O que comemos se torna parte do nosso corpo. No entanto, desde muito tempo, o yoga reconhece que o tipo, a qualidade e a quantidade de alimentos consumidos não apenas nutrem e moldam o físico, mas afetam mais sutilmente o corpo astral e, portanto, a mente e as emoções do ser humano. É nisso que alimentação ayurveda acredita.
A abordagem holística da nutrição yoga visa limpar, fortalecer e desenvolver todos os níveis da nossa humanidade. Enquanto a maioria dos outros sistemas nutricionais se concentra nos efeitos físicos e químicos da dieta, a alimentação ayurveda também leva em conta os aspectos mentais e espirituais de nossa comida.
Outro aspecto importante é o respeito com o alimento e o conhecimento de que a energia que ele carrega, seja boa ou ruim, será absorvida pelo organismo. Em sânscrito, nosso corpo físico é chamado de “corpo de alimento” (annamaya kosha), nome que enfatiza que somos o que comemos. Alimentos sem energia vital (prana), como a carne, são evitados. Ao cozinhar, até mesmo nossas emoções são transmitidas ao alimento e é por isso que devemos estar tranquilos ao prepará-lo.
Ainda há os aspectos de qualidade, quantidade e interações referentes à alimentação ayurveda. Comer frutas nas grandes refeições, ingerir leites ou alimentos pesados à noite, tomar muito líquido durante as refeições principais, beber água gelada, mastigar mal, comer muito, combinar mais que cinco comidas diferentes por refeição são hábitos que dificultam a digestão e por isso devem ser evitados. Recomenda-se fazer um jejum parcial um dia por semana com alimentos leves para livrar o corpo de toxinas e resíduos.
Para entender os efeitos mentais e espirituais da comida, vamos dar uma olhada na filosofia das três propriedades da natureza. Na filosofia do yoga, o cosmos manifestado é descrito como uma interação de três qualidades diferentes.
Essas qualidades são chamadas gunas.
Os três gunas são padrões sutis, um "arquétipo energético" subjacente a todas as manifestações materiais e não-materiais.
A filosofia do yoga diz que a preponderância de uma guna em nossas vidas tem consequências definidas.
Todas as técnicas de yoga visam aumentar a sattva. Por outro lado, certas músicas, por exemplo, são rajas, e a sociedade, ou conversas negativas podem multiplicar o tamas. Mesmo com a comida, podemos influenciar quais das três qualidades que fortalecemos em nossas vidas.
As escrituras yogis preconizam que o universo é formado pela combinação de três qualidades da matéria (gunas): rajas, tamas e sattva. O mesmo vale para os alimentos: há os satívicos. rajásicos, e os tamásicos.
O alimento sattva torna nossa mente clara e equilibrada, fortalece o corpo e o mantém saudável e flexível. A comida sattva é pura, saudável, facilmente digerível e naturalmente saborosa. Ele traz ao corpo energia renovada e permite que as pessoas desenvolvam plenamente seus talentos e habilidades.
A qualidade sattva prevalece na alimentação ayurveda. Eles são encontrados nos seguintes cinco grupos de alimentos.
Ser sattva é comer a comida calma e conscientemente, no espírito de gratidão, mastigar devagar e bem, e comer apenas o necessário. Recomenda-se também comer em silêncio.
O modo de alimentação de rajas perturba nosso equilíbrio mental e físico, ao nutrir o corpo às custas do espírito. A dieta de rajas estimula o corpo e excita as paixões; a mente fica inquieta e incontrolável.
Também faz parte do rajas comer apressadamente ou avidamente, mastigar insuficientemente e ingerir muitos alimentos diferentes com uma refeição. Falar e ler durante a refeição é considerado rajas.
Tamas refere-se à inércia. Os alimentos tamásicos não possuem prana, a energia vital e por isso tornam o corpo pesado e lento, entorpecendo o pensamento. A mente tende a sentir emoções como inveja, raiva ou ganância. Depressão e desequilíbrio mental também podem surgir.
Os alimentos que fazem parte desse grupo são:
Exceder-se na alimentação é considerado um comportamento tamásico.
O yoga possui diversas práticas de limpeza e purificação chamadas kryias. As posturas de yoga, chamadas asanas, massageiam órgãos vitais e estimulam os movimentos peristálticos, que contribuem para uma boa digestão, facilitam a eliminação de toxinas e promovem uma melhor circulação de energia. Essas práticas são um contraponto à ociosidade e ao meio ambiente insalubre típico da vida moderna das grandes cidades que tornam nosso corpo lento e sobrecarregam órgãos vitais.
O jejum semanal também é uma limpeza, uma vez que dá ao nosso organismo tempo suficiente para digerir os alimentos, assimilar o que é útil e eliminar excessos.
Nem todo yogi é vegetariano, mas há vários aspectos na tradição que o conduzem à prática ou, pelo menos, a uma drástica redução no consumo de carne.
A carne contém muita gordura, colesterol e pouca fibra, ao passo que os vegetais são exatamente o contrário. Além disso, muitos dos agrotóxicos pulverizados em plantações e antibióticos aplicados nos animais são absorvidos pela carne, o que a torna altamente tóxica para o consumo humano. Uma dieta sem carne ajuda a reduzir significantemente os níveis de colesterol, problemas cardíacos, artrite, ácido úrico, gota, obesidade, diabetes, prisão de ventre, calculo biliar e pressão alta.
A não violência (ahimsa) é o princípio mais importante da filosofia yogi, pois conduz o praticante a respeitar e não causar sofrimento aos seres vivo. Os animais criados pela indústria alimentícia passam a vida confinados e o momento do abate é carregado de medo e dor.
Do ponto de vista do yoga, o homem não tem o direito de usar sua supremacia para dominar e matar criaturas mais vulneráveis. Isso se reflete no aspecto energético, pois todo medo e dor sofridos por um animal abatido nos afetam quando comemos sua carne.
O praticante do yoga deve pensar também no aspecto ambiental quando se trata do consumo de carne. A criação de gado é cara, dispendiosa e consome grandes quantidades de água. Anualmente, áreas gigantescas são desmatadas e transformadas em pasto. Em razão da grande quantidade de gás metano expelido em seu processo de digestão, o gado bovino também responsável pelo aquecimento global.
De acordo com o relatório da FAO, entidade da ONU responsável por assuntos de alimentação, 765 milhões de pessoas ainda passam fome. A criação de gado ocupa áreas suficientes para diminuir sensivelmente a fome no mundo. Falta comida nos países em desenvolvimento, enquanto os países desenvolvidos convivem com altos índices de obesidade e consumo cada vez maior de medicamentos para emagrecer.
O yoga tem muito a nos ensinar no que diz respeito à alimentação ayurveda. Comer bem vai além de montar o próprio cardápio visando cuidados com o corpo e com a saúde. É, acima de tudo, um ato político e de amor que pode mudar de forma profunda e positiva nosso planeta.
Quer saber mais sobre alimentação e yoga? Conheça nossos cursos online agora mesmo!