Se sua dieta não está funcionando, fique de olho no rótulo dos produtos que consome. A maioria das dietas tem como base a contagem de calorias dos alimentos ingeridos para que você possa calcular o que pode ou não comer e em qual quantidade determinado alimento é aconselhável de acordo com as metas propostas pela dieta. O problema é que sua conta pode estar certa, enquanto que a dos produtores pode estar camuflando valores.
As empresas do setor de alimentos medem as calorias de forma antiquada e fornecem informações erradas, conclui um estudo da Universidade de Harvard conduzido pelo professor Richard Wrangham1. Segundo ele, há décadas não há se reformula o sistema de contagem de calorias, mesmo com o avanço do conhecimento científico.
Alimentos ricos em fibras, como vegetais e cereais matinais, por exemplo, podem estar com valores calóricos mais baixos do que deveriam, pois os medidores não contam as calorias presentes nas fibras. Já alimentos ricos em proteínas, que exigem do corpo maior consumo de energia para sua digestão quando comparados a carboidratos, teriam em seus rótulos valor calórico maior do que o real.
O erro pode variar em até 25% para mais ou para menos afirma o estudo. No caso das fibras, os erros notados pela medição resultaram em uma média de 20% para menos. Os valores calóricos impressos nas embalagens eram 20% mais baixos que o valor calórico real dos alimentos.
A importância da pesquisa está no conhecimento das pessoas sobre o que elas comem. O consumidor deve estar ciente do que ingere. “Existem muitas informações erradas sobre calorias e é fundamental para o consumidor ter a informação correta sobre o que come, estando em dieta ou não”, comentou Richard Wrangham em entrevista para o jornal inglês The Guardian.
O valor calórico é calculado a partir de um sistema chamado Atwater System2. Os nutricionistas analisam a composição dos alimentos e vêem quantos gramas de proteína, gordura e carboidrato ele possui. A partir disso, faz-se um cálculo somando as calorias de cada grama dos componentes: um grama de proteína ou de carboidrato possui quatro calorias e um grama de gordura possui nove.
Vamos pegar o exemplo de uma barra de chocolate de 170 g. Supondo que na embalagem conste que ela possui 15 g de carboidratos, 1 g de proteína, cerca de 8 g de gordura, e 1 g de fibra, a barra possuiria um valor calórico próximo a 136 calorias, seguindo o Atwater System. O sistema deixa de lado as fibras, pois assume que o nutriente não possui valor energético para o organismo. Desta forma, o sistema funciona bem para alimentos que são rapidamente digeridos, segundo Richard Wrangham.
A pesquisa revelou que o mesmo alimento pode apresentar variações calóricas se ingerido cru ou cozido, e que essas variações não costumam ser expressas nas embalagens. Para chegar mais próximo do valor calórico correto dos alimentos, os pesquisadores recomendam a ingestão de alimentos crus, uma vez que eles fornecem menos calorias que os alimentos cozidos porque são mais difíceis de serem digeridos pelo organismo. O valor energético pode ser 30% menor nos alimentos crus, favorecendo a perda de peso, de acordo com nutricionista britânico George Livesey no encontro de 2013 da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS).
Foto: Ramnath Bhat / Flickr: ramnath bhat / CC BY 2.0
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1. YIRKA, B. Primatologist argues for changes to caloric values listed on food labeling. MedialXpress. 2013. Disponível em:<https://medicalxpress.com/news/2013-02-primatologist-caloric-values-food.html>. Acesso em: 21 out. 2013.
2. MAYNARD, L. A. The Atwater system of calculating the caloric value of diets. 2014. Disponível em: <https://jn.nutrition.org/content/28/6/443.full.pdf>. Acesso em: 21 out. 2013.