordo com o Greenpeace, em 2011, o Brasil já contava com 565 usinas hidrelétricas de grande e pequeno porte, responsáveis por produzir 76% da eletricidade usada no abastecimento de todo o país. Duas hidrelétricas têm sido alvo de grupos ambientalistas: Belo Monte, em construção no rio Xingu, no Pará, e Baixo Iguaçu, localizada próximo aos limites do Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná.

Belo Monte

Em entrevista ao Portal Namu, representantes do Movimento Xingu Vivo Para Sempre disseram que a usina trouxe muita “desgraça” para a população local, principalmente para as comunidades indígenas. A organização atua diretamente com as comunidades de Altamira, região em que a hidrelétrica está sendo construída. Por se opor a um dos maiores projetos governamentais, o grupo atua sem qualquer apoio público.

“Tudo o que você imagina que não vai acontecer na terceira maior usina do mundo está acontecendo aqui”, explica uma porta-voz do movimento que pediu para não ser identificada. Segundo ela, que atua diretamente em Altamira, no Pará, os problemas só aumentam. Diariamente vão até o escritório da organização de 20 a 30 pessoas pedindo ajuda, fora os atendimentos que são realizados por telefone.

A degradação ambiental é grande e afeta diretamente o rio Xingu. Conforme material compilado pelo Instituto Socioambiental (ISA), o Ibama não consegue dimensionar a quantidade de árvores derrubadas para a obra e os canteiros são considerados sumidouro de madeira. Além disso, boa parte das toras retiradas da mata, que poderiam ser aproveitadas na construção, está largada, enquanto as construtoras compram madeira de outra origem. As mudanças afetaram o rio e os reflexos foram sentidos na cidade. Uma cheia recente alcançou áreas habitadas e afetou muitas famílias, conforme informado pelo Movimento Xingu Vivo.

O que vive a comunidade?

Quanto aos impactos sociais, a lista é grande. Os ativistas garantem que quem mais sofre por causa da usina de Belo Monte são as comunidades indígenas, mas, segundo eles, é impossível ter a noção exata do tamanho do problema. “Os povos indígenas, a gente não consegue nem mensurar. Nós sabemos que muitos já estão envolvidos com o alcoolismo, por exemplo. Eles são os mais vulneráveis”, declara a representante.

O restante da comunidade que vive em Altamira ainda tem de lidar diretamente com dois graves problemas: a falta de moradia e a prostituição. Para o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, as famílias foram praticamente expulsas de suas casas. O acordo sobre os reassentamentos dessas pessoas determina que até julho deste ano 4.100 casas deveriam ser construídas, somente em Altamira. Porém, até o momento, a menos de um mês do fim do prazo, apenas 46 casas foram entregues, o equivalente a 1,12% do total estipulado. “Temos notícias de, pelo menos, três pessoas que já morreram de depressão por causa disso”, explica a porta-voz do movimento, em referência ao deslocamento social sofrido pela comunidade. Ela ainda lembra que os níveis de prostituição, inclusive infantil, cresceram tanto que, a cada três casas, existe um bordel.

Ao ser finalizada, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte fornecerá 11 mil MW de energia e será a segunda maior do Brasil, atrás apenas da usina de Itaipu, que tem capacidade para produzir 14 mil MW. No entanto, um estudo feito pelo professor Wilson Cabral de Sousa Júnior, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica de São José dos Campos, estima que o prejuízo da falta de planejamento da estrutura chegue a R$ 1 bilhão. Entre as causas previstas pelo especialista para esse estrago monetário estão: perda da qualidade da água e da atividade pesqueira, prejuízo com turismo e custos das emissões de CO2 e metano na atmosfera.

O caso de Belo Monte também tem sido tema para pesquisas científicas de impactos socioambientais. Uma delas teve início neste ano e possui o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O trabalho conta com a vinda de pesquisadores estrangeiros para o Brasil para avaliar de perto quais são os reflexos desta obra.

Falta de informação no Paraná

A Usina Hidrelétrica de Baixo Iguaçu já começou a ser construída. O fator mais preocupante nessa construção é a sua localização, a apenas 500 metros dos limites do Parque Nacional do Iguaçu, onde estão as cataratas, um dos patrimônios naturais tombados pela Unesco. Além do desmatamento e das mudanças que podem ocorrer no rio, as obras de acesso, como a construção e reativação de estradas no entorno da usina, são consideradas itens perigosos para o ecossistema local.

No início do mês de março a Unesco divulgou um relatório sobre a situação de diversos patrimônios naturais no mundo. O caso da hidrelétrica foi um dos destaques, com a organização pedindo a paralisação da obra por falta de informações acerca dos impactos que ela pode gerar, sob o risco de a área voltar à lista vermelha de locais ameaçados.

A ONG ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF) tem trabalhado em campanhas de divulgação do tema, cobrando a suspensão das obras, que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. A organização ainda pede que sejam promovidos projetos de desenvolvimento que garantam “uma sinergia positiva entre o Parque Nacional do Iguaçu e as economias locais, com atividades sustentáveis, envolvendo todos os municípios do seu entorno”.


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