Em meio à grave crise hídrica da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e grande parte da região Sudeste do Brasil, uma cidade do sul de Minas Gerais dá um bom exemplo de como proteger suas nascentes e mananciais. Com 28 mil habitantes, Extrema é o único dos doze municípios abrangidos pelo Sistema Cantareira que efetivamente recupera e conserva as matas nativas à beira dos reservatórios.
A prefeitura, em conjunto com a Agência Nacional de Águas (ANA) e organizações não governamentais, como a Fundação SOS Mata Atlântica, a Conservação Internacional (CI) e a The Nature Conservancy (TNC), executa desde 2007 o projeto Conservador das Águas. A ideia é fazer com que os donos de terras próximas dos reservatórios de água conservem a vegetação nativa de Mata Atlântica dentro de suas propriedades. Em contrapartida, recebem uma compensação financeira chamada Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
Área de pasto degrada (esq) e posterior recuperação por meio de replantio da mata ciliar (dir).
O PSA é um dispositivo legal que torna possível compensar financeiramente quem se dispõe a cuidar do meio ambiente. Serviços ambientais são processos gerados pela natureza por meio dos ecossistemas que ajudam a sustentar a vida no planeta.
Dessa forma, a prefeitura de Extrema, com o apoio das instituições parceiras, fornece aos proprietários rurais assistência técnica e verba necessária para que eles promovam a recuperação e conservação das áreas de proteção ambiental (APA), que são regiões extensas destinadas a manter a biodiversidade de um bioma. O projeto fornece toda a metodologia para conservação sustentável dos solos, monitoramento da qualidade e quantidade de águas e instalação de biodigestores para o tratamento corretos de efluentes. O programa também protege as reservas legais (RL), áreas com vegetação nativa em imóveis rurais destinadas ao manejo sustentável.
Nos quase oito anos em que está em andamento, o Conservador das Águas apresenta muitos resultados satisfatórios. Graças à recomposição da vegetação nativa, as chuvas de janeiro já permitiram que a água brotasse das nascentes. Em 2010, Extrema foi eleita pela Fundação João Pinheiro como o melhor entre os 853 municípios de Minas Gerais na questão do meio ambiente. Em 2013, a Organização das Nações Unidas (ONU) premiou o projeto em caráter mundial, em Dubai, como uma das melhores práticas de conservação.
O cercamento das áreas de nascente evita a depredação ou invasão por animais de grande porte.
Hoje, o Conservador das Águas reúne 150 propriedades cadastradas em um total de 7,3 mil hectares preservados com plantio médio 700 mudas por dia de espécies nativas. Não é por acaso que o projeto tornou-se referência nacional e mundial na recuperação e conservação de nascentes. Outras instituições também estão aderindo ao movimento com base em parceiras. Um deles é o Laticínio Serra Dourada. A empresa hoje paga 10% a mais do valor do leite para produtores que participam do projeto.
A experiência de Extrema é inspiradora, pois serve como resposta às cidades vizinhas, onde a especulação imobiliária dizima sorrateiramente a Mata Atlântica original e a mata ciliar dos rios e lagos. O projeto Conservador das Águas mostra que é possível garantir o abastecimento dos mananciais de forma simples, sem gastos astronômicos e, assim, fornecer água mesmo em longos períodos de estiagem. Que a prática sirva de exemplo para muitos dos nossos governantes.
Fotos 2 e 3: Prefeitura de Extrema