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Energias Renováveis

Os bons ventos de Canoa Quebrada

Canoa Quebrada, no Ceará, é umas das principais regiões geradoras de energia eólica do país, mas o setor de turismo reclama de impactos
Bruno Torres
27/09/19

Com dois parques de captação, a praia de Canoa Quebrada, em Aracati (CE) é umas das principais fontes de energia eólica do país. A tradução do nome da cidade não poderia ser mais fiel à realidade: Aracati é uma palavra indígena que significa bons ventos. Tanto é que, por lá, muitos ainda preservam um antigo costume de colocar uma cadeira na frente da casa para esperar o agradável “vento de Aracati”. De vez em quando ele sopra bem forte, mas em geral é um refrescante alívio para as altas temperaturas do Nordeste brasileiro.

Não por acaso, Canoa Quebrada é pioneira na produção brasileira de energia eólica. Os primeiros parques de captação do país foram construídos lá à beira-mar. Um deles, em operação desde 2008, tem capacidade instalada de 10,5 megawatts (MW). O segundo, que iniciou atividade em 2010, possui capacidade de 57 MW. A gestão de ambos atualmente é realizada pela CPFL Renováveis.

Visão da Praia de Canoa Quebrada, Ceará. Ao fundo, aerogeradores captam vento para gerar eletricidade. No primeiro plano, uma pessoa surfa puxada por um parapent

De acordo com informações da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica entidade que representa o segmento), a energia eólica é um dos setores da economia brasileira que mais crescem. Ela prevê um crescimento de 300% em seis anos. Até 2030, a participação da energia eólica na matriz energética brasileira deve saltar de 7 GW para 23 GW. Com 45 parques eólicos em funcionamento, o Ceará tem um potencial total instalado de 1.256 MW. Quarto no ranking de estados brasileiros, seu desempenho está abaixo apenas da Bahia e do Rio Grande do Norte, que ocupa o topo da lista.

Do ponto de vista da geração de energia, especificamente os parques de Canoa Quebrada possuem potência de 58 MW. “Essa energia é diretamente conectada no Sistema Interligado Nacional, auxiliando no suprimento energético do país com uma energia limpa, renovável e competitiva”, ressalta Elbia Melo, presidente-executiva da Abeeólica.

Praia no Ceará com aerogeradores

É certo que os parques eólicos possuem uma importância energética significativa e trazem muitos ganhos ambientais, segundo a presidente da associação que representa o setor. “Além da redução da emissão de gases de efeito estufa, especialmente o CO2, há também benefícios socioambientais”, defende.

Impactos

Nessa área de geração energético, tudo é limpo, sustentável e ecologicamente correto, certo? Errado. Desde que foram instalados, os parques geraram inúmeros questionamentos na população local, entre os moradores da aldeia de pescadores, localizada em área de preservação ambiental, e que sequer possui energia elétrica pública. O setor de turismo também aponta descuido com impactos e prejuízos ao setor.

As reclamações fazem menção a problemas ambientais e sociais. “O processo de instalação destruiu dunas, aterrou lagoas, prejudicou aquíferos, desapropriou pessoas de suas casas e gerou conflitos com comunidades de pescadores”, reclama o empresário Luís Nogueira, proprietário de uma agência de viagens e de um restaurante à beira-mar em Canoa Quebrada, além de membro da Associação dos Empreendedores de Canoa Quebrada (Asdecq).

Palmeiras em Canoa Quebrada. Ao fundo, aerogeradores em área de dunas

Também da diretoria da Asdecq, o empresário do segmento de turismo Ruy Barbosa concorda que os parques eólicos causaram impactos nas dunas à época de sua construção e outros mais permanentes. “O pior impacto foi o visual”, observa. Restrições de acesso à área do parque também incomodaram. “Uma área maravilhosa de dunas, onde se fazia um dos principais passeios de buggy, foi fechada”, conta

Os parques de Canoa Quebrada, que eram da empresa Bons Ventos Geradora de Energia S/A, foram adquiridos em 2012 pela CPFL Renováveis, como parte do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). O objetivo do programa era aumentar a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos a partir de fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas.

Aerogeradores alinhados

“Em razão dos provlemas energéticos que o Brasil enfrentava na época, os empreendimentos participantes do programa foram licenciados pelos órgãos ambientais com algumas prerrogativas que exigiam para tanto a elaboração de um Relatório Ambiental Simplificado”, argumenta o diretor de Sustentabilidade da CPFL Renováveis, Tarcisio Borin. Segundo ele, os parques de Canoa Quebrada cumpriram rigorosamente todas as etapas do licenciamento, elaborado com estudos e pesquisas solicitados pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace). Borin discorda que houve impactos ambientais nas dunas ou nas atividades de turismo.

“Esse informação não procede. Os parques viraram um atrativo a mais para os turistas na região”. Ele afirma também que a CPFL Renováveis mantém uma parceria com a Asdecq e com a Associação de Bugueiros de Canoa Quebrada, no sentido de incentivar as visitas aos empreendimentos.

Fotos 1, 2 e 3: Paula Nogueira
Foto 4: Otávio Nogueira / Flickr: deltafrut / CC BY 2.0


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