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Energias Renováveis

Nem tudo é verde nos biocombustíveis

Apontados como caminho sustentável para a crise energética, eles incluem problemas socioambientais
Bruno Torres
27/09/19

A produção de energia a partir da queima de biomassa, de forma direta ou através de combustíveis como o etanol, é divulgada como uma alternativa sustentável aos combustíveis fósseis. Mas será que vale a pena? Apesar dos biocombustíveis serem renováveis, existem outros fatores socioambientais a serem considerados, como a opção pela monocultura, o fato de menos terras serem utilizadas para a produção de alimentos e, ainda, a emissão de gases estufa. Apesar disso, diversos países têm investido nestas fontes de energia. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a porcentagem de biomassa utilizada dentro do Brasil tende a crescer até 2030.

O que é biomassa?

“Pode ser considerada biomassa todo recurso renovável que provém de matéria orgânica - de origem vegetal ou animal - tendo por objetivo principal a produção de energia”, segundo o Ministério do Meio Ambiente. A definição abrange as matérias-primas usadas tanto para gerar eletricidade como para gerar combustíveis, sólidos (carvão vegetal), líquidos (biodiesel, etanol) ou gasosos (biogás).

O argumento principal para que o uso da biomassa seja considerado sustentável é que ela é uma fonte de energia renovável, já que é possível criar novas lavouras após a queima dos materiais, formando um ciclo de produção que não termina. Em contraponto, os combustíveis fósseis demoram milhões de anos para se formar novamente e, portanto podem se esgotar. Em entrevista à Agência Brasil, José Manuel Cabral, da Embrapa, defende os biocombustíveis pelo viés social: o mercado da biomassa permite uma produção descentralizada, com vários produtores e em diversos locais do mundo. Já os combustíveis fósseis são controlados por algumas grandes empresas e apenas em países que possuem jazidas.

Problemas

Mas o processo de produção não é tão favorável como parece. As plantações são montadas em monoculturas, o que acelera a erosão do solo e diminui a biodiversidade na área cultivada. Em termos sociais, as monoculturas impedem o crescimento de pequenos produtores, concentrando as terras em médios e grandes agricultores.

Outro problema é que as plantações podem competir com áreas que primeiramente deveriam ser reservadas para a produção de alimentos. Isso ocorre, principalmente, no caso do etanol, da cana-de-açúcar e do milho, porque muitos agricultores que vendiam seus produtos para empresas alimentícias passaram a vender para usinas energéticas visando maior lucro. O resultado disso foi uma diminuição da oferta de comida e um aumento nos preços.

Em 2008, no auge da discussão sobre a crise alimentar, uma pesquisa da Universidade da Califórnia publicou que a produção de etanol chegou a aumentar de 18% a 39% o preço dos alimentos nos Estados Unidos. Já o relatório da organização não governamental Action Aid de 2012 afirma que até 2020 os preços do milho podem subir 22%,do açúcar 21% e do trigo 13%. Além disso, realça que os biocombustíveis tendem a deixar os preços da comida mais instáveis. Isso ocorre porque a demanda de biodiesel aumenta ou diminui conforme o preço do barril de petróleo e, consequentemente, afeta a indústria alimentícia.

Para a Action Aid, uma das maiores preocupações da crise alimentar é o aumento da fome mundial, principalmente em países subdesenvolvidos e com altos níveis de pobreza. Também pode resultar em problemas de saúde no mundo como um todo, pois a população pode começar a comprar comidas mais baratas e menos saudáveis.

Bioeletricidade

Diferentemente do etanol, a matéria orgânica é diretamente queimada em fornos ou caldeiras para produzir eletricidade.Os exemplos mais comuns de biomassa para esse uso são árvores, como eucalipto e pinheiros, alguns tipos de capim, palha e, no caso brasileiro, o bagaço da cana.

Segundo a Green Campus Harvard Iniciative, a queima da biomassa pode liberar na atmosfera a mesma quantidade de CO2que a queima de carvão mineral e, apesar de soltar menos que o gás natural, ela chega a liberar outros poluentes em maior quantidade. Comparando com os combustíveis fósseis, ela só representa vantagens em relação ao petróleo. Então porque os governos investem na biomassa?

Um dos argumentos do Biomass Energy Center do Reino Unido é que deve ser considerado que as plantações são capazes de absorver gás carbônico durante o seu crescimento, o que possibilitaria formar um ciclo no qual elas próprias reutilizariam o CO2 liberado na queima da antiga colheita. Porém, o centro adverte que é necessário organização para realizar esse ciclo com sucesso.

Um dos possíveis problemas da falta de planejamento seria consumir biomassa mais rapidamente do que produzir, levando a um aumento de gases estufa na atmosfera e ao desmatamento da área. O Biomass Energy Center acredita que é possível quase todo o CO2ser reabsorvido se o cultivo for controlado. No entanto, esse processo pode ser demorado, segundo o Greenpeace a reabsorção pode levar décadas,o que causaria um desequilíbrio entre a queima e a reciclagem do gás carbônico.

Um estudo do Greenpeace do Canadá, por exemplo, mostra que a indústria local de energia elétrica está extrapolando os limites que mantém a produção sustentável. Lá, a lenha é a principal biomassa utilizada e, com o aumento dessa forma de produção de energia, está crescendo o desmatamento de florestas nativas.

A outra forma de produzir bioeletricidade seria através de resíduos de outras usinas. No Brasil, o bagaço da cana é um dos mais utilizados. Antes o bagaço era classificado como um detrito altamente poluente, mas hoje, muitas usinas sucroalcooleiras se utilizam dele para se sustentar energeticamente. Outras sobras que poderiam ser utilizadas são a palha da cana, cascas de frutas, como laranja e coco, além de cascas de arroz e de castanhas. Em geral, essa produção é pontual e mais frequente em locais isolados da rede elétrica.

Lavoura de cana-de-açúcar

Lixo como alternativa

Em um relatório de 2013,o Greenpeace indicou algumas medidas para a União Europeia substituir os biocombustíveis considerados nocivos. Por exemplo, aconselha-se que até 2020 deve-se economizar 15% da energia gasta em transporte. Para isso, eles sugerem que se invista em novas tecnologias que aumentem a eficiência dos transportes e diminuam a emissão de gases estufa no processo de refino de combustíveis a base de óleo e gás. Além disso, deve-se privilegiar os sistemas por trilhos, em vez de por rodovias.

Outro objetivo é a limitação do uso de terras voltadas à produção de biodiesel, visando chegar à zero em 2020. Também aconselham aumentar em 3% a produção de energia através do lixo orgânico e produzir 1% a mais de energia elétrica renovável para os transportes rodoviários e ferroviários.

Mas enfim, a biomassa pode ser utilizada de maneira sustentável? Segundo o Greenpeace, há duas situações. Existe a produção descontrolada que piora as emissões de gás carbônico e desmata áreas florestais e também existem formas não prejudiciais à natureza. Eles consideram que é recomendável apenas se utilizar das sobras de outras plantações e fábricas, ou seja, de fontes que não necessitam de novas terras para a produção.

Fotos: Shutterstock


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