O documentário Cidade Cinza, dirigido por Guilherme Valiengo e Marcelo Mesquita, retrata a ação da política de limpeza urbana sobre os grafites da cidade de São Paulo. O filme nasceu em 2008 com a ideia de contar a história de grafiteiros. Durante as gravações, no entanto, um muro de 700 m² coberto por grafites, localizado na avenida 23 de Maio, amanheceu cinza durante as gravações.
Os desenhos cobertos eram de osgemeos, Nina Pandolfo e Nunca, artistas que já apareceriam ao longo do filme. Ironicamente, ao mesmo tempo em que suas obras eram apagadas no Brasil, osgemeos eram convidados para pintar uma área externa do museu britânico Tate Modern.
Após o sumiço da pintura, a equipe responsável pelo documentário decidiu mudar a direção do roteiro. O enfoque agora seria o serviço contratado pela prefeitura para transformar em cinza aquilo que é considerado poluição visual, vandalismo ou depredação do patrimônio público.
Com trilha sonora de Criolo e Daniel Ganjaman, Cidade Cinza aborda as políticas públicas para as artes de rua, que ora incentiva, ora cerceia. Depois de o então prefeito Gilberto Kassab (DEM) ter alegado que a empresa contratada para recobrir a parede havia cometido um engano, os grafiteiros foram convidados a “regrafitar” a avenida 23 de Maio.
Cinco anos depois, no fim de 2013, grafites da dupla osgemeos voltaram a ser apagados, desta vez no bairro do Glicério, região central de São Paulo. As pinturas protestavam contra a camada de tinta cinza aplicada para apagar grafites, política mantida pelo atual prefeito, Fernando Haddad (PT).
No Rio de Janeiro, a situação se repete. Em uma passagem dos irmãos Pandolfo pela cidade em dezembro de 2013, eles pintaram um menino de costas embaixo de um viaduto. Quatro dias depois, funcionários da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) cobriram o desenho com a tinta cinza. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, os funcionários receberam ordens para apagar pichações, mas os grafites deveriam permanecer.
Osgemeos já foram convidados a expor suas obras em grandes cidade do exterior, como Londres, Munique e Lisboa, e uma tela da dupla medindo cerca de 2 m² chega a custar US$ 100 mil.