“Como está seu irmãozinho? Costumava me perguntar o padeiro do bairro quando ia comprar pão em Buenos Aires”. A cofundadora da Associação Palas Athena, Lia Diskin, contou esse relato de sua infância para ilustrar o enfraquecimento dos vínculos afetivos na sociedade atual. Para ela, que também é coordenadora do Comitê da Cultura de Paz, as coisas mudaram. “As comunidades já não têm a coesão interna que elas tinham. Havia realmente um interesse de uns pelos outros e, consequentemente, um cuidado de uns pelos outros. A própria família foi encolhendo e em alguns casos até se esgarçando.
A simples posse de algo não consegue dar conta dessa necessidade que o humano tem do humano.
O vínculo de importância que eu podia ter com meus irmãos ou com meus primos hoje está praticamente esvaecido.
Como consequência da carência de legitimação e reconhecimento provocada pela falta de laços amorosos, as pessoas consomem em excesso na esperança de que coisas materiais irão suprir a angústia existencial. Mas, segundo Diskin, isso seria impossível. “A simples posse de algo não consegue dar conta dessa necessidade que o humano tem do humano. Gente tem necessidade de gente”, sentencia.
Para comprovar a importância dos vínculos afetivos, ela argumentou que desde o momento em que nascemos até o final da vida precisamos ser cuidados por outros seres humanos. “Se nós começamos e findamos a vida nesse entorno amoroso de mútuo acolhimento, o que acontece no meio? De onde surge essa fantasia de que eu não preciso de alguém? Claro que eu preciso”, explica.
Essa pergunta foi dirigida a 800 brasileiros de todas as regiões em uma pesquisa do Instituto Akatu. Os resultados mostraram que a maioria dos entrevistados - independente da classe social ou idade - priorizam mais o bem-estar físico e emocional e a convivência social, do que a posse de bens materiais e aspectos financeiros. Os dados endossam a tese de Diskin de que vínculos afetivos contribuem para a felicidade.