Andar de bicicleta é sempre um dos primeiros e, talvez, o maior desafio na infância. Com rodinhas ou sem, esse passo importante fica marcado na memória e é lembrado pelo resto da vida. Muita gente, no entanto, para de pedalar quando cresce. O trabalho e a correria do dia a dia, somados à falta de estrutura para pedaladas seguras acabam por aposentar a bike. Para que o quartinho dos fundos não seja mais o destino das bicicletas, William Cruz criou o projeto Vá de Bike.
Inspirado em tornar a convivência de pessoas, bicicletas, automóveis e ônibus mais harmônica, a iniciativa ajuda desde 2002 aqueles que optam por enfrentar o desafio de percorrer sobre duas rodas as ruas brasileiras, tanto na maior cidade da América do Sul quanto em outras cidades.
Profissional da área de tecnologia, William Cruz começou a pedalar em 2000, com a certeza de que sua opção era equivocada. “Eu pedalava e sentia que incomodava nas ruas, que estava errado por fazer aquilo em meio aos carros e ônibus. Senti necessidade de demonstrar minha indignação através das palavras”.
Assim nasceu o site Vá de Bike, que no início era apenas um blog pessoal onde ele postava suas experiências e relatos. “O projeto tem a ideia de tornar o uso da bicicleta mais seguro”, explica o cicloativista. Segundo ele, o Vá de Bike com o tempo transformou-se em um portal com informações sobre trânsito, leis, dicas, novidades, artigos e dados para quem pedala ou pretende começar a fazê-lo. Há no site coberturas de eventos e ações pela bicimobilidade, além de reflexões sobre o uso da bicicleta nas grandes cidades.
Com a chegada de patrocínio, Cruz pode deixar seu antigo trabalho e dedicar-se somente ao cicloativismo. A ideia de viver em cidades voltadas para pessoas, em vez de automóveis, une a rede de colaboradores. Eles vêm de várias estados do Brasil e de diversas regiões de São Paulo, oferecendo um mapa de diferentes realidades e questões relacionadas à mobilidade urbana.
“O Vá de Bike tornou-se uma referência no assunto”, acredita Aline Cavalcante, a primeira colaboradora do portal. A jornalista mudou-se de Aracaju para São Paulo inicialmente com data para voltar. O ativismo e o trabalho com a mobilidade urbana na capital paulista a fizeram mudar de ideia.
O projeto mostra a legitimidade do uso da bicicleta e a evolução do cicloativismo. Três pilares devem trabalhar em conjunto para que a cidade se transforme, enumera Cavalcante: “A sociedade civil, mais forte e visível, cada dia demonstra mais interesse no assunto e vontade de mudar; o estímulo do poder publico por meio de melhor segurança, campanhas educativas, equipamentos e, por fim, punições severas para motoristas que insistirem em desrespeitar a vida e o direito de uso da rua pelos ciclistas".
Atualmente Aline Cavalcante coordena OGangorra, um espaço de co-working onde as bicicletas são mais do que bem-vindas. O local, compartilhado com o Las Magrelas Bar e Bicicletaria, e funciona como sede do Vá de Bike, Cidades para Pessoas, Bike Anjo, entre outros projetos ligados à transformação das cidades. “OGangorra é um local de coletivo de trabalho com potencial concentrador de pessoas e discussões em busca de transformar o mundo” comenta a jornalista.
“O mais bonito é ver florescer iniciativas vindas da população. Ainda há desrespeito, mas o estímulo a outros modais de transporte promove a mudança de pensamento em grandes cidades. As pessoas se questionam e se movimentam”.
Foto 1: Arquivo pessoal
Foto 2: Gonzalo Cuellar
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